
As rotas de fuga são trajetos planejados e sinalizados que orientam a evacuação segura de pessoas em situações de emergência, como incêndios ou desastres naturais .
Elas têm como principal função garantir uma saída rápida e organizada, reduzindo os riscos à vida. No entanto, fora de prédios públicos e centros comerciais, esses caminhos muitas vezes não existem, carecem de sinalização ou sequer passaram por um planejamento adequado.
Em entrevista ao Portal iG, o professor Gil Correia Kempers Vieira, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Desastres da UFF (NEPED-UFF) e tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar, afirma que a implementação dessas rotas deveria ser prioridade nas cidades brasileiras e que o planejamento de uma rota de fuga vai além do traçado geográfico.
“As rotas de fuga são selecionadas para conduzir a população das áreas de risco para o ponto de apoio, e devem ser delimitadas inicialmente pela Defesa Civil e posteriormente validadas junto à comunidade, percorrendo essa rota de fuga e indicando possíveis riscos neste trajeto”, afirma.
Infraestrutura no Brasil ainda é um desafio
No Brasil, a maioria das cidades ainda falha em garantir esse tipo de infraestrutura essencial. O especialista diz que o processo ideal para essas implementações envolve mapeamento, validação comunitária, sinalização visual e simulações práticas. E ressalta que o trabalho no país ainda é um desafio a ser enfrentado.
“Comparativamente aos países com uma cultura de redução de risco de desastres e busca pela resiliência local como Japão, Espanha, o próprio Estados Unidos, ainda é muito incipiente o trabalho realizado aqui”, afirma ao iG .
De acordo com Vieira, “poucas cidades no Brasil desenvolvem um trabalho neste sentido, de ações não estruturais e treinamento da população” .
Ele, no entanto, aponta algumas exceções positivas: Petrópolis (RJ), que é destaque por integrar Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil na definição de rotas de fuga e pontos de apoio.
E outras localidades como Maceió e São Sebastião (SP), municípios fortemente impactados por desastres naturais, que passaram a adotar, com base na experiência vivida, estratégias preventivas para minimizar riscos futuros .
Rotas eficazes exigem orientação
Para que uma rota de fuga seja eficaz, é necessário que seja segura, acessível e conectada a pontos de apoio, como escolas ou centros comunitários.
“Normalmente os pontos de apoio devem ser escolhidos em equipamentos públicos como escolas, centros de referência da prefeitura e outros. Igrejas e outros entes privados necessitam de uma tratativas anteriores e carecem de uma atenção especial", explica Vieira.
E complementa: "A sinalização de emergência pode ser feita com placas, pinturas de setas e outros indicativos de rotas de fuga que devem ser combinadas com a população com seus saberem locais” .
No entanto, esses elementos só ganham real efetividade quando fazem parte de um planejamento mais amplo, que inclua sistemas de alerta eficientes , acessíveis a toda a população e acompanhados de instruções claras sobre como proceder diante de uma emergência.
Um caso é citado pelo especialista como exemplo: “Vimos isso quando na cidade do Rio de Janeiro foi acionado o SMS cellbroadcast, onde todos os celulares recebem uma mensagem de emergência, mas poucas pessoas sabiam o que fazer, para onde ir e não tinham uma orientação precisa de como proceder”.
Ele reforça que a preparação da população é tão essencial quanto as obras físicas : “As ações não estruturais atuam exatamente nesta linha, pois capacitam a população sobre como proceder em uma situação de emergência e desastre. As rotas de fuga e os pontos de apoio são essenciais em uma cidade para proteger a população em uma situação de emergência”.
Por fim, o especialista alerta para os desafios em áreas periféricas e comunidades informais . “Sempre vai ser um desafio a implementação das rotas de fuga. Por isso, o trabalho junto à comunidade é muito importante. As rotas escolhidas pela Defesa Civil podem não ser as mais seguras e a indicação da população faz toda a diferença".
E conclui dizendo: "Desta forma, a cultura de redução de risco de desastres é essencial para reduzir a vulnerabilidade local, deixando a população mais preparada para situações reais”.
Curso da Defesa Civil
Foi pensando em mudar esse cenário que a Escola de Defesa Civil ( EsDEC ), vinculada à Secretaria de Estado do Rio de Janeiro ( SEDEC ) abriu inscrições para um curso voltado ao planejamento colaborativo em áreas de risco.
Intitulada Mapeamento Participativo de Rotas de Fuga Aplicadas à Defesa Civil (MAPRADEC), a capacitação será realizada entre 18 e 29 de agosto de 2025, com aulas teóricas on-line e encontros presenciais na capital fluminense.
O objetivo é formar agentes públicos e lideranças comunitárias para atuarem juntos na construção de rotas de fuga mais eficientes, seguras e adaptadas à realidade local.
A proposta pedagógica do curso aposta na união entre conhecimento técnico e saber popular, com destaque para o uso de ferramentas de geoprocessamento e metodologias participativas.
Inspirado em experiências de sucesso, como a do município de Petrópolis (RJ), o conteúdo inclui noções de legislação, gestão de riscos, protagonismo comunitário e estudos de caso, além de aulas práticas com os softwares QGIS e GeoSetter .
Serão oferecidas 30 vagas para integrantes do Sistema de Proteção e Defesa Civil e representantes da sociedade civil. Para se inscrever, é necessário ter concluído cursos básicos de Defesa Civil e Georreferenciamento .
As inscrições vão até 8 de agosto, exclusivamente pelo site do SIGTRED.