SPIRou, instrumento instalado no Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT) que foi utilizado pela pesquisadora
Divulgação/CFHT
SPIRou, instrumento instalado no Telescópio Canadá-França-Havaí (CFHT) que foi utilizado pela pesquisadora


Uma pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais ( UFMG ) descobriu um planeta orbitando a estrela jovem GM Aurigae , a 521 anos-luz de distância do Sol. A revelação é considerada rara porque este é o segundo caso de identificação de um  corpo celeste ao redor de um disco protoplanetário (disco de matéria em órbita de torno de uma estrela recém-formada) na história.

A astrofísica brasileira Bonnie Zaire , residente de pós-doutorado no Departamento de Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx) da UFMG que fez a descoberta. O artigo em que ela revela o feito científico foi publicado na revista de prestígio internacional Monthly Notices of the Royal Astronomical Society .

pesquisadora disse que agora "pretende monitorar novas estrelas e detectar novos sistemas planetários em torno de estrelas jovens”. Segundo ela, o objetivo final é “compreender o quão único é o Sistema Solar e até a existência de planetas com condições necessárias à vida humana".

Discos protoplanetários

A astrofísica explica que pesquisa estrelas recém-formadas há alguns anos. Uma das características destes corpos celestes é a presença de um “disco protoplanetário”, onde pode ocorrer a formação de um sistema de planetas.

Os discos protoplanetários são porções de matéria mista (sólido, líquido e gasoso) em forma de poeira e arranjadas como um disco que gira em função de uma estrela jovem, como as do tipo T Tauri ou Herbig.

Para identificar a possível existência de um corpo celeste em um desses discos, a pesquisadora usou o SPIRou, um dispositivo que fornece evidências da presença de “grupos funcionais” na estrutura de uma substância, instalado no Telescópio Canadá-França-Havaí, que opera a mais de quatro mil metros de altitude.

Muito utilizado em estudos astronômicos, a ferramenta é um instrumento óptico que analisa a luz para revelar sua composição e como ela foi afetada por campos magnéticos ou partículas.

Descoberta

A partir da medição da velocidade radial da estrela GM Aurigae, a 521 anos-luz do Sol, a pesquisadora notou uma leve oscilação gravitacional, como uma espécie de "dança". Essa técnica permitiu identificar a variação no movimento da estrela, indicando a presença de um astro massivo capaz de influenciar o seu equilíbrio.

"O método de velocidade radial consiste em observar a velocidade que a estrela tem em relação à gente. Quando se vê essa pequena oscilação no movimento da estrela, percebemos que é causada pela presença do planeta", explicou Zaire.

Novo planeta

O planeta foi denominado GM Aurigae b, que é o nome da estrela acrescido da letra "b". Ele é gasoso, tem a massa equivalente a Júpiter (318 vezes maior que a da Terra) e é do tipo "quente". Porém, a distância dele é tão grande que ainda não foi possível "fotografá-lo" com instrumentos óticos.

"O resultado legal foi que a gente observou que existem planetas do tipo 'Júpiter quente', que deveriam ser formados na parte mais longe do disco protoplanetário, mas estão próximos da estrela. Se esse planeta migra, ele tem que migrar numa escala de tempo muito curta", contou a pesquisadora.


Para efeito de comparação, a distância entre o GM Aurigae b e a estrela que ele orbita é cinco vezes menor que a distância de Mercúrio em relação ao nosso Sol e 12 vezes menor que a distância entre o Sol e a Terra.

Na prática, o astro detectado por Zaire ainda é considerado um "candidato" a planeta, pois precisa de uma confirmação independente com novos dados e outro telescópio, que podem ser coletados por ela mesma ou outro pesquisador.

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