Albatrozes não inspiram apenas poetas e marinheiros antigos. Cientistas do Centro de Estudos Biológicos de Chizé (CNRS/Universidade La Rochelle, da França) e da Universidade de Liverpoool (Reino Unido) fizeram uso dessas criaturas majestosas com suas enormes envergaduras para detectar barcos de pesca que não possuem um sistema de identificação automática (AIS, na sigla em inglês) no sul do Oceano Índico . Os resultados da experiência foram apresentados na revista “ Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) “.
As características desses pássaros são muito interessantes para a missão dos cientistas. Eles voam grandes distâncias e são particularmente atraídos por barcos de pesca. Isso os torna candidatos perfeitos para o programa Ocean Sentinel, estabelecido pelos pesquisadores em colaboração com equipes da reserva natural francesa e da Sextant Technology da Nova Zelândia.
Com quase 170 albatrozes equipados com loggers (aparelhos de identificação presos aos pássaros) por seis meses, o projeto Ocean Sentinel monitorou mais de 47 milhões de quilômetros quadrados do Oceano Antártico, fornecendo a primeira estimativa da proporção de navios de pesca não declarados que operam nessa região. Os pesquisadores descobriram que mais de um terço dos barcos encontrados em águas internacionais não puderam ser identificados.
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Identificação pelo radar
Os registradores do Ocean Sentinel usam um sistema Argos, um GPS e um detector de radar em miniatura exclusivo. Porque, mesmo que as embarcações ilegais não usem seus AIS, elas precisam de um radar para navegar. Quando um albatroz se aproxima de um barco, seu logger detecta o sinal de radar emitido e indica sua posição diretamente aos cientistas. Se não corresponder à posição de um navio identificado pelo AIS, em águas nacionais o barco poderá estar envolvido em atividade ilegal.
Desenvolvido como parte de um programa europeu, o ERC Proof of Concept, com o apoio do Institut Polaire Français Paul-Emile Victor, o Ocean Sentinel incentiva o desenvolvimento de inovações que possibilitam a coleta de dados independente para conservação graças aos animais. Já na fase de testes na Nova Zelândia e no Havaí, a tecnologia desenvolvida também poderá ser adaptada para outras espécies marinhas, como tubarões e tartarugas.