Bolsonaro inicia ofensiva por recursos para campanha
Legenda do presidente tem organizado eventos com representantes do agronegócio; valor do fundo partidário é considerado insuficiente
O presidente Jair Bolsonaro e alguns dos seus principais aliados deram início a uma ofensiva para arrecadar recursos que vão bancar a campanha à reeleição do atual ocupante do Palácio do Planalto . A ideia é que o próprio chefe do Executivo entre em ação e atue como "garoto propaganda" para captar dinheiro para o PL, partido ao qual ele se filiou no final do ano passado. Nos próximos dias, a sigla comandada por Valdemar Costa Neto vai lançar em seu site um anúncio convidando apoiadores a fazer doações à legenda por meio de PIX.
Paralelamente, pessoas próximas ao presidente têm organizado eventos para empresários, com a presença de Bolsonaro, em busca de doadores. Aliados do titular do Palácio do Planalto têm mirado em representantes do agronegócio, segmento em que ele encontra uma fatia significativa de apoiadores, para financiar os custos da disputa deste ano. Parte dos recursos também deverá irrigar as campanhas de candidatos a governador, senador e deputados da sigla.
Embora hoje tenha a maior bancada na Câmara, com 77 deputados, o PL tem apenas a sétima maior fatia do fundo eleitoral, com R$ 283,22 milhões. O valor é considerado insuficiente por dirigentes da legenda para bancar todas as campanhas. Por isso, apostam nas doações de pessoas físicas para complementar o caixa. Apesar de as campanhas não estarem oficialmente liberadas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) permite que partidos arrecadem e o dinheiro, a partir de agosto, seja utilizado para custear gastos dos candidatos como viagens, eventos e peças de propagandas.
Aliados do presidente têm a expectativa de que o reforço no caixa do PL para as eleições venha principalmente dos ruralistas. No último sábado, o titular do Palácio do Planalto esteve presente em um almoço com cerca de 80 representantes do agronegócio em Brasília, como mostrou o jornal "O Estado de S.Paulo" no último sábado.
Um dos participantes do evento foi Valdinei Mauro de Souza, o Nei Garimpeiro. Ex-sócio do atual governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, em empresas de extração de minério, ele já foi investigado por garimpo ilegal. Souza nega as acusações e também disse não ter contribuído com o caixa da campanha de Bolsonaro:
"A gente foi lá para tomar cachaça. Vi o Valdemar, vi a ministra Tereza, ninguém falou em dinheiro", disse. E acrescentou: "O pessoal falou que, se precisar ajudar, nós ajudamos, mas ninguém deu (dinheiro). Isso aí na verdade é só lobby. Encontrar "nego" rico, um para conversar com o outro, para fazer negócios futuramente. Faz um grande evento, se der um ou dois negócios já é lindo. É o que muita gente fazia", disse Nei.
Organizado pelo ex-senador Cidinho Santos a partir de um grupo de WhatsApp, o almoço ocorreu na casa do empresário Fernando Castro Marques, proprietário do laboratório União Química e pré-candidato do PP ao Senado pelo Distrito Federal. Oficialmente, o encontro foi organizado para homenagear a ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina, que presidiu a bancada ruralista na Câmara e é pré-candidato ao Senado pelo Mato Grosso do Sul.
"Está dentro da liberdade de cada um, e tem uma legislação em vigor que permite doações de pessoas físicas de até dez por cento (da renda do doador). Eu não doei nada. Agora, se alguém lá doou ou vai doar, cada um sabe da sua vida", disse Fernando Castro Marques.
Anfitrião do almoço, o proprietário da União Química disputou uma vaga no Senado em 2018 pelo Solidariedade. Durante a pandemia, o empresário tentou vender no país a vacina russa Sputnik contra a Covid-19, mas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não aceitou o registro do imunizante, o que impediu a concretização das negociações.
"O presidente não estava previsto ir e passou rápido por lá. Nem almoçou. Fez uma fala rápida basicamente sobre o que ele já fala, que trouxe paz ao campo diminuindo as invasões de terra, etc", disse o ex-senador Cidinho Santos, um dos presentes ao encontro. Ele diz que não houve compromisso de doações durante o evento.
Ex-suplente do senador Blairo Maggi, Cidinho Santos ocupou a cadeira do titular por períodos intermitentes entre 2012 e 2018. Há três anos, ele foi condenado pela 8ª Vara Federal de Cuiabá a pagar multas por adquirir ambulâncias superfaturadas quando era prefeito de Nova Marilândia, em Mato Grosso, na esteira do esquema que ficou conhecido como a “Máfia dos Sanguessugas”. Ele, que nega as acusações, recorreu ao TRF-1, e o processo aguarda decisão do tribunal.
Churrasco com agronegócio
Em 26 de março, no sábado que precedeu o lançamento da pré-candidatura de Bolsonaro, outro churrasco no Lago Sul de Brasília já havia atraído lideranças do agronegócio e da campanha de reeleição do presidente. O churrasco foi realizado na casa da médica Adriana Sousa e Silva, que desde 2019 é diretora do Departamento de Saúde Digital da Secretaria Executiva do Ministério da Saúde. Durante a pandemia, ela defendeu o tratamento precoce para Covid-19.
Na ocasião, entre os convidados estavam o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, o ex-senador Magno Malta (PL-ES), a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), o deputado Major Vitor Hugo (PL-GO) e o assessor Léo Índio, primo dos filhos de Bolsonaro, que este ano disputará nas urnas o cargo de deputado distrital. Um dos empresários do agronegócio presentes no local foi Reinaldo Morais, dono da Suinobrás, uma das maiores produtoras de carne suína do país. Em certo momento do evento, Bolsonaro telefonou e sua voz foi amplificada por caixas de som. Ele agradeceu a presença dos participantes.
No começo de abril, Valdemar já havia afirmado que com o crescimento do partido após a entrada de Bolsonaro ia ter que recorrer doações. Em conversa com alguns jornalistas da qual O GLOBO participou, o dirigente disse que o fundo eleitoral e partidário do PL "não dá nem para sair".
"Vamos ter que ir atrás de doação. O duro é que é só de pessoa física e vamos ter que lutar por isso. O dinheiro nosso não dá nem para sair. Temos 17 candidatos ao Senado, 12 ao governo do estado, como o pessoal vai trabalhar sem um tostão?", afirmou Valdemar, na ocasião.
O presidente do PL lembrou ainda que a campanha presidencial será a prioridade dos investimentos do partido. Em 2018, Bolsonaro gastou apenas R$ 2,8 milhões. Neste ano, além de mais tempo de TV e mais dinheiro para propaganda, a campanha precisar ressarcir os cofres públicos pelo uso do avião presidencial.
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