Troca de acusações, ataques ríspidos, apresentação de propostas e, em raros momentos, até ironias de lado a lado. No primeiro debate do segundo turno das eleições de São Paulo , Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito, e Guilherme Boulos (PSOL), que tenta a sua primeira eleição a um cargo executivo, mantiveram os scripts de suas respectivas campanhas durante o debate para se diferenciarem do oponente. Nunes quer ser visto como “experiente”; já Boulos fala em “mudança”.
O encontro foi promovido e exibido pela TV Band com início às 22h45 de segunda-feira (14) e término às 0h20 da madrugada de terça-feira (15). Nos três blocos, os candidatos, conforme as regras acertadas entre seus respectivos assessores, puderam fazer perguntas entre si, além de responderem a perguntas de jornalistas do Grupo Bandeirantes, no segundo bloco.
No primeiro turno, os dois candidatos foram os mais votados, em uma disputada bastante acirrada com o candidato Pablo Marçal (PRTB). Antes do pleito do segundo turno, estão previstas as realizações de ao menos mais três debates entre os candidatos à cadeira de prefeito de São Paulo: na próxima quinta-feira, às 10h (UOL/Folha de S.Paulo/RedeTV!); no próximo sábado, às 21h (TV Record); e em 25 de outubro, às 22h (TV Globo)
Apagão de energia e zeladoria domina primeiro bloco
No primeiro bloco, os dois candidatos tiveram que responder uma pergunta feita pelo mediador, o jornalista e apresentador Eduardo Oinegue, sobre zeladoria da cidade de São Paulo, duramente afetada por um temporal que deixou centenas de milhares de moradores sem energia desde a noite da última sexta-feira (11), entre outros transtornos, como ruas alagadas, árvores caídas e semáforos apagados.
Em sua resposta, Ricardo tentou se isentar de culpa e responsabilizou a falta de fiscalização por parte da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) das concessionárias de energia que atuam no país, como a Enel. Boulos, por sua vez, questionou seguidamente o atual prefeito sobre a falta de serviços de zeladoria, como poda de árvores e manutenção dos semáforos, na capital paulista.
Em seguida, os dois candidatos fizeram perguntas entre si e trocaram duras acusações, a exemplo do que vem ocorrendo durante a campanha no segundo turno.
Segurança pública e transporte
Na volta do primeiro intervalo, os candidatos responderam a perguntas feitas por jornalistas do Grupo Bandeirantes. Sobre as ações de segurança pública no centro de São Paulo, Ricardo Nunes destacou a parceria com o governador Tarcísio de Freitas e afirmou que o seu governo está tendo "tolerância zero" com a criminalidade. Boulos ironizou as afirmações do adversário e afirmou que vai dobrar o efetivo da Guarda Civil Metropolitana na cidade.
Em outra pergunta, o candidato do PSOL reafirmou que vai liberar os motoristas de aplicativos do rodízio de trânsito, para que possam trabalhar com mais tranquilidade. Nunes aproveitou a deixa para dizer que a capital recebeu cerca de 54 mil empresas, gerando mais empregos e assim aumentando a capacidade de consumo, inclusive para utilizarem serviços de transporte de aplicativo.
Os dois candidatos também puderam debater ainda sobre mobilidade na capital. De acordo com dado de um instituto de pesquisa e apresentado pela jornalista da Rádio Bandeirantes, os moradores que utilizam o transporte público despendem ao menos 2h47 do dia nesses traslados. Nunes garantiu que está investindo em obras viárias "para melhorar o fluxo" e enumerou uma série de corredores de trânsito que estão recebendo melhorias. Boulos, no entanto, questionou por que o atual prefeito decidiu investir nessas obras apenas no último ano de seu mandato.
Antes do final do bloco, houve um momento de descontração entre os opositores. Durante sua resposta, Nunes parou de falar e indagou a Boulos, que havia tossido, de forma irônica: "Você está bem?". Boulos manteve o bom humor e respondeu que estava "bem". Em seguida, trocaram um rápido abraço.
Tema saúde acirra debate entre candidatos
Mais uma vez, os candidatos puderam fazer perguntas entre si no terceiro bloco. Depois de mais uma troca de acusações e ataques ríspidos, a saúde virou pauta da discussão, quando Boulos questionou Nunes sobre a falta de remédios nos equipamentos de saúde da cidade. "Quem procura encontra remédio", devolveu Nunes, que completou citando as 19 UPAs entregues à população em sua gestão.
Boulos também questionou sobre a demora de cinco meses na fila de espera por uma cirurgia na cidade. Nunes, por sua vez, destacou a falta de conhecimento de seu adversário e criticou a atuação da gestão de Fernand Haddad, do PT, que apoia a candidatura de Boulos, nesta área.
Experiência X Mudança
Ao final do terceiro bloco, os candidatos puderam fazer suas últimas considerações na tentativa de convencer os eleitores. Nunes foi o primeiro a falar e optou por destacar sua experiência no cargo em relação ao oponente como uma vantagem significativa. "Ficou muito claro (no debate) quem tem experiência e quem não tem. Ficou claro quem tem equilíbrio e quem é extremista", afirmou. Em seguida, enumerou uma série de realizações implementadas e das que pretende implementar na cidade.
Em sua fala, Boulos, por sua vez, destacou a possibilidade de uma mudança de filosofia na administração da cidade. "Querem que você tenha medo da mudança. Fizeram a mesma coisa na eleição do Lula, dizendo que ele iria fechar igrejas. O que aconteceu? Nada." E depois emendou: "Você (eleitor) que vive em São Paulo sabe que a São Paulo real não é a do Ricardo Nunes".