Estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) concluiu que os raios – aquelas descargas elétricas que vêm para o chão e podem causar prejuízos e mortes – tiveram redução significativa na capital paulista com a queda da poluição no período de isolamento social, uma das medidas tomadas para conter a pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2).
Leia também:
- Em meio a ameaças, apoio da população à democracia bate recorde, diz Datafolha
- Dois prefeitos do interior de SP morrem de coronavírus na última semana
- Com comércio aberto, isolamento social cai e chega a 39% neste sábado no Rio
Os pesquisadores analisaram dados de descargas atmosféricas de 20 de março a 2 de abril de 2020, período em que houve queda de cerca de 20% da poluição na cidade de São Paulo, de acordo com observações feitas em diversas estações pelo projeto World Air Quality.
Você viu?
“O que nós encontramos foram resultados muito surpreendentes: enquanto, nos três anos anteriores em que houve raios nesse período, a percentagem das descargas que atingiam o solo [variou] de 40% a 63%, neste ano, só 4% das descargas atingiram o solo, e 96% ficaram dentro das nuvens. Então houve uma diminuição dramática de valores”, disse o coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe, Osmar Pinto Junior.
Segundo o Elat, o estudo confirma que as chamadas "supertempestades, com mais de 3 mil raios, que têm ocorrido em São Paulo nos últimos anos são consequência não somente do aumento local da temperatura, conhecido como 'ilhas de calor', mas também do aumento da poluição na cidade".
O estudo comparou os anos de 2015, 2016 e 2018, quando houve tempestades no mesmo período que o analisado em 2020. “Em 2017 e 2019, não houve raios nesse período, então esses anos não foram usados. Não teve tempestade [no período], porque já é final de verão, as tempestades já não são tão comuns em São Paulo”, explicou o pesquisador.
Para Osmar Pinto Junior, o resultado confirma as evidências que já existiam de que a poluição afeta a ocorrência de raios , e este é um alerta para que os cientistas continuem a pesquisar como a poluição e os raios estão associados. “A variação foi muito grande na quantidade de raios que atingiram o solo, o que reforça a ideia de que realmente, para que se possa compreender esse fenômeno dos raios nas grandes cidades, é preciso investigar o papel da poluição. A gente sabe um pouquinho a respeito de como a poluição afeta os raios, mas existem ainda detalhes que a gente não sabe.”
O pesquisador explicou que, em linhas gerais, os raios são formados a partir do choque de partículas de gelo dentro das nuvens de tempestade. Ele disse que as partículas de gelo são alteradas em conseqência dos níveis de poluição. “A gente sabe que existe uma conexão entre essas coisas. Agora, como essa conexão ocorre, os detalhes dessa conexão, é uma coisa que a ciência ainda precisa estudar”.