Filha de neandertal e denisovano, 'menina híbrida' é descoberta por cientistas

A partir da análise do DNA mitocondrial de um osso, cientistas descobriram que a mãe da mulher era uma neandertal, enquanto seu pai era denisovano

A descoberta foi feita após análises do fragmento de um osso, que eram da filha de um neandertal e um denisovano
Foto: Reprodução/Nature
A descoberta foi feita após análises do fragmento de um osso, que eram da filha de um neandertal e um denisovano

Análises sobre o osso de uma mulher, morta há 90 mil anos, revelaram se tratar de uma ‘híbrida’ de duas linhagens diferentes: metade neandertal e metade denisovana. Segundo informações da Nature , essa é a primeira vez que cientistas conseguem identificar um indivíduo descendente de dois grupos de hominídeos distintos.

Leia também: Pegadas de dinossauro de 145 milhões de anos são encontradas na Costa Jurássica

As descobertas foram publicadas na revista nesta quarta-feira (22), após a condução de uma série de estudos sobre um fragmento de osso encontrado nas Montanhas Altai da Sibéria, na Rússia. A pesquisa da ‘ neandertal -denisovana’ foi realizada por um grupo liderado pela paleontogeneticista Viviane Slon e Svante Pääbo, ambos do Instituto Max Planck de Antropologia Evolucionária em Leipzig, na Alemanha.

“Encontrar uma pessoa da primeira geração de ancestrais mistos desses dois grupos é absolutamente extraordinário”, disse Pontus Skoglund, geneticista de populações do Instituto Crick Francis, em Londres. “É uma ótima ciência associada a um pouco de sorte”.

Os especialistas já sabiam que diferentes grupos de hominídeos faziam sexo e geravam descendentes, tendo em vista os padrões de variação genética encontrados tanto em seres humanos da atualidade quanto em materiais fossilizados. Assim, a interação era um fato conhecido, mas nunca antes encontrados restos dessa primeira geração.

Antes disso, o mais próximo de uma evidência física desta associação, era o DNA de um homo sapiens com ancestrais neandertais, de quatro a seis gerações anteriores a ele.

Leia também: Fóssil de tartaruga sem casco de 228 milhões de anos é encontrado na China

Descoberta do osso neandertal-denisovano

Foto: Entres sang les Daynes
Os descendentes de um neandertal e um denisovano podem ter sido pessoas inférteis, segundo uma pesquisadora


O osso da menina, batizada de Denny, foi encontrado há muitos anos. Contudo, ele só começou a ser avaliado em 2016, quando uma datação por radiocarbono determinou que o material pertencia a um hominídeo que viveu há 50 mil anos. Novas análises revelaram que 90 mil anos seria uma data mais precisa.

Depois disso, o DNA mitocondrial do osso foi sequenciado e comparado com outros materiais genéticos humanos. Foi assim que os cientistas perceberam o padrão dos genes e descobriram que a mãe da mulher em questão era do grupo dos neandertais, tendo em vista que o DNA mitocondrial é herdado apenas do lado materno.

No último estudo publicado, os especialistas detalharam ainda mais o DNA e o compararam com o de outros hominídeos. Cerca de 40% do material coincidiram com o de neandertais, como já era esperado, enquanto os outros 40% coincidiram com o de denisovanos. Outros testes genéticos revelaram que o osso era de uma menina de ao menos 13 anos de idade.

A partir desse momento, o grupo passou a trabalhar com duas possibilidades. A menina seria uma híbrida ou filha de pais que já possuíam o DNA de ambas as linhagens.

“Quase pegamos os dois transando”

Foto: Frank Vincentz/ Uniesert
Análises do fragmento do osso revelaram que seu DNA possuía 40% de genes de neanderthal e 40% do desonoviano

Para descartar uma das alternativas, os pesquisadores foram até sítios arqueológicos tanto de neandertais quanto de denisovanos . Comparando o osso de Denny com outros fragmentos, perceberam que para conseguir tal configuração genética, a menina teria que ter sido concebida por dois humanos de grupos distintos.

“Nós quase pegamos os dois transando”, brincou Pääbo sobre o caso. A criança foi confirmada como uma híbrida também por cientistas que não trabalharam na pesquisa, como Kelley Harris, geneticista de populações na Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

Para a pesquisadora, é muito provável que os encontros sexuais entre os dois grupos de hominídeos tenha sido muito comum. Ela também apontou que também há a possibilidade desta geração de híbridos ter sido infértil, já que a genética das duas populações permaneceu geneticamente distinta por centenas de anos.

Neandertais e denisovanos: encontros muito raros

Foto: Neanderthal Museum (Mettmann, Germany)/Divulgação
Menina encara estátua de neandertal em museu na Alemanha; encontro entre hominídeos pode ter sido comum


Pääbo levantou uma outra questão sobre o comportamento sexual dos grupos. Para ele, os encontros entre neandertais e denisovanos eram extremamente raros, tendo em vista que só foram encontrados vestígios do segundo grupo em uma caverna no leste da Rússia , já na fronteira com o Cazaquistão.

Leia também: Mais velhos que dinossauros, celacantos podem ser extintos por causa de petróleo

Enquanto isso, boa parte dos restos de neandertais estavam em diversas localidades da europa ocidental, os dois só dividindo a região das Montanhas de Altai. “Creio que qualquer neandertal que vivia a oeste dos Montes Urais [que separa a Rússia em leste e oeste] nunca viu um denisovano em sua vida”, apostou o cientista.