Consumo de álcool pode ser comum entre animais, diz estudo; entenda

Artigo apontou que muitas espécies consomem álcool naturalmente presente em frutas fermentadas, o que pode ter influenciado aspectos evolutivos

Chimpanzés são uma das espécies que são expostas regularmente ao etanol
Foto: Antonio Friedemann/Pexels
Chimpanzés são uma das espécies que são expostas regularmente ao etanol

Consumir bebidas alcoólicas é um hábito muito comum entre os humanos, mas você sabia que os outros tipos de animais também podem ficar bêbados

Um estudo recente sugere que esse comportamento não é só exclusivo dos humanos, mas é muito comum entre outras espécies de animais. O artigo, publicado na revista “ Trends in Ecology & Evolution ”, aponta que muitas espécies consomem álcool naturalmente presente em frutas fermentadas, o que pode ter influenciado aspectos de sua evolução.

Normalmente, animais bêbados após ingerir frutas fermentadas frequentemente é associado a um evento acidental e raro. Porém, segundo os ecologistas responsáveis pelo estudo, essa visão é “antropocêntrica” e ignora a abundância de etanol nos ecossistemas naturais. 

O estudo revelou que diversas espécies, de chimpanzés a musaranhos, são expostas regularmente ao etanol, sugerindo que ele possa ter desempenhado um papel na evolução de suas dietas e comportamentos.

“Estamos nos afastando dessa visão antropocêntrica de que o etanol é apenas algo que os humanos usam. Ele é muito mais abundante no mundo natural do que pensávamos anteriormente, e a maioria dos animais que comem frutas açucaradas será exposta a algum nível de etanol”, afirma a Dra. Kimberley Hockings, ecologista comportamental da Universidade de Exeter. 

Surgimento do etanol


O etanol começou a surgir em grande escala há cerca de 100 milhões de anos, com a evolução das plantas com flores que produzem néctar e frutas. Quando a levedura fermenta essas frutas, elas podem atingir níveis de álcool de até 10,2% em frutas de palmeira muito maduras, embora a concentração habitual seja de 1 a 2%.

Os animais já possuíam genes para metabolizar o etanol antes mesmo de a levedura começar a produzi-lo. No entanto, a evolução parece ter refinado essa habilidade entre mamíferos e aves que consomem frutas e néctar. 

“De uma perspectiva ecológica, não é vantajoso estar embriagado enquanto você sobe em árvores ou está cercado por predadores à noite – essa é uma receita para não ter seus genes transmitidos”, explicou Matthew Carrigan, ecologista molecular do College of Central Florida. “É o oposto dos humanos que querem ficar embriagados, mas não querem realmente as calorias – da perspectiva não humana, os animais querem as calorias, mas não a embriaguez.”

Benefícios do álcool 


Além de ser uma fonte de energia, o etanol pode trazer benefícios adicionais para algumas espécies. Pesquisas mostram que o etanol tem propriedades medicinais: moscas-das-frutas, por exemplo, colocam seus ovos intencionalmente em substâncias contendo etanol, que protege os ovos de parasitas. As larvas também aumentam a ingestão de etanol quando infectadas por vespas parasitas.

“Do lado cognitivo, foram apresentadas ideias de que o etanol pode desencadear o sistema de endorfina e dopamina, o que leva a sentimentos de relaxamento que podem ter benefícios em termos de sociabilidade. Para testar isso, realmente precisamos saber se o etanol está produzindo uma resposta fisiológica na natureza”, acrescentou Anna Bowland, ecologista comportamental da Universidade de Exeter.

Alguns comportamentos observados em estudos sugerem uma ligação entre o consumo de etanol e aspectos sociais. Em um estudo de 2012, foi constatado que os machos das moscas-das-frutas aumentavam o consumo de álcool após serem rejeitados por uma parceira, enquanto fêmeas de uma espécie intimamente relacionada se tornavam menos seletivas ao escolher parceiros após consumir etanol.