ES: Ilha da Trindade tem águas contaminadas por microplásticos

Pesquisa da Ufes encontra mais de 300 partículas em poucos litros de água em um dos locais mais isolados do Brasil

Coleta de amostras de sedimentos marinho e terrestre
Foto: Reprodução/ Gustavo Zambon/ Ufes
Coleta de amostras de sedimentos marinho e terrestre
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Nem mesmo os ambientes mais isolados do planeta estão livres da poluição plástica . Uma equipe da Universidade Federal do Espírito Santo ( Ufes ) identificou mais de 300 partículas de microplástico em apenas alguns litros de água do mar que banham a Ilha da Trindade, no meio do Atlântico, a cerca de 1.200 quilômetros de Vitória, no Espírito Santo .

A descoberta faz parte do projeto “Avaliação da poluição por resíduos de plástico usando diferentes matrizes ambientais em ilha oceânica – Ilha de Trindade/Brasil ”, conduzido pelo Laboratório de Biologia Costeira e Análise de Microplástico ( LaBCAM ) da Ufes, sob coordenação da bióloga Mercia Barcellos.

“Esse resultado nos mostra que nem mesmo ambientes remotos e com baixa atividade humana estão protegidos desses poluentes” , afirma a bióloga e colaboradora do LaBCAM Mariana Otegui, que integrou a expedição.

Pesquisa em águas, sedimentos e organismos

Além da água, a equipe também coletou amostras de sedimentos marinhos e terrestres, além de organismos nativos, como gastrópodes e caranguejos das espécies Johngarthia lagostoma e Grapsus grapsus. Até mesmo teias de aranha foram recolhidas para investigar a presença de partículas plásticas suspensas no ar.

No momento, os pesquisadores estão em fase de processamento e caracterização das amostras, buscando identificar a forma, a cor e a composição química dos microplásticos, a fim de rastrear suas possíveis origens. 

Segundo Otegui, esses resíduos apresentam diferentes formas, sendo os mais frequentes os filamentos e fragmentos, geralmente oriundos da degradação de plásticos de maior porte.


Outra forma de classificação leva em conta a cor e a composição química do polímero, o que permite rastrear a possível origem dos microplásticos, como PET, PVC, Nylon, entre outros materiais.

“São várias etapas de processamento de amostras. Terminamos, até o momento, a análise da água do mar, onde encontramos uma maior quantidade de filamentos azuis. Esse material pode estar associado às redes de pesca” , afirma.

Impacto quase invisível

Os microplásticos são partículas com menos de 0,5 milímetro, invisíveis a olho nu, mas cada vez mais presentes em todos os ecossistemas.

Eles podem ser classificados como primários, no qual, são produzidos intencionalmente nesse tamanho, usados em cosméticos e produtos de limpeza. E os secundários, resultantes da degradação de plásticos maiores, como embalagens e utensílios.

Estudos recentes já apontaram a presença dessas partículas até no corpo humano — em tecidos como placenta, sêmen e cérebro — levantando preocupações sobre os impactos à saúde.

Missão desafiadora

A expedição partiu do Rio de Janeiro em 14 de julho, a bordo do Navio de Patrulha Oceânica ( APA ) da Marinha do Brasil, já que o acesso à Ilha da Trindade é restrito a militares e pesquisadores do Programa de Pesquisas Científicas na Ilha da Trindade ( ProTrindade ).

Foram dez dias de missão, dos quais seis embarcados e quatro em terra firme, com participação dos pesquisadores do LaBCAM Gustavo Zambon e Mateus Marçal (alunos do curso de Ciências Biológicas), Bruna Luz (estudante do curso de Oceanografia) e Mariana Otegui.

O projeto do LaBCAM é desenvolvido em parceria com o Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento de Metodologias para Análise de Petróleos (LabPetro), ambos vinculados ao Departamento de Química da Ufes. A pesquisa conta com financiamento de R$ 289.450 do CNPq, aprovado na chamada 17/2024 – Programa Arquipélago e Ilhas Oceânicas.