
Um casarão histórico localizado no bairro da Lapa , Centro do Rio de Janeiro , ameaça terminar de desabar há mais de duas semanas. Nos últimos dias, o proprietário de um restaurante vizinho ao imóvel fez uma série de vídeos explicando que o local já virou uma " tragédia anunciada ", pedindo ajuda aos órgãos públicos antes que o pior aconteça.
A fachada do casarão desabou no último dia 8, interditando a avenida Mem de Sá , uma das principais da região central da capital fluminense . Na ocasião, parte do teto e das paredes do imóvel sucumbiram, deixando o restante em um risco iminente desde então.
Em entrevista ao Portal iG , Paulo André Jannuzzi Lagoeiro , proprietário do restaurante "Lá na Criação Lapa", que fica ao lado do casarão, contou que já denunciou diversas vezes para a Prefeitura sobre os "sinais de colapso iminente". O comerciante já havia avisado do risco de queda antes mesmo do primeiro desmoronamento, no começo do mês.
A quem pertence o imóvel?

Localizado no número 197 da Avenida Mem de Sá, o sobrado é de propriedade da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (SMCRJ) , fundada pelo então imperador Dom Pedro I no século XIX.
"Pelo que eu posso perceber, é uma associação que não se renovou. Acho que hoje os membros são pessoas idosas e por algum motivo ela foi abandonando o imóvel — que por sinal era um casarão lindo —, e foi ficando abandonado já de muitos anos para cá", explicou Paulo André.
Ele também conta que o sobrado começou a mostrar sinais de que iria colapsar, com a presença de rachaduras e árvores crescendo sobre o telhado.
No Facebook da associação, podem ser encontrados diversos comentários de moradores e comerciantes da região da Lapa, pedindo providências sobre o imóvel. Há, inclusive, avisos de Paulo André sobre a possibilidade de uma tragédia, feitos antes do dia 8 de março.
Invasões de moradores em situação de rua
Antes do primeiro desmoronamento, o casarão histórico contava com três andares. De acordo com Paulo André, o terceiro andar caiu inteiro, assim como metade do segundo. Por ser uma casa que, mesmo abandonada, contava com móveis, ela se tornou alvo de furtos após a queda.
O comerciante contou ao iG que a situação é agravada pela invasão de pessoas em situação de rua, que o tempo todo entram no casarão para furtar vigas de madeira e o que mais encontrarem.
"O pessoal começou a entrar diretamente para pegar esses materiais e vender. Mesmo com a casa interditada, há um constante entra e sai de pessoas. Muitos dos materiais retirados exigem que eles batam e quebrem as paredes para removê-los. E quem faz isso, na maioria das vezes, são pessoas vulneráveis, com o raciocínio comprometido pelo uso de álcool ou drogas. Por conta dessa vulnerabilidade e necessidade, eles simplesmente ignoram a interdição", relatou o comerciante.
Lagoeiro contou que já fizeram fogueira por duas noites dentro do local, se tornando necessário o acionamento dos bombeiros para apagar o fogo.
"É como enxugar gelo. Toda vez que o poder público intervém — seja a polícia, os bombeiros ou a Defesa Civil — eles resolvem o problema por alguns minutos, mas assim que viram as costas, tudo volta ao que era antes. A solução que estão apresentando é apenas temporária, algo para dizer futuramente que tomaram uma atitude, mas, na prática, nada muda de fato. O que cobramos é uma solução real. E, se essa solução real não for possível, que ao menos seja feita a demolição imediata", afirmou.
Ações dos órgãos públicos
A proprietária do imóvel onde está o restaurante de Paulo André, Laura Jannuzzi Lagoeiro , conta que desde 2024 as rachaduras no casarão são percebidas. Em janeiro, ela esteve no Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, que trata sobre a preservação e conservação dos patrimônios da cidade, oportunidade em que foi feito um ofício para a Defesa Civil em relação ao casarão.
Outros chamados também foram feitos ao órgão público e, segundo eles informaram à proprietária, "uma faixa de plástico já bastaria para assegurar que o perigo de desmoronamento fosse afastado".
"A Defesa Civil interditou o meu prédio sem fazer nenhuma vistoria interna, causando um enorme prejuízo ao restaurante que nele funciona, e sem colocar nenhum motivo no despacho", afirmou Laura. Outro imóvel próximo também sofreu interdições, que foram derrubadas após a apresentação de um laudo técnico.
Nas redes sociais, Paulo André conta que a Defesa Civil observou o local após a queda no dia 8 e apenas colocou a fita de interdição. "Eles viraram as costas e saíram. Minutos depois, o primeiro morador de rua que passou já arrebentou aquela fitinha", disse. Confira os relatos:
O Portal iG entrou em contato com a Defesa Civil estadual, mas até a última atualização da matéria não teve retorno. Tentamos contato também com a SMCRJ. O espaço segue aberto para posicionamentos.
Atualização:
Funcionários da Prefeitura do Rio de Janeiro compareceram ao local neste sábado (29) e fecharam o acesso ao casarão com tijolos e cimento.
Por volta das 17h30 de sábado, a Prefeitura enviou uma nota ao Portal iG sobre o caso. Confira:
"Neste sábado (29/03), a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos realizou o fechamento em alvenaria da entrada do imóvel, que é privado, bloqueando o acesso de terceiros às áreas internas. A demolição do restante da fachada foi concluída em 9 de março, dia seguinte ao desabamento parcial.
A Defesa Civil Municipal também esteve no local neste sábado, em apoio a uma ação da Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) . A equipe da SMAS, porém, não localizou pessoas em situação de vulnerabilidade social no local. A Prefeitura do Rio informa ainda que estuda a implantação de um programa de recuperação de imóveis abandonados que será anunciado em breve."