“Pacificação passa por justiça”, diz Ivo Herzog sobre anistia

Filho de Vladimir Herzog critica proposta de perdão aos envolvidos nos atos de 08 de janeiro

Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog e presidente do Conselho do Instituto Vladimir Herzog
Foto: TV Cultura/reprodução
Ivo Herzog, filho de Vladimir Herzog e presidente do Conselho do Instituto Vladimir Herzog

Ivo Herzog, presidente do Conselho do Instituto Vladimir Herzog e filho do jornalista assassinado pela ditadura militar em 1975, afirmou que a pacificação nacional “ passa por um processo de justiça ” e criticou as propostas de anistia aos envolvidos nos atos de 08 de janeiro de 2023. As informações são do Roda Viva.


A declaração foi dada em referência ao projeto que visa reduzir ou perdoar as penas dos condenados por tentativa de golpe .

Essa questão da pacificação, que inclusive quando o pessoal da direita fala de anistia, fala em pacificação . A gente tem que pacificar, mas a pacificação passa por um processo de justiça. O país tem que ter justiça, as pessoas erraram, elas precisam pagar pelos seus erros ”, disse Ivo Herzog.

Durante a entrevista, Ivo comentou a tentativa de setores da direita de comparar a anistia da década de 1970, voltada a perseguidos políticos, com o perdão aos participantes dos atos golpistas.

A anistia significa perdão, né? Sempre entendendo que a gente perdoa quem admite que fez alguma coisa errada. É complicado você falar em perdão de quem nem admite que fez coisa errada ”, afirmou.

Ele explicou que a lei de anistia de 1979 tinha o objetivo de reintegrar cidadãos punidos por motivos políticos, mas não abrangia crimes comuns, como assassinatos e torturas.

Os crimes comuns têm que ser julgados e as penas cumpridas. Esse entendimento sobre a anistia é único no Brasil ”, destacou.

Cultura de perdão

Herzog também relacionou o histórico de impunidade no país às repetidas rupturas institucionais desde a proclamação da República . Segundo ele, o perdão reiterado a militares e golpistas funciona como um “incentivo” para novas tentativas de golpe. 

Esse perdão é um passaporte para eles continuarem tentando fazer rupturas ”, afirmou.


Ele mencionou ainda a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 320, que pede a revisão da Lei de Anistia pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O caso está sob relatoria do ministro Dias Toffoli há mais de oito anos.

Essa atitude dele, para mim, é uma continuidade dessa cultura de impunidade ”, disse Ivo, ponderando que não se trata de acusar o ministro de cumplicidade com golpes, mas de perpetuar um cenário que “ convida à repetição de rupturas democráticas ”.