Eventos climáticos extremos estão ficando cada vez mais frequentes. No último final de semana, uma nevasca intensa na Cordilheira dos Andes bloqueou estradas e deixou deixou centenas de pessoas presas sob um frio de -18º C. No extremo oposto, incêndios vêm tomando conta de parte da Europa , onde as temperaturas ultrapassam os 40º C. Em menos de uma semana, mais de mil pessoas morreram na Espanha e em Portugal devido às altas temperaturas. Os países chegaram a registrar, respectivamente, 47º C e 46º C.
Segundo o climatologista Wilson Roseghini, professor e pesquisador do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), os dois eventos não estão diretamente relacionados, uma vez que estão ocorrendo em lugares muito distantes entre si e são situações distintas. Mas, é possível fazer um paralelo entre os fenômenos e a mudança climática.
Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, o aumento da temperatura global provoca também eventos de frio extremo, e não só eventos de calor, como o que vem acontecendo na Europa. Inclusive, explica o professor, é por isso que, hoje, o termo "aquecimento global" caiu em desuso e foi substituído por "mudança climática" ou "crise climática". A grande maioria dos locais tendem a ficar mais quentes, sim, mas, em alguns pontos do planeta, é possível que haja uma intensificação de episódios de frio extremo.
"No Brasil, por exemplo, os invernos têm sido cada vez mais curtos. Atualmente, apesar de o país estar passando pela estação mais fria do ano, faz calor na maior parte do território nacional. A tendência é que haja eventos pontuais e curtos de frio extremo dentro de invernos muito quentes", afirma.
Roseghini explica que, apesar de o fenômeno La Niña estar ativo, ele, por si só, não provoca eventos climáticos extremos. O fenômeno, caracterizado pela diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical e Oriental, gera uma série de mudanças significativas nos padrões de precipitação e temperatura. Mas, trata-se de algo que não foi criado pelo homem e existe há milhões de anos. Uma "variabilidade natural do planeta", como define o professor. É possível afirmar, no entanto, que a mudança climática esteja intensificando os efeitos da La Niña, assim como outras variabilidades, sobre diferentes partes do mundo.
"Se a La Niña favorece a ocorrência de ondas de calor na Europa, com a mudança climática, a tendência é que essas ondas sejam mais intensas e durem mais tempo. A mesma lógica vale para eventos de frio extremo na Cordilheira dos Andes, estiagens no Sul do Brasil e outros fenômenos", diz.
O professor alerta que, se a população mundial seguir emitindo a mesma quantidade de gases de efeito estufa pelos próximos anos, a propensão é os efeitos do aquecimento global sejam sentidos cada vez mais intensamente. Ele ressalta, ainda, que os reflexos sentidos no planeta atualmente são resultado de emissões causadas há décadas. Portanto, mesmo que as emissões fossem reduzidas drasticamente hoje, isso só teria um reflexo positivo daqui a muito tempo. Pesquisas apontam que o gás carbônico pode durar até 100 anos na atmosfera.
Em agosto do ano passado, o IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), órgão da ONU, publicou um relatório sobre o aquecimento global que aponta como a temperatura da Terra está avançando mais rapidamente do que o esperado, em grande parte, devido à ação humana. Em um cenário pessimista, isto é, se a população mundial aumentar ou mantiver a emissão de combustíveis no mesmo patamar dos dias atuais, até 2100, a temperatura poderá aumentar, em média, 4,4º C. Já se as reduções forem reduzidas, estima-se que esse valor seja de 1,5º C.
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