O marido de uma das grávidas que passaram por uma cesárea no domingo (10) no Hospital da Mulher em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, questionou o anestesista Giovanni Quintella Bezerra, de 31 anos , durante o parto da esposa. Segundo a delegada Barbará Lomba, titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, que investiga o especialista, o homem perguntou o motivo para os sedativos dados para a mulher dormir. Bezerra foi preso em flagrante no domingo pelo estupro de uma paciente. O crime foi flagrado num vídeo feito por enfermeiras.
"Ele fala que ficou na sala até o nascimento dos filhos e, nesse momento, o Giovanni disse que ela iria dormir um pouco. Nesse momento ele questiona por que ela iria dormir. “Ela vai dormir por quê? Ela estava falando comigo há pouco”. Mas, o médico disse que era padrão. Então, ele se mantém no corredor, já que ele conhece muito de seus direitos. Mas, em seguida ele desce para a enfermaria. Só na segunda que ele vê o que aconteceu e disse que “realmente estava desconfiando de alguma coisa estranha", explicou Lomba, nesta quinta-feira (14).
A primeira mulher a dar à luz no hospital no domingo chegou na delegacia pouco depois das 17h30. Em seguida, uma outra mulher, com a criança nascida na unidade, chegou na especializada. A vítima que foi filmada deve ser ouvida de forma mais discreta. O menino que nasceu no domingo é seu segundo filho.
Segundo o advogado Joabe Sobrinho, que representa a mãe solo, a cliente percebeu um comportamento estranho por parte do médico.
"Ela conta que ele quis fazer coisas que não eram de sua alçada, como por exemplo colocar a sonda nela. Ele não tinha que fazer isso, e sim o enfermeiro. Ele quis limpá-la. Não é atribuição dele e sim do enfermeiro. Ele começou a falar da tatuagem dela, que “elas eram bonitas, que as letras eram lindas”. Pelo fato dela estar com uma amiga, por ser mãe solteira, ele se aproveitou para fazer isso. Ela não sabe se houve algum ato sexual, porque ela estava apagada. Mas, a sedação foi muito forte e ela ficou apagada. Ela desencadeou tudo isso", disse o defensor. "Parece que foi um enfermeiro que estranhou a conduta e disse que tinha algo estranho. A partir daí, eles começam a tentar filma-lo. Antes disso, a minha cliente disse que o médico quem colocou a sonda de urina, que não é atribuição dele. Ele impediu que o enfermeiro fizesse a aplicação da sonda. Antes do parto, ele foi limpar o sangue que estava na maca. Ela ficou muito constrangida. Isso não é atribuição dele. Ele também se apresentou como Yuri", contou o advogado criminalista.
Para Joabe, sua cliente pode ter sido violentada. Ele lembra que sua cliente não soube do que aconteceu no hospital:
"Ele não tinha sentido. A minha cliente pode ter sido. Ela deixou a unidade na terça-feira e ninguém contou o que havia acontecido. Após a repercussão, a delegada a chamou aqui é só por isso, a minha cliente ficou sabendo. Agora, ela vai tomar o coquetel HIV. Ela está muito chocada e triste. Ela está sofrendo muito."
'Tudo muito chocante'
“Quando pegamos o celular, foi tudo muito chocante”. Essas foram as palavras de uma técnica de enfermagem de 36 anos que disponibilizou o celular para gravar o médico anestesista no último domingo (10). Foram as imagens do aparelho dela que flagrou o especialista estuprando uma paciente após o parto. Ele foi preso em flagrante pelo crime de estupro de vulnerável. Nesta quinta-feira, após seu aparelho passar por uma perícia no Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), ele foi devolvido e a mulher — em uma rápida conversa — contou o que viu.
"Foi tudo muito chocante. Não imaginávamos que iríamos ver aquela cena. Não imaginávamos que aquilo estaria no celular. Quando pegamos o celular foi tudo muito chocante", disse a técnica de enfermagem, que completou: "Ele estava la há dois meses e nos conhecemos durante as operações. Ele era reservado e não falava muita coisa."
A delegada Bárbara Lomba, titular da Deam, afirmou nesta quinta-feira que não descarta pedir na Justiça que o anestesista seja obrigado a fazer um exame de HIV. Bárbara informou que a mulher que foi estuprada durante o parto e que teve o crime gravado tomou um coquetel anti-HIV no domingo, seguindo o protoloco para os casos de violência sexual. Ela foi liberada para amamentar o bebê nesta quinta-feira.
"Tudo pode ser requerido judicialmente. Essas medidas invasivas podem ser pedidas desde que justificadas para que se configure um possível crime. Claro, diante da possibilidade de um outro possível crime, que seria a transmissão de moléstia, poderia haver essa possibilidade. Só que nós temos como testar as vítimas. Me parece que esses profissionais de saúde têm que ser cadastrados caso eles tenham alguma doença Eu vou buscar esta informação. Vamos por partes. Tem que se estudar um pouquinho, mas eu não descarto o pedido (do exame de HIV)."
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