Corretor de grãos se torna foragido após aplicar golpe de R$ 19 bi em produtores rurais

Vinícius de Mello e outros suspeitos são investigados por um esquema que causou prejuízo bilionário ao agronegócio

Vinícius de Mello
Foto: Reproduçao TV Globo
Vinícius de Mello

Vinícius de Mello , um corretor de grãos natural do Rio Grande do Sul , se tornou milionário em poucos anos, mas agora é procurado pela polícia de Goiás , onde está envolvido em um golpe bilionário . Junto com outras cinco pessoas, Vinícius é suspeito de fraudar produtores rurais em Rio Verde, município que figura entre os mais ricos do agronegócio brasileiro, causando prejuízos estimados em R$ 19 bilhões ao estado. O caso foi revelado pelo programa Fantástico, da TV GLOBO, no domingo (8).

Até o momento, 13 vítimas registraram boletins de ocorrência contra ele, mas a polícia acredita que o número de produtores lesados seja muito maior, já que muitos não formalizaram contratos de compra e venda, confiando na palavra de Vinícius. O corretor, que se mudou para Rio Verde nos anos 1990, conquistou a confiança dos produtores locais com sua simpatia e habilidade para negociar, comprando soja, milho e algodão para revenda.

Os negócios com Vinícius sempre correram bem para muitos produtores, como o agricultor Euclides Costenaro, que nunca teve problemas nas transações realizadas com ele. No entanto, em junho deste ano, Vinícius e sua esposa, Camila Rosa Mello, desapareceram de forma misteriosa. A polícia suspeita que o casal tenha aplicado um golpe que envolveu pelo menos R$ 38 milhões.

Todos os nosso contratos que ele intermediou a gente não teve nenhum problema", conta Euclides Costenaro, produtor rural.

Os irmãos Carlos e Paulo Ricardo Freitas, que confiaram em Vinícius para a negociação de grãos, também foram vítimas do esquema. Eles contaram que sempre tiveram boas experiências com ele, mas, após um acordo fechado em março, Vinícius não cumpriu o pagamento prometido para 90 dias depois. Paulo Ricardo relatou a frustração de contar com aquele dinheiro para compromissos futuros e ver o negócio desmoronar.

“Acho que uns oito anos que ele tava negociando com o pessoal e sempre deu certo, sempre deu certo. Ele foi lá no armazém e combinou comigo para embarcar em 30 dias, e ele embarcou muito rápido, achei até estranho, colocou muito caminhão grande, de nove eixo, rapidão, e retirou o produto ”, conta Carlos Freitas de Paula Filho, produtor rural.

“O sentimento é desespero, porque a gente contava com esse dinheiro, com esse valor pra cumprir nossos compromissos futuros”, conta Paulo Ricardo Sousa Freitas.

Antes de desaparecer, Vinícius enviou um e-mail a vários produtores, afirmando que não poderia retornar à cidade devido a ameaças e a necessidade de proteger sua família.

"Devido a algumas ameaças recebidas, o ambiente não é seguro pra minha família. Portanto preservando a nossa integridade física, resolvi não retornar a cidade", dizia o texto.

A investigação revelou que Vinícius não agiu sozinho, mas foi parte de uma organização criminosa que criou empresas para sonegar impostos e lavar dinheiro. Os criminosos operavam como corretores de grãos, comprando e vendendo produtos agrícolas, mas pagando menos do que o acordado ou deixando de pagar, além de não entregar toda a carga. O valor da fraude envolvia empresas-fantasmas, que emitiam notas fiscais falsas para ocultar o dinheiro e evitar o pagamento de impostos.

Desde 2021, as movimentações suspeitas somaram cerca de R$ 1,2 bilhão, mas a estimativa do prejuízo total é ainda maior. A polícia de Goiás acredita que este seja o maior golpe já registrado contra o agronegócio no Brasil. Quatro pessoas foram presas em 29 de novembro, e a polícia apreendeu 468 veículos, incluindo carretas, carros de luxo como um Porsche de R$ 600 mil, e até dois aviões.

“São chamadas de empresas noteiras. São empresas que servem apenas para emissão do documento fiscal, das notas fiscais, e não havia o recolhimento dos tributos devidos”, explica Márcio Marques, delegado Polícia Civil - GO.

A defesa de Vinícius e sua esposa não se manifestou. Para os produtores rurais, o golpe representou um grande trauma, como relatou Euclides Costenaro: "Qual é a palavra: traição? Frustração? Nenhuma palavra boa parece nesse momento." Vinícius de Mello e Camila Rosa Mello são agora considerados foragidos.