Exames de imagem já substituem o cateterismo

Procedimentos não invasivos são usados para fazer o diagnóstico de doenças do coração

Um corte é feito geralmente na dobra do cotovelo ou na virilha, por onde uma espécie de sonda é introduzida na artéria até o coração. Assim é feito um cateterismo, exame usado para diagnóstico ou tratamento de problemas cardiovasculares.

Embora segura, a ideia de fazer um procedimento invasivo pode não agradar a todos os pacientes, especialmente quando a indicação é apenas para o diagnóstico da doença. Diante disso, os médicos já estão substituindo o cateterismo por exames de imagens, que têm se tornado cada vez mais eficientes e precisos.

No caso de problemas na válvula do coração, o ecocardiograma com doppler tem substituído o cateterismo com resultados bem satisfatórios. O procedimento é feito com auxílio de um aparelho de ultrassom, que aponta informações como espessura das paredes do coração e fluxo sanguíneo pelas válvulas cardíacas.

“O cateterismo continua indicado em três situações”, afirma o cardiologista Jorge Assef, diretor da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo): se o resultado do ecocardiograma for incompleto ou muito diferente do esperado pelo médico, ou se o paciente tiver indicação cirúrgica e for preciso que o médico estude suas artérias.

Já no caso de doenças coronarianas, o cateterismo pode ser substituído por dois exames: ecocardiograma sob estresse ou cintilografia do miocárdio. No primeiro caso, o músculo cardíaco pode ser estimulado com exercícios ou com uma substância chamada dobutamina.

A frequência cardíaca elevada permite verificar se o fluxo sanguíneo está adequado. “Mas o exame não vê a artéria, ele apenas indica se existe algum grau de obstrução”, esclarece Assef.

Para ver a artéria

Se a visualização da artéria for necessária, existem ainda outros procedimentos que podem substituir o cateterismo. A tomografia computadorizada (TC) coronariana é um deles. “O exame aponta a presença de obstrução, embora seu grau de sensibilidade seja menor”, explica Assef.

Para obter mais precisão no exame, são usados tomógrafos de 64 detectores, que fazem a chamada TC de múltiplos cortes. Mais recentemente, tomógrafos de 256 a 320 cortes estão sendo utilizados por alguns hospitais.

“O exame é indicado para pacientes de risco intermediário”, afirma o cardiologista Afonso Akio Shiozaki, assistente do serviço de tomografia cardiovascular do Instituto Dante Pazzanese. Risco intermediário significa ter apenas um fator de risco, além da idade, como hipertensão arterial, tabagismo, colesterol alto ou obesidade central.

A tomografia computadorizada é uma boa alternativa para pacientes que vão ao hospital e apresentam uma dor “atípica” no peito. Dor atípica tem características que deixam o médico na dúvida, enquanto a dor típica tem sinais que facilitam o diagnóstico de doença coronariana.

“A tomografia pode tirar essa dúvida, sem que o paciente tenha que passar por um procedimento invasivo como o cateterismo”, explica o cardiologista Ibraim Pinto, especialista em diagnósticos por imagem do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

Em caso de diagnósticos imprecisos, a TC também pode ser útil. Isso pode acontecer quando o paciente passa por exames preventivos, geralmente porque possui muitos fatores de risco.

Como os testes são apenas preventivos, o médico opta por procedimentos sem risco de complicações nem de traumas ao paciente, como exame de sangue, ecocardiograma e teste na esteira ergométrica.

Mas é possível que os resultados não sejam suficientemente precisos para o médico escolher a melhor forma de tratamento. Ele pode ficar na dúvida entre procedimentos invasivos ou apenas mudança de hábitos alimentares. “Neste caso, a tomografia computadorizada também pode tirar a dúvida do médico, porque ela é um exame muito eficiente para a exclusão de diagnósticos de enfartes e outros problemas coronarianos”, afirma Ibraim.

Excesso de cateterismos

Akio cita um estudo recente da publicação científica “New England Journal of Medicine”, realizado com mais de 400 mil pacientes submetidos a cateterismo nos Estados Unidos.Cerca de 60% deles não tinham obstrução importante na artéria coronária, de acordo com o médico. “O cateterismo precisa ser melhor indicado”, defende Akio. “O risco de complicação é pequeno, mas existe: é de 1%”, ressalta.

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