Morte de congolês é 'barbárie', diz governador do Rio

Castro prometeu rigor na investigação. O prefeito Eduardo Paes também se pronunciou e disse que está acompanhando o caso

Foto: Reprodução
Moïse Kabamgabe, congolês morto em quiosque na Barra da Tijuca

O governador do Rio, Cláudio Castro, disse, na manhã desta terça-feira,  que a morte do congolês Moïse Kabamgabe não ficará impune e prometeu rigor na investigação. O jovem teria sido espancado até a morte por cinco homens, com golpes de madeira e taco de beisebol, após cobrar um pagamento atrasado no quiosque Tropicália, na Praia da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele trabalhava no local e foi encontrado em uma escada, amarrado e já sem vida.

"O assassinato do congolês Moïse Kabamgabe não ficará impune. A Polícia Civil está identificando os autores dessa barbárie. Vamos prender esses criminosos e dar uma resposta à família e à sociedade. A Secretaria de Assistência à Vítima vai procurar os parentes para dar o apoio necessário", escreveu Castro no Twitter.

O prefeito Eduardo Paes também se pronunciou, nesta terça, sobre o crime. "O assassinato de Moïse Kabamgabe é inaceitável e revoltante. Tenho a certeza de que as autoridades policiais atuarão com a prioridade e rigor necessários para nos trazer os devidos esclarecimentos e punir os responsáveis. A prefeitura acompanha o caso", escreveu o prefeito no Twitter.

O laudo do Instituto Médico Legal (IML) apontou como causa da morte traumatismo do tórax com contusão pulmonar e também vestígios de broncoaspiração de sangue. O documento revela lesões concentradas nas costas e o tórax aberto, com os órgãos dentro.

A família de Moïse esteve nesta segunda-feira com a Comissão de Direitos Humanos da OAB, que vai acompanhar o caso.

"Ele foi brutalmente assassinado em frente a um quiosque e os vídeos das câmeras de segurança disponíveis mostram quem foram as pessoas que o agrediram até a morte. Não há dúvidas de que o racismo foi um fator no caso. As imagens mostram mais um negro sendo espancado até à morte, algo que pessoas que transitavam pelo local já normalizaram. Vamos exigir que o Ministério Público denuncie cada uma dessas pessoas e, principalmente, identifique o gerente do quiosque, que teria chamado esses agressores", afirmou o presidente da CDHAJ, Álvaro Quintão.

A deputada Dani Monteiro, presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, destacou o caráter racista do crime e ofereceu apoio à família de Moïse.

"Estamos, junto com a OABRJ, prestando solidariedade à família e tentando garantir a justiça diante da brutalidade que foi cometida contra Moïse. Infelizmente a democracia no Brasil não funciona na sua totalidade para pessoas pretas, sejam elas brasileiras ou imigrantes africanos. Nesse caso, nos choca muito o horário do ocorrido, por volta das dez da noite, e o local, um quiosque na praia da Barra da Tijuca. Isso mostra que a ideia de que uma pessoa negra possa ser amarrada, torturada e espancada em público está naturalizada na nossa sociedade e é acompanhada de uma expectativa de impunidade".

Fernand Umpapa, representante da comunidade congolesa, também expressou sua indignação com o assassinato de Moïse.

"Esse foi um caso que chocou todo mundo, não apenas na comunidade congolesa, mas qualquer pessoa com sensibilidade na comunidade brasileira", afirmou Umpapa.

Durante o encontro, o irmão de Moïse, que não teve seu nome revelado, afirmou que o jovem e a família se sentiam acolhidos desde que chegaram ao Brasil. "Estávamos felizes e nos sentíamos acolhidos, mas no momento não temos mais vontade de ficar. Há um sentimento de insegurança. O que esperamos é que a justiça seja feita".

Repercussão

A morte brutal de Moïze Kabamgabe segue repercutindo entre os grupos e instituições que atendem os refugiados no país. O Programa de Atendimento a Refugiados e Solicitantes de Refúgio da Cáritas (PARES Cáritas RJ), a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), informaram que vão acompanhar o caso.

O Abuna, uma organização sem fins lucrativos, também repudiou o ocorrido. "O Abuna repudia este ato de covardia, brutalidade e xenofobia. Nos unimos à família de Moïse e demandamos justiça. Barbáries como esta não podem acontecer. Crimes como este precisam acabar. Nossa oração é por consolo aos familiares da vítima, para que o Espírito Santo enxugue cada lágrima. Neste dia, nós choramos com a querida comunidade congolesa no Brasil".

Moïse tinha 25 anos e chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus irmãos. No país, ele e sua família foram reconhecidos como refugiados pelo governo brasileiro. Segundo o Programa, ele era uma pessoa muito querida por toda a equipe do PARES Caritas RJ, que o viu crescer e se integrar.

"O PARES Cáritas RJ, o ACNUR e a OIM estão acompanhando o caso, esperando que o crime seja esclarecido. Neste momento, as organizações apresentam suas sinceras condolências e solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa residente no Brasil", disse em um comunicado conjunto entre as equipes PARES Cáritas RJ, ACNUR Brasil e OIM Brasil.

Parentes e amigos também pediram rigor na investigação da morte do congolês. "Meu filho cresceu aqui, estudou aqui. Todos os amigos dele são brasileiros. Mas hoje é vergonha. Morreu no Brasil. Quero justiça", afirmou Ivana Lay, mãe de Moïse, em entrevista ao "Bom Dia Rio", da TV Globo.

O advogado Rodrigo Mondego, que representa a família de Moïse Kabamgabe, disse que os órgãos do rapaz não foram retirados. "Apuramos que a retirada de seus órgãos não procede, a falta de informação no IML levou a família a acreditar nisso. A CDH OAB/RJ seguirá no caso", escreveu Mondego.