
Esponja na mão, sorriso fora de cena e placas ofuscadas pela sujeira . Essa é a combinação que transformou Iago Custódio, de 28 anos, em um fenômeno digital . Natural de Três Palmeiras (RS), cidade com menos de 5 mil habitantes, o jovem virou assunto nacional ao mostrar algo simples, mas impactante: a limpeza de placas de trânsito esquecidas nas rodovias do Sul do Brasil .
Desde o primeiro vídeo - um desafio proposto por uma marca de produtos automotivos - até os registros mais recentes, em Santa Catarina, Iago passou por dezenas de pontos nas estradas com a missão de devolver a visibilidade necessária à sinalização pública.
O que seria apenas mais um vídeo curioso ganhou força e virou rotina. Com apoio da esposa, Angélica Veloso, ele grava, edita e compartilha tudo no Instagram (@olavadordeplacas), que ultrapassou 140 mil seguidores e soma mais de 10 milhões de visualizações.
Das rodovias à inspiração
O conteúdo conquistou seguidores engajados — os chamados “PlacaLovers”.
Além das curtidas, o projeto ganhou corpo com a criação da Comunidade do Lavador, grupo de WhatsApp com pessoas interessadas em replicar a ideia em outras cidades.

“Agora, então, vamos abraçar essa causa. Aonde a gente vai, se a gente passa e tem uma plaquinha suja, a gente está lavando” , resume Iago, em tom de missão.
A repercussão gerou parcerias, convites e planos ousados.
Um deles, já agendado: a limpeza de um avião em Brasília, marcada para setembro.
Outro, em fase de estruturação, é a criação da Loja do Lavador, que vai vender os materiais usados nas gravações.
O agora influenciador tem metas ousadas de lavagem de placas e, consequentemente, de mais sucesso nas redes sociais.
“A meta é no mínimo um milhão, dois milhões [de seguidores]. Por que não sonhar? Enquanto tiver placa suja pelo Brasil, a gente vai estar lavando.”
Iago Custódio, ''O Lavador de Placas'', conversou com o Portal iG.
Acompanhe:
Em algum momento você percebeu que a limpeza de placas poderia se transformar em algo maior?
Acredito que sim. Eu já postava conteúdo no Instagram da minha empresa, tentando algo que viralizasse. A ideia do Lavador de Placas deu certo — e agora a gente quer transformar isso em algo muito maior. Quem sabe até virar um negócio para mim e para minha família.
Como foi contar para amigos e familiares sobre a ideia? Teve quem duvidasse?
Na real, eu nem contei para ninguém. Nem para minha esposa. Ela viu o perfil criado e achou engraçado, porque eu nem seguia com meu Instagram pessoal. Quando ela perguntou, só falei que tinha feito para ver no que ia dar. E graças a Deus, deu certo. O perfil bombou.
Já pensou em levar o projeto para centros urbanos ou placas históricas?
Com certeza. Alguns prefeitos de Santa Catarina e aqui do estado (RS) já entraram em contato. A gente quer expandir sim — fazer monumentos, participar de eventos, como o de Brasília. Temos muita ideia para levar adiante.
Qual foi o lugar mais inusitado onde encontrou uma placa encardida?
Como a gente sempre grava nas rodovias, o foco é pegar as mais sujas, para gerar aquele impacto no conteúdo. Então, as que a gente escolhe já estão bem encardidas mesmo. Quando vejo uma pior, é essa que a gente vai lá e lava.
Houve alguma abordagem policial ou estranhamento de motoristas enquanto você limpava?
Até agora, nenhuma abordagem policial. Pelo contrário, já recebi várias buzinadas enquanto estou gravando. O pessoal passa, vê a gente limpando e buzina, acena… Ainda mais depois das reportagens que saíram.
Qual é sua opinião sobre o abandono da sinalização em algumas rodovias brasileiras?
Olha, tem muita coisa que a gente, como cidadão, pode fazer também. Não precisa esperar só pelo Estado. Se a gente tem tempo, se pode ajudar, por que não? Claro que é dever do órgão responsável, mas dá para fazer a nossa parte.
Quais são os tipos de sujeira mais difíceis de remover?
A mais difícil até hoje foi pichação. Ainda não postei esse vídeo, mas já peguei placa com pichação de spray. Dá trabalho, demora mais, mas com os materiais certos a gente consegue tirar.
Alguma placa te emocionou ou marcou de forma especial?
Acho que todas têm seu valor. Desde a primeira até a última. Cada uma tem um sentimento envolvido, porque é o que estou vivendo agora. Então cada placa tem seu sentido.
Como funciona a parceria com sua esposa?
Depois que o perfil deu certo e começou a viralizar, ela entrou junto na ideia. Quando pode, ela grava comigo. Quando não pode, por causa do trabalho ou dos nossos filhos, eu levo o tripé e gravo sozinho. Mas ela apoia sempre.
Tem alguma história engraçada que nunca foi postada?
Acho que a mais engraçada mesmo foi a criação do perfil. Eu fiz do nada, sem contar para ninguém, e viralizou. Essa é a que a gente mais dá risada até hoje.
Você já recusou alguma parceria por não estar alinhada ao que acredita?
Até agora, não recusei nenhuma. Várias empresas já nos procuraram. Nem todas aparecem nos vídeos, mas as que aceitei combinam com a nossa ideia, com o que a gente acredita.
Seu rosto continua em mistério. Pretende mostrar publicamente em algum momento?
Vou mostrar sim, agora em setembro, no evento em Brasília. Fomos convidados por uma empresa para lavar um avião que está em exposição. Lá eu vou revelar meu rosto.
Com tantos seguidores, como lida com a exposição e os comentários nas redes?
Aqui é cidade pequena, todo mundo já se conhece. Claro que agora, depois que saímos em reportagens, o pessoal me reconhece mais. Até o prefeito compartilhou. É legal ver que estou fazendo meu nome, mas também ajudando a comunidade.
Qual é o futuro do “Lavador de Placas”? Vai muito além da limpeza?
Com certeza. Já criamos a Comunidade do Lavador, lá no WhatsApp. Conversamos com o pessoal, trocamos ideias. A ideia é mostrar que dá para fazer um pouco, cada um. E se cada um fizer, dá para fazer muito.
O que você diria para quem acha que ideias simples não mudam nada?
Eu acho que o pouquinho que a gente faz se transforma em muito. É tipo efeito borboleta. Aprendi isso num curso, e agora tô vendo na prática: o que a gente faz aqui ecoa em outros lugares. Já tem até outros perfis fazendo limpeza também — e essa sempre foi minha ideia, inspirar os outros.