Incêndios em São Paulo provocam alerta máximo em 48 cidades; duas pessoas morreram

Governo paulista e federal intensificam ações para combater queimadas e investigar causas dos incêndios

Marina Silva diz que incêndios na Amazônia, Pantanal e Bolívia são fontes da fumaça em Brasília
Foto: Redação GPS
Marina Silva diz que incêndios na Amazônia, Pantanal e Bolívia são fontes da fumaça em Brasília

onda de incêndios que devastou o interior de São Paulo deixou 48 cidades da região em alerta máximo para queimadas. Desde o início dos focos na sexta-feira (23), dois mortos e mais de 800 pessoas forçadas a deixar suas casas foram registrados pelo governo estadual. Já foram queimados mais de 20 mil hectares e contabilizados mais de 2.300 focos de incêndio em três dias, conforme informações da Defesa Civil.

Imagens de moradores mostram o céu coberto por uma densa camada de fumaça, marcando o agosto mais intenso em termos de focos de incêndio no estado de São Paulo desde 1998. A situação foi agravada pela baixa umidade do ar, pelos ventos fortes e pelas altas temperaturas.

Raquel Albrecht, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, explicou ao Fantástico, da TV GLOBO, que a combinação de calor extremo e ar seco, juntamente com fortes ventos, contribuiu para a propagação da fumaça. Ela mencionou que esses ventos ajudam a espalhar tanto a fumaça dos incêndios na Amazônia quanto a dos focos dentro de São Paulo.

"Nós tivemos rios de fumaça combinados com um estado onde a temperatura estava muito alta e também muito seco. E esses rios de fumaça vêm acompanhados de fortes ventos, que também ajudam a espalhar tanto a fumaça que vem da Amazônia, quanto a dos próprios focos de incêndio do estado de São Paulo", diz Raquel Albrecht, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

O governo de São Paulo estabeleceu um gabinete de crise para coordenar as operações de combate ao fogo. O governador Tarcísio de Freitas confirmou a prisão de duas pessoas suspeitas de envolvimento em incêndios criminosos. Ele detalhou que a situação inclui uma combinação de estiagem severa, baixa umidade, ventos fortes e ações de criminosos. O governador mencionou que houve prisões em São José do Rio Preto e em Batatais, e destacou o problema de pessoas que, ao tentar queimar resíduos, acabam agravando a situação.

"Nós temos três situações. Primeiro, a combinação de uma estiagem severa, baixa umidade relativa do ar, ventos fortes, e ai, qualquer coisa provoca uma ignição e o espalhamento desses incêndios. Nós tivemos a ação de criminosos. Ontem teve uma prisão em São José do Rio Preto, hoje uma prisão em Batatais. Um criminoso, com passagem pela policia, ateando fogo. Quer dizer, querendo agravrar a situação. As forças de segurança estão bem mobilizadas pra impedir esse tipo de ação. São aquelas pessoas que têm descarte pra fazer e querem aproveitar o incêndio pra queimar o lixo, pra queimar o resíduo e isso é inaceitável".

Em Araraquara, uma das cidades mais afetadas, um assentamento de 200 famílias viveu momentos de desespero. Bertolino Alves Neto, um agricultor local, descreveu ao programa da TV GLOBO a cena como "terrível" e relatou que sua mãe ficou desesperada. Hélio Barbosa, um pensionista, conseguiu resgatar uma égua em pânico, acalmando o animal durante a operação de resgate.

Atualmente, cerca de seis focos de incêndio ainda persistem na região, incluindo Ribeirão Preto, onde uma camada de fumaça continua a pairar sobre a cidade. Rajadas de vento de até 80 km/h contribuíram para a rápida propagação do fogo. Em Altinópolis, uma cidade próxima a Ribeirão Preto, uma festa rave teve que ser evacuada quando o fogo começou a se aproximar.

A fumaça dos incêndios causou problemas de saúde para cerca de 500 pessoas, que necessitaram de atendimento médico devido à inalação de fumaça.

O Governo Federal lançou uma força-tarefa para enfrentar os incêndios em São Paulo, no Pantanal e na Amazônia. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, solicitou à Polícia Federal uma investigação sobre a possibilidade de incêndios criminosos. Ela considerou a situação atípica e comparou o volume atual de incêndios com o "Dia do Fogo" de 2019 no Pará, destacando a necessidade de entender melhor o fenômeno atual.

"Tem uma situação atípica. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo, isso não faz parte da nossa curva de experiência na nossa trajetória de tantos anos de abordagem no fogo", disse a ministra.

"Do mesmo jeito que nós tivemos o dia do fogo, há uma forte suspeita que agora esteja acontecendo de novo. No caso do Pantanal, a gente teve ali a abertura de dez frentes de incêndios por semana. No caso da Amazônia, nós identificamos o mesmo fenômeno. E em São Paulo, não é natural em hipótese alguma que em poucos dias você tenha tantas frentes de incêndio envolvendo vários municípios", completou.

O presidente Lula antecipou seu retorno a São Paulo para acompanhar as ações contra os incêndios, e passou uma hora ouvindo as explicações do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e da ministra Marina Silva.

A Polícia Federal iniciou duas investigações para apurar as causas dos incêndios em São Paulo, devido ao impacto da fumaça nos aeroportos da região, que são de competência federal. Outras investigações já estão em andamento para os incêndios na Amazônia e no Pantanal.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, informou que serão usadas imagens de satélites para rastrear a origem dos incêndios, uma ferramenta disponibilizada pelo Ministério da Justiça.

"Para essa apuração, é importante que se diga, nós utilizamos também sistemas de satélites que o Ministério da Justiça disponibiliza à Polícia Federal e a centenas de outras agências, pra que a gente consiga, a partir das imagens, retroceder no tempo e identificar o ponto inicial dos incêndios", disse Andrei Rodrigues, diretor-geral da Polícia Federal.

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