
Treze carretas de empresas investigadas por suspeita de envolvimento em um esquema criminoso bilionário do Primeiro Comando da Capital (PCC) deixaram o posto de combustível de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), na manhã desta terça-feira (2).
Segundo informações do jornal Correio 24 Horas, apenas nove dos 22 veículos que estavam parados desde a última sexta-feira (29) permanecem no local.
As carretas pertencem às empresas G8Log e Moskal Log, ligadas a empresários apontados como líderes de um esquema bilionário do PCC que envolve adulteração de combustíveis, postos de gasolina e lavagem de dinheiro por meio de fintechs. Os caminhões ficaram estacionados em uma área às margens da BA-535, em Camaçari.
Na sexta, motoristas disseram à TV Bahia que haviam descarregado um produto em uma indústria da região, mas não informaram qual era o composto. Uma reportagem do programa Fantástico, da TV Globo, mostrou que carretas dessas mesmas empresas foram flagradas transportando metanol, substância usada para adulterar gasolina e etanol, nociva à saúde e ao funcionamento dos carros.
Ainda na sexta, a Polícia Federal (PF) conversou com os motoristas e coletou dados, mas não identificou nenhuma irregularidade. A corporação não respondeu sobre a origem ou destino dos veículos.
Em nota, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que fiscais estiveram no local e coletaram dados para análise junto à Secretaria Estadual da Fazenda (Sefaz). O órgão também acionou autoridades da Operação Carbono Oculto para alinhar medidas em relação às carretas estacionadas em Camaçari.
Entenda o esquema
Dois empresários ligados às transportadoras, Mohamad Hussein Mourad, o "Primo", e Roberto Augusto Leme da Silva, o "Beto Louco", estão foragidos e são apontados como líderes do esquema. Ambos foram alvos da operação deflagrada na última quinta-feira (28) pelo Gaeco, o Ministério Público de São Paulo e a Receita Federal.
As empresas de fachada do grupo controlavam cerca de 1,2 mil postos de combustíveis e atuavam de forma organizada. Para isso, usavam usinas de etanol, distribuidoras, transportadoras, fintechs e até fundos de investimento da Faria Lima para lavar dinheiro.
Segundo a investigação, o esquema tinha início no Porto de Paranaguá (PR), com a importação clandestina de produtos químicos como metanol e nafta. Esses insumos eram desviados de indústrias químicas e usados na adulteração de gasolina e etanol.
Para manter a rede em funcionamento e lavar dinheiro, a quadrilha comprou ao menos cinco usinas de etanol endividadas no interior de São Paulo, e pagaram até 43% acima do valor de mercado em algumas transações.
Sem registrar faturamento até 2019, a G8Log movimentou quase R$ 800 milhões em 2021. Parte desse dinheiro foi repassada ao empresário Rafael Renard Gineste, preso em Santa Catarina quando tentava fugir de lancha.
Além da adulteração de combustível, o esquema lavava dinheiro usando postos de gasolina e padarias como fachada. Só em Goiás e São Paulo, mais de 19 postos foram citados em decisões do Tribunal de Justiça.
As padarias funcionavam por meio de empresas com nomes semelhantes para confundir a fiscalização, além do uso de "laranjas". A investigação aponta que a Dubai Administração de Bens Ltda. geria a rede, que chegou a figurar em rankings de melhores padarias de São Paulo.