Grupos de cicloativistas, como o Bike Anjo, ajudam novos ciclistas a enfrentar o medo e a insegurança de percorrer a cidade em bicicletas
Coragem, determinação e disposição de mudar a caótica situação do trânsito de São Paulo foram as razões que a publicitária Andrea Onishi, de 36 anos, e o analista de sistemas Anderson Rodrigues, de 29, citaram como decisivas para que eles deixassem seus carros na garagem e considerassem a bicicleta como um meio de transporte. Durante a Semana da Bicicleta em São Paulo, a cidade se tornou palco de discussões a fim de estimular o uso da bicicleta na cidade.
Caso a apreensão venha impedir um ciclista novato de enfrentar as ruas, há possibilidade de solicitar uma ajuda quase ‘divina’ de um grupo de cicloativistas da capital, o Bike Anjo ( http://bikeanjo.com.br ) - com aproximadamente 120 voluntários dispostos a deixar o trânsito mais democrático e viável para os aspirantes a ciclistas em São Paulo. Ao todo, os “anjos da guarda” podem ser encontrados em 25 cidades em vários Estados do País – como Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Sergipe, Pernambuco, Bahia, Maranhão e outros. Diante do sucesso da iniciativa, o grupo já até alcançou uma filial em Lisboa, Portugal.
(Veja um exemplo de aula prática oferecida voluntariamente pelo grupo. Vídeo: Renata Falzoni e João Lacerda)
Para o consultor de negócios e um dos idealizadores do projeto Bike Anjo, João Paulo Amaral, de 24 anos, a comunidade de ciclistas tem crescido e com isso os “pedidos de ajuda” se tornaram comuns. “Recebemos muitas solicitações de pessoas que querem abandonar os carros. Porém, com a quantidade de veículos e da velocidade que eles trafegam, isso não é visto como fácil.”
Ele e outros ciclistas do Bicicletada, outro grupo atuante na capital, decidiram então criar um canal de comunicação “para acompanhar quem quer começar”. O projeto, segundo Amaral, pode assustar pelo “excesso de generosidade” – já que oferece total assistência ao interessado sem nenhum custo. Além de oferecerem ajuda para elaborar um circuito adequado, com vias mais fáceis e livres de trânsito, os voluntários auxiliam na compra de uma bicicleta apropriada para o tipo físico e realidade do ajudado.
Pedir por um “anjo da guarda”
O processo de solicitar um anjo é simples e só leva alguns minutos. No site do grupo há o espaço onde o interessado pode preencher um formulário pedindo pela “proteção” de um experiente ciclista. Desde a criação do canal, o grupo já acumulou cerca de 200 solicitações. E foi exatamente esta ajuda que colocou nas ruas da capital mais dois novos ciclistas: Andrea e Anderson.
Paulistana e muito ativa, Andrea Onishi decidiu no início de 2010 que mudaria os seus hábitos de locomoção para o trabalho. Já que, para ela, “ter mais um carro no trânsito com apenas um passageiro era inaceitável”. O primeiro passo, segundo ela, foi abandonar o carro pelo ônibus. “Pensei que sofreria muito sem meu carro. Mas foi tão tranquilo que senti que poderia fazer mais por mim”, conta.
Durante uma busca na internet por dicas de como lidar com o trânsito em duas rodas, Andrea encontrou o site do Bike Anjo. “Preenchi o formulário mais esperando dicas ou algo bem improvisado”. Em 15 dias, ela recebeu um email do grupo já com uma rota pré-estabelecida entre os bairros Jardins, na zona sul, e Pinheiros, zona oeste.
“Discutir o trajeto antes de me aventurar foi fundamental”, conta. Andrea relata que todo o trajeto foi feito em “ritmo lento” com a ajuda de dois anjos, no caso João Paulo Amaral e Renata Falzoni. “Eles ensinaram como me posicionar entre os carros, como sinalizar e não ser tímida no trânsito.” Entre outras dicas, Andrea enfatiza que aprendeu a evitar as avenidas mais movimentadas da cidade.
"Foi uma miniaula prática. Cheguei ao meu trabalho me sentindo superbem, com energia e disposição. Meu dia passou a ser mais produtivo”, explica. Após seis meses, Andrea continua encarando o trânsito de São Paulo para ir ao trabalho e garante: “Se eu soubesse que seria assim tão fácil, teria começado bem antes”.
Agente da mudança
Natural de Mococa, a 270 km da capital paulista, Anderson pediu ao grupo uma rota especial para que ele pudesse, com segurança, chegar ao trabalho. “Como sempre me interessei pelo tema bike e comportamento no trânsito, comecei a trocar ideias com o grupo. Eu tinha muita insegurança em relação aos motoristas”, explica.
A fim de superar suas próprias expectativas, com a ajuda dos “anjos”, Anderson elaborou uma rota de 23 km entre sua casa, no bairro da Santa Cecília, centro, até o Centro Empresarial na ponte João Dias, zona sul. “Foi incrível como descobri São Paulo através da bicicleta. Descobri parques, interagi com pessoas, tornei o meu dia muito mais agradável”, diz contando que não sente falta do estresse que sentia ao dirigir na capital.
Ao observar o próprio ambiente de trabalho, Anderson percebeu que a empresa não possuía um bicicletário. “Decidi ligar e ir atrás de um responsável. As empresas podem ser parceiras nesta mudança de hábitos”, diz. Quando comunicou o seu plano para os anjos voluntários, houve uma manifestação nas redes sociais o ajudando a pedir por bicicletários em empresas. Diante da pressão, neste mês, a companhia ligou para Anderson para dizer que o projeto está em andamento.
Por isso, o grupo Bike Anjo considera o analista de sistemas mais do que um simples ex-aluno. “Nós o vemos como um agente da mudança”, explicou o diretor do grupo. Para Anderson, tal título é exagero e “muita bondade” dos novos amigos.
Só para as mulheres
Pedalinas é um grupo de garotas que pegaram suas bicicletas e sairam pelas ruas de São Paulo. Com encontros mensais em todo o primeiro sábado do mês, a Pedalinas se e reúnem na praça do Ciclista, na região da Paulista com a Consolação, para falar sobre mulheres enfrentando o trânsito de bicicleta.
Elas são contra o título de “frágeis” e não consideram a bicicleta como algo exclusivo para atletas vestidos de malhas esportivas. Para saber mais, acesse: http://pedalinas.wordpress.com/