Diante das contestações do perito Sami Abder sobre as circunstâncias da morte do pastor Anderson do Carmo, durante seu depoimento no Fórum de Niterói, na noite desta quinta-feira (10), a defesa de Flordelis solicitou a exumação do corpo para que fossem descartadas as sucessivas tentativas de envenenamento. O pedido foi recebido ainda no Tribunal do Júri pela juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, responsável por presidir o julgamento da ex-parlamentar e de outros quatro réus, mas foi assentado ao processo e não foi aceito inicialmente.
"A defesa da Flordelis me consultou sobre a exumação. É um procedimento válido para produzir provas. Eu estou dizendo que não houve envenenamento, não há base para isso. Os exames de sangue não indicavam a intoxicação e também não há histórico médico nenhum que indique exposição", disse Sami Abder.
Janira Rocha, advogada da pastora, disse que já sabia da alta possibilidade do pedido não ser aceito, mas mesmo assim a defesa o fez para "mostrar que a prova não foi apresentada pelo Ministério Público do Rio". Segundo ela, o pedido de exumação já havia sido feito pelo advogado que defendia inicialmente Flordelis, mas também não foi aceito na época. "Se Napoleão, cem anos depois, foi possível ver se ele foi envenenado, com o pastor Anderson do Carmo não poderia?", questionou.
Perito rebate perfurações no corpo do pastor
Sami questionou durante o seu depoimento sobre a quantidade de tiros disparados contra o pastor. "Não temos como definir se foram trinta disparos, porque a lesão pode ter duas perfurações. Um mesmo disparo pode produzir uma, duas, três e até quatro com entrada e saída. A descrição de trinta ferimentos não nos informa nada sobre o número de disparos. As feridas têm características, algumas são mais do que outras e olhando eu posso estabelecer com grau aceitável de acerto se uma ferida é de entrada ou de saída".
Durante o depoimento do perito, a defesa apresentou imagens do esquema de lesões do corpo e também fotos das perfurações no tronco do pastor. A tentativa, a princípio, seria no intuito de descredibilizar o laudo pericial feito pelo Instituto Médico Legal (IML). "Este ferimento não está no mapa de lesões, então seria um engano na descrição de um ferimento que poderia estar em cima, ou na parte de baixo. Ambos também têm características de saída", explica o perito.
O perito foi chamado pela defesa de Flordelis para depor no quarto dia de julgamento. O especialista também já atuou em julgamentos de grande repercussão midiática, como por exemplo o caso de Matsunaga e o ex-vereador Jairinho. Este fato, somado a sua participação no julgamento de Flordelis, foi contestado pelo Ministério Público do Rio durante a audiência. Na saída do Fórum, o perito disse não ter entendido a menção do MPRJ sobre suas participações em casos como esses, segundo ele, em uma tentativa de descredibilizar suas atuações.
Fim do quarto dia de julgamento
O quarto dia de julgamento dos réus Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da ex-deputada; André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos afetivos; e Rayane dos Santos de Oliveira, neta, chegou ao fim por volta das 20h desta quinta-feira (10).
A audiência será retomada na sexta-feira (11), às 9h, e deverá se estender até o fim de semana, tendo em vista que ainda faltam testemunhas para prestarem depoimento.
A primeira testemunha de acusação a depor foi a filha afetiva, Roberta dos Santos, que afirmou ter certeza de que a ex-deputada foi a mandante do assassinato de Anderson do Carmo. Em seguida, a outra filha afetiva da ex-parlamentar, Érica dos Santos de Souza e a neta Rebeca Vitória Rangel, falaram em juízo.
No período da tarde, foi iniciada a fase de depoimentos das testemunhas de defesa dos réus julgados: Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica da ex-deputada; André Luiz de Oliveira e Marzy Teixeira da Silva, filhos afetivos; e Rayane dos Santos de Oliveira, neta.
A primeira a depor foi Tayane Dias, filha afetiva da ex-deputada, que começou a ser ouvida por volta das 13h. Sua fala foi marcada por um longe bate-boca entre os advogados Janira Rocha, Rodrigo Faucz, a juíza Nearis Arce e Tayane. A confusão ocorreu no momento em que a testemunha falaria sobre abusos sexuais cometidos por Anderson do Carmo e perguntou a advogada Janira Rocha se poderia responder.
Nesse momento, a juíza Nearis Arce questionou a atitude de Tayane, que explicou que havia se referido à defensora porque não sabia se poderia falar sobre outra pessoa. A magistrada então esclareceu que Tayane deveria ter falado com ela e não com a advogada.
O segundo a depor em defesa de Flordelis foi o médico oncologista Diogo Bagano Diniz, que atendeu Simone, filha biológica de Flordelis. Em um rápido depoimento, que durou cerca de 15 minutos, ele apenas citou que Simone, sua paciente, tem problemas de câncer de pele e que, por isso, poderia ter uma progressão de pena. O terceiro foi o desembargador Siro Darlan. Durante a sua fala, Flordelis se emocionou e teve que sair da sala. Ela pediu perdão a Siro e disse ser inocente. O dia terminou com o depoimento do perito Sami Abder.
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