Racismo na habitação intensifica ondas de calor mortais nos EUA, diz estudo
Bairros localizados em "ilhas de calor" sofrem com as mudanças climáticas
O racismo estrutural na política habitacional dos EUA deixa a população negra e mais pobre vulnerável a ondas de calor mortais, segundo estudo feito pelo Museu de Ciência da Virgínia e da Universidade Estadual de Portland. A pesquisa levanta a questão de como bairros mal planejados apresentam maiores riscos aos seu moradores em tempos de mudanças climáticas.
A tendência é que nos próximos anos as ondas de calor sejam cada vez mais intensas e frequentes, fato que leva a grandes preocupações. De acordo com dados do Centro de Controle de Doenças, o calor extremo mata centenas de pessoas por anos nos EUA, mais do que desastres como furacões, tornados e enchentes.
Os negros e mais pobres estão em situação de maior risco por causa dos lugares onde a maioria deles mora. O novo estudo mostra que esses lugares tem menos espaços verdes e muito concreto, o que costuma transformá-los em “ilhas de calor”, fenômeno climático de elevação de temperatura típico da área urbana.
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“Este estudo é um exemplo de como o racismo estrutural na habitação compõe riscos ambientais, climáticos e à saúde. O código postal ainda é um poderoso indicador de saúde e bem-estar , a vulnerabilidade ambiental mapeia de perto a injustiça racial”, explicou o Dr. Robert Bullard, professor de planejamento urbano e ambiental pela Texas Southern University.
Sem investimento
No início dos anos 1930, algumas vizinhanças, em sua maioria de afro-americanos, eram classificadas com linhas vermelhas, o que os caracterizava como locais de risco para se fazer investimentos e impróprios para empréstimos e seguros de habitação . O método de avaliação foi banido apenas em 1968.
Segundo a pesquisa, a negligencia de administrações municipais em relação ao suporte aos bairros carentes, durante o meio do século 20, faz com que, hoje, essas sejam as áreas mais quentes em 94% das 108 cidades analisadas. “Esse padrão sistemático sugere um sistema de planejamento lamentavelmente negligente que privilegia comunidades mais ricas e mais brancas”, afirmou Vivek Shandas , professor de planejamento urbano da Universidade Portland.
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“Conforme as mudanças climáticas trazem ondas de calor mais quentes, frequentes e longa, os mesmos bairros historicamente desassistidos, muitas vezes onde família de baixa renda e comunidades negras ainda vivem, vão sentir mais o impacto”, completa Shandas.
Calor extremo
Dados mostram que a cada ano, 65 mil norte-americanos procuram a emergência médica por exposição excessiva ao calor, com uma média de 600 mortes. Especialistas estimam que esse número irá aumentar nos próximos anos, principalmente entre grupos vulneráveis, como crianças, idosos e moradores de comunidades de baixa renda, além daqueles com doenças como o asma.
No Brasil, as ondas de calor também preocupam. Uma pesquisa recente publicada na revista PLOS Medicine, por exemplo, inclui o Brasil entre os países que mais seriam afetados pelo aumento no número de mortes por ondas de calor. A projeção é que entre 2031 e 2080 o aumento seja de até 75% em relação ao período de 1971 e 2020.