Massacre de Realengo: Um ano depois, escola tenta superar marcas da tragédia

Unidade passou por obras e teve a segurança reforçada. “Algumas pessoas ficaram e precisam continuar suas vidas”, diz o diretor

Foto: George Magaraia
Nova fachada da Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo

Era para ser uma quinta-feira como outra qualquer. As aulas na Escola Municipal Tasso da Silveira, no bairro de Realengo, zona oeste do Rio, tinham começado às 7h30, como de costume, e todos seus alunos estavam nas salas. Uma hora depois, por volta das 8h30, a calmaria foi interrompida. Com o pretexto de que iria para uma palestra com ex-alunos, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, entrou no colégio, seguiu para duas classes localizadas no primeiro andar do prédio, matou a tiros 12 crianças, sendo 10 meninas e dois meninos, e deixou outras 12 feridas.

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Foto: George Magaraia
'Lutamos para recuperar o orgulho das crianças que estudam nessa escola', diz Luís Marduk

Quase um ano depois do massacre, ocorrido no dia 7 de abril de 2011, a Escola Municipal Tasso da Silveira está diferente, com uma estrutura moderna comparável à de colégios particulares. A unidade ganhou um prédio anexo, que possui sala de informática, biblioteca, laboratório e auditório. As salas do prédio original foram reformadas, climatizadas, passaram a contar com internet sem fio e receberam novos quadros e carteiras. Na fachada principal um imenso mosaico com azulejos pintados forma a mensagem “Escola agora”, como num chamado para superar o passado.

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“Buscamos melhorar a qualidade do serviço oferecido aos alunos e, com isso, compensar de alguma forma a grande perda que tivemos. Lutamos para recuperar alguma coisa, nem que seja o orgulho das crianças que estudam nessa escola”, disse o diretor da Tasso da Silveira, Luís Marduk, ao iG . “Continuamos nossa batalha diária para recuperar a rotina. Todas as nossas ações são voltadas para a superação”, completou.

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As salas de aula onde ocorreram as mortes são os locais da nova Tasso da Silveira onde o sentido de superação, de seguir em frente, se faz mais presente. A primeira classe em que Wellington entrou e vitimou quatro meninas não existe mais. Com as obras, orçadas em R$ 9 milhões, o local deu lugar a um banheiro e um corredor que faz ligação ao prédio anexo. A segunda sala visitada pelo assassino, onde oito crianças perderam a vida, virou um espaço destinado a alunos com necessidades especiais.

Foto: George Magaraia
Imagem feita no mesmo ângulo da câmera de segurança que registrou o dia do massacre

Segurança

Foto: George Magaraia
Um guarda municipal fica de prontidão na Escola Municipal Tasso da Silveira

A questão da segurança também foi focada no pacote de mudanças. Para começar, a entrada da escola mudou de lugar e foi cercada por grades. O novo portão de acesso permanece fechado e só é aberto por uma funcionária que exerce a função de porteira. Todos os visitantes recebem um crachá de identificação ao entrar e um guarda municipal fica de prontidão na instituição de ensino. As câmeras de segurança, que já existiam na ocasião do massacre, permanecem.

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As transformações na escola parecem ter surtido efeito. Se em 2011, logo após a tragédia, cerca de 20 alunos assustados com o episódio pediram transferência para outra escola, neste ano, o número de estudantes aumentou. De acordo com a direção, a unidade tem atualmente cerca de 1.160 alunos. No início do ano passado, não passava de 1.100. Alguns dos que tinham pedido transferência no meio do ano chegaram a voltar. Entre os professores, apenas uma segue afastada. Ela estava licenciada por causa do massacre e acabou engravidando no período.

Recomeço

Foto: George Magaraia
Mural feito com azulejos pintados por alunos contém homenagens e mensagens

Em frente à escola, a reportagem do iG ouviu uma aluna que foi alvejada por seis tiros disparados por Wellington e sobreviveu. Ela foi uma das que desistiram de estudar na Escola Municipal Tasso da Silveira após a tragédia, mas que retornaram em 2012. “Voltei porque no outro colégio não me sentia bem. Aqui tenho meus amigos, mas mesmo assim foi difícil voltar às aulas. O visual mudou, mas ainda reconheço a escola antiga”, disse ela, com um olhar triste.

Foto: George Magaraia
A Escola Municipal Tasso da Silveira tem aproximadamente 1.160 alunos, segundo a direção

“Preferia a escola como era, sem que a tragédia tivesse ocorrido. As mudanças ajudam a superar um pouco o que ocorreu, mas sabemos que a obra só foi feita por causa da tragédia”, opinou outra aluna que estudava na primeira sala que Wellington entrou. No momento dos disparos, ela havia ido à secretaria da escola ligar para a mãe porque estava se sentindo mal.

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Para Marduk, as mudanças promovidas não têm a intenção de fazer esquecer e nem de negar o que houve. “Não queremos encobrir as falhas que aconteceram. Seria ingênuo pensar que a reforma ocorreu para apagar a tragédia. Um episódio como aquele não tem como esquecer. Posso morrer com 120 anos ou ter Alzheimer que não vou esquecer o dia 7 de abril de 2011. Há a intenção de ajudar na superação porque há pessoas que ficaram e precisam continuar suas vidas”. Mesmo com as obras finalizadas, a Escola Municipal Tasso da Silveira segue em seu processo de reconstrução. Não apenas visual, mas da autoestima e da confiança de seus integrantes.

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