MPF pede que Ibama ignore ato de Salles para reduzir proteção da Mata Atlântica

Despacho do ministro do Meio Ambiente autoriza reconhecimento de propriedades rurais em áreas de preservação ambiental

Foto: Joca Duarte / SVMA
Trecho da Mata Atlântica em São Paulo


O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Ibama que desconsidere o despacho editado pelo ministro do Meio Ambiente , Ricardo Salles , no dia seis de abril. O ato em questão autoriza o reconhecimento de propriedades rurais instaladas em áreas de preservação ambiental da Mata Atlântica em São Paulo, e o MPF argumenta que a decisão fere a Lei da Mata Atlântica .

Assinado pelos procuradores da República, Suzana Schnitzlein e Gustavo Soares, o pedido é parte de uma atuação nacional conjunta com os Ministérios Públicos estaduais, articulada pela Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do MPF (4ªCCR/MPF).

O ministro Ricardo Salles editou o despacho apoiado no Código Florestal (Lei 12.651/2012), que, segundo ele, garantiria o reconhecimento de unidades rurais estabelecidas em ares de proteção até 22 de julho de 2008. A determinação, no  entanto, conflita com a Leia da Mata Atlântica  (11.428/2006).

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No entendimento do MPF , a lei de 2006 deve prevalecer, mesmo que seja mais antiga, em razão de ter um escopo mais específico. De acordo com ela, a vegetação considerada nativa ou em regeneração no bioma deve ser preservada e não perderá essa classificação em caso de incêndio ou desmatamento . Mesmo ocupadas, essas áreas ainda estão sujeitas à fiscalização e aqueles que fazem uso delas podem ser multados ou receber outras punição..

O MPF destaca que o despacho de Ricardo Salles “pode implicar o cancelamento indevido de milhares de autos de infração ambiental e termos de embargos lavrados a partir da constatação de supressões, cortes e intervenções danosas e não autorizadas à Mata Atlântica, assim como a abstenção indevida da tomada de providência e do regular exercício do poder de polícia em relação a desmatamentos ilegais”.

Agora, o Ibama tem cinco dias para comunicar se irá acatar o pedido do MPF. Caso decida ignore a recomendação, pode ser alvo de medidas judiciais.