Mutação pode explicar por que algumas pessoas não conseguem dormir cedo
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Mutação pode explicar por que algumas pessoas não conseguem dormir cedo


Um novo estudo, realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, EUA, mostra como uma mutação genética altera o funcionamento do relógio biológico, causando a chamada  Síndrome do Atraso das Fases do Sono . A pesquisa foi publicada nesta semana no periódico científico Proceedings of the National Academy of Sciences.

Esse distúrbio faz com que algumas pessoas só consigam dormir tarde da noite (geralmente depois das 2h), com dificuldade para se levantarem pela manhã. É o caso do analista de sistemas Guilherme Gonçalves, 30. "Muitas vezes, até sinto sono, mas continuo em um estado de agitação, mesmo com o corpo em repouso. Acabo dormindo sempre depois das duas da manhã", conta. 


Em 2017, os cientistas descobriram uma mutação surpreendentemente comum que causa essa condição, alterando um componente-chave do relógio biológico humano, que regula o ritmo circadiano - período de cerca de 24 horas sobre o qual o ciclo biológico de quase todos os seres vivos se baseia. 

Esses ciclos, em praticamente todos os aspectos de nossa fisiologia, são impulsionados por interações de proteínas em nossas células. Se variações genéticas causarem mudanças em sua composição, há distúrbios da fase do sono . Basicamente, um ciclo mais curto faz com que as pessoas durmam e acordem mais cedo do que o normal, enquanto um ciclo mais longo faz com que as pessoas fiquem acordadas até tarde.

Segundo Carrie Partch, autora do estudo e professora de química e bioquímica da universidade americana, as mutações conhecidas por alterar o relógio corporal servem de pistas para a compreensão dos mecanismos por trás do  ciclo circadiano. Embora sejam raras, a variante genética identificada no estudo de 2017 foi encontrada em cerca de uma a cada 75 pessoas de ascendência europeia.

A mutação afeta as proteínas criptocromo , duas das quatro proteínas do relógio biológico que formam um complexo que ativa os genes das outras duas e se combinam para reprimir a atividade do primeiro grupo, desligando-se e reiniciando o ciclo. 

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Mas a mutação faz com que uma pequena parte da "cauda" da proteína criptocromo seja deixada de fora e, segundo os estudos no laboratório de Partch, isso muda a forma como o criptocromo se liga ao complexo de proteínas. "Ainda temos muito que entender sobre o papel do tempo prolongado do relógio no início do sono atrasado, mas essa mutação é claramente uma causa importante do comportamento noturno em humanos ", afirma Patch.

Tratamentos

As novas descobertas revelam os mecanismos moleculares envolvidos e apontam o caminho para possíveis tratamentos . "Isso nos diz que devemos procurar medicamentos que façam as conexões necessárias para regular o funcionamento [do ciclo circadiano]", explica Patch.

O analista de sistemas Guilherme Gonçalves, 30, não consegue dormir antes das 2h
Arquivo pessoal
O analista de sistemas Guilherme Gonçalves, 30, não consegue dormir antes das 2h


Essa é a esperança de pessoas como Guilherme. Apesar de não sentir efeitos colaterais como sono ou cansaço durante o dia, ele teme que a condição prejudique sua saúde no futuro . "Mesmo em processo de emagrecimento com academia e reeducação alimentar, tenho certeza que isso não me faz bem. Posso não sentir nada diferente agora, mas temo que no futuro eu tenha problemas", relata. 

Alternativas

Não são apenas as mutações genéticas que podem contribuir para um sono desregulado. De acordo com a psicóloga Vanessa Souza, fatores ambientais e o estilo de vida  também pode influenciar esse quadro. "A pessoa pode até ser mais suscetível para apresentar a condição, mas, se ela vive em um ambiente de estressa, come mal, não pratica atividades físicas e não tem tempo para descansar, é muito provável que o sono desrregulado piore com o tempo", explica. 

Para a especialista, por mais difícil que possar ser organizar o dia a dia para isso, é necessário lembrar que o sono tem papel fundamental na saúde . "Devemos ter esse objetivo como prioridade e, dentro da possibilidade de cada um, tentar evitar o surgimento de 'gatilhos' que possam piorar o quadro. Para isso, é importante buscar a ajuda de profissionais", pontua Vanessa.

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