Inédito: pegadas de dinossauros são descobertas na Amazônia

Vestígios inéditos foram encontrados em Bonfim, na bacia do Tacutu, em Roraima

Inédito: pegadas de dinossauros são descobertas na Amazônia
Foto: JPavani/ Divulgação
Inédito: pegadas de dinossauros são descobertas na Amazônia

Uma descoberta científica está colocando Roraima no mapa mundial da paleontologia. Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) identificaram um extenso conjunto de pegadas fossilizadas  de dinossauros na região da bacia do Tacutu, no município de Bonfim, extremo norte do estado.

O Portal iG teve acesso ao documento apresentado no Simpósio de Geologia da Amazônia e de acordo com os especialistas, são mais de 100 marcas preservadas em rochas com idade estimada superior a 100 milhões de anos, configurando o primeiro registro desse tipo já documentado em território amazônico.

Os vestígios foram localizados em áreas de intensa sedimentação ao longo de milhões de anos, onde o acúmulo de camadas de sedimentos acabou originando formações rochosas capazes de manter preservados sinais da passagem de animais pré-históricos.

Rio Tacutu - Bonfim
Foto: Divulgação
Rio Tacutu - Bonfim


As pegadas estão concentradas na chamada Formação Serra do Tucano, unidade geológica situada na porção brasileira da bacia do Tacutu, próxima à fronteira com a Guiana.

Segundo a equipe responsável pelo levantamento, as marcas foram produzidas durante um intervalo entre 103 e 127 milhões de anos atrás, período de transição entre o Jurássico final e o Cretáceo inicial.

O trabalho de campo teve duração de aproximadamente 14 anos e incluiu cerca de 80 expedições à região. Em todas elas, ao menos uma pegada foi identificada, o que reforça a dimensão do sítio fossilífero. As análises permitiram apontar evidências de passagem de pelo menos quatro grandes grupos de dinossauros.

Foto: JPavani/ Divulgação
Inédito: pegadas de dinossauros são descobertas na Amazônia


Entre eles estão os ornitópodes, animais bípedes e herbívoros muito comuns nesse período; os imponentes saurópodes, famosos pelos pescoços e caudas alongados; os terópodes, predadores que incluíam espécies semelhantes aos raptors; e os tireóforos, grupo que reunia tanto herbívoros quanto carnívoros, caracterizados por placas ósseas que funcionavam como uma espécie de armadura natural.

Apesar da diversidade registrada, os pesquisadores explicam que ainda não é possível identificar quais espécies específicas deixaram as marcas, já que não foram encontrados ossos ou outros fósseis associados às pegadas.

Até o momento, a equipe reconheceu seis morfotipos, termo utilizado para classificar padrões distintos de pegadas que indicam diferentes tipos de dinossauros. Outros dois padrões seguem em análise e aguardam confirmação.

Foto: JPavani/ Reprodução
Inédito: pegadas de dinossauros são descobertas na Amazônia


Algumas das pegadas impressionam pelo tamanho. Certos rastros sugerem animais com mais de 10 metros de comprimento corporal, e há marcas individuais que alcançam até 1,5 metro de extensão. Esse número se aproxima das maiores pegadas de dinossauros já registradas no planeta, localizadas na Austrália, onde o recorde chega a 1,7 metro.

Além das pegadas isoladas, o sítio também revelou a presença de longas trilhas fossilizadas, algumas delas ultrapassando 30 metros de extensão contínua. Esse tipo de registro permite aos cientistas interpretar padrões de comportamento e deslocamento dos animais.

As análises preliminares indicam que dinossauros herbívoros costumavam se movimentar em grupos, possivelmente em migrações coletivas, enquanto predadores seguiam essas manadas. Também foram identificadas marcas que sugerem movimentos de nado e até escavações, reforçando a hipótese de que a região não era apenas uma rota de passagem, mas um ambiente habitado de forma contínua pelos animais.


A descoberta amplia significativamente o conhecimento sobre a presença de dinossauros na região amazônica, onde registros desse tipo eram praticamente inexistentes até agora.

Para os pesquisadores da UFRR, o sítio em Bonfim se consolida como um dos mais promissores do país para estudos da paleofauna do Médio Cretáceo, com potencial para revelar novas informações sobre a ocupação do território brasileiro por esses gigantes da pré-história.