Desmatamento nos últimos 6 meses na Amazônia supera todo o ano de 2018 Por Planeta | Claudio Angelo | Observatório do Clima | 03/02/2020 08:28:45 Home iG › Último Segundo › Ciência › Meio Ambiente De agosto de 2019 a janeiro de 2020, área de alertas já era 3% maior do que em todos os 12 meses da série do ano retrasado, segundo dados do Inpe Foto: Divulgação/Imazon Desmatamento na Amazônia foi pior em novembro de 2019 do que em novembro de 2018 Os alertas de desmatamento na Amazônia somaram 4.707 km 2 até o dia 23 de janeiro, segundo o sistema Deter-B, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Com isso, o período de seis meses da série de 2020 já ultrapassou todos os 12 meses de 2018 (4.571 km 2 ) e de 2017 (4.640 km 2 ). Com seis meses de dados ainda a apurar, já é a terceira taxa de alertas mais alta desde a estreia do sistema, em 2016. E o que é mais preocupante: o período compreendido entre novembro e abril é geralmente o de redução no ritmo das derrubadas, devido à estação de chuvas (o “inverno”) na Amazônia . Se nada for feito para refrear as motosserras, quando a seca chegar, nos meses de maio, junho e julho, o Brasil terá mais um ano de desmatamento recorde – e bem pior do que o ano passado. O próprio ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, admitiu no final do ano passado que o governo não tem controle sobre as motosserras. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo antes da COP25, a conferência do clima de Madri, Salles havia dito que seria “uma conquista” se a taxa de desmatamento em 2020 subisse menos que os 29,5% estimados pelo Inpe para 2019. Leia também: "No olho" dos riscos climáticos, periferias têm hortas urbanas como aliadas O desmatamento na Amazônia é medido de agosto de um ano a julho do ano seguinte. Assim, quando se fala em “taxa de 2020”, está-se referindo ao período que vai de agosto de 2019 a julho de 2020. A devastação é monitorada por satélite em tempo quase real pelo sistema Deter, do Inpe . Esses dados servem para municiar a fiscalização do Ibama e pegar infratores com a boca na botija, detendo a destruição (daí o nome). Toda semana são publicados na página do Deter na internet novos dados de alertas do sistema, que permitem acompanhar a dinâmica do desmate mês a mês tanto na Amazônia quanto no cerrado. No entanto, a agilidade do Deter existe à custa de uma menor resolução. Por conta da relativa “miopia” dos satélites usados, o sistema não consegue capturar todo o desmatamento que ocorre, nem é bom em enxergar sob nuvens. Por isso, o Inpe alerta para que não se use o Deter para estimar área desmatada – apenas para analisar a tendência. O cálculo de área desmatada é feito uma vez por ano pelo Prodes, um sistema mais acurado, mas necessariamente mais lento. Aumentos expressivos Nos primeiros quatro meses do governo de Jair Bolsonaro, o Deter vinha mostrando uma queda nos alertas de desmatamento. Isso provavelmente se deveu à intensa cobertura de nuvens, que impediu as detecções do sistema. A partir de maio, o céu amazônico limpou e a taxa começou a subir. Mês a mês, foram verificados aumentos expressivos: 34% em maio, 91% em junho, 278% em julho e 224% em agosto. Na série de 2020, iniciada em agosto do ano passado, somente outubro e dezembro não registraram desmate recorde para o mês. O governo não só não fez nada para reverter a situação, como criou um novo incentivo legal ao desmatamento: em dezembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) assinou uma Medida Provisória que anistia a grilagem de terras praticada na Amazônia até o ano de sua eleição. Como a maior parte do desmatamento é resultado de grilagem (invasão de terras públicas), a MP dá um incentivo legal para a ampliação desse crime. Leia também: Após cinco meses, praias do Nordeste continuam com vestígios de óleo Pressionado pela comunidade internacional de investidores reunida em Davos neste mês, Bolsonaro tuitou que criaria um Conselho da Amazônia, coordenado pelo vice-presidente, Hamilton Mourão. Com o Ministério do Meio Ambiente desmontado, a fiscalização do Ibama subfinanciada e todo o resto do governo jogando contra, porém, o conselho, se for mesmo criado, terá eficácia limitada. Link deste artigo: https://ultimosegundo.ig.com.br/ciencia/meioambiente/2020-02-03/desmatatamento-nos-ultimos-6-meses-na-amazonia-supera-todo-o-ano-de-2018.html