Militares golpistas se posicionaram para prender e matar Moraes, mas abortaram plano

Golpistas também tentaram matar o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin; veja troca de mensagens

Alexandre de Moraes estava entre os alvos dos golpistas, aponta PF
Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil
Alexandre de Moraes estava entre os alvos dos golpistas, aponta PF

Mensagens obtidas pela Polícia Federal  nos celulares de militares investigados por articulação de um golpe de Estado em 2022  mostram que o grupo chegou a ir para as ruas de Brasília para uma "ação clandestina" , cujo objetivo seria prender e matar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. De última hora, porém, o plano foi abortado.

Essas mensagens estão registradas na documentação apresentada pela PF, que resultou nas prisões de  quatro militares do Exército e um policial federal nesta quinta-feira (19), durante a Operação Contragolpe. Os mandados de prisão foram autorizados pelo próprio Alexandre de Moraes, no âmbito do inquérito que investiga a tentativa de golpe de Estado logo após as eleições de 2022.

Segundo a investigação da PF, o grupo utilizava um chat privado no aplicativo Signal com o objetivo de evitar a interceptação das suas comunicações. O nome do grupo de mensagens era "copa 2022".

"As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo 'copa 2022' demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o Ministro Alexandre de Moraes", afirma a PF.

Pelo menos seis pessoas estiveram envolvidas diretamente no plano no dia 15 de dezembro de 2022, conforme revela a investigação. A troca de mensagens entre os integrantes do grupo nesse dia ajuda a reconstruir a sequência dos acontecimentos.

Mensagens

Às 20h33 de 15 de dezembro, um dos membros envia a seguinte mensagem: "Estacionamento da troca da primeira vez", indicando sua localização no estacionamento de um restaurante no Parque da Cidade, área central de Brasília.

Em seguida, outro membro responde: "Tô na posição", confirmando que estava pronto para agir.

A conversa continua com outra mensagem: "Ok. Qual a conduta?", questiona o membro que está no estacionamento.

E logo a seguir, um terceiro membro responde: "Aguarde", indicando que a ação ainda não seria iniciada.

As mensagens também revelam que os integrantes do grupo trocaram ligações de áudio. Embora o conteúdo dessas chamadas não tenha sido recuperado, imagens confirmam que as ligações ocorreram.

Às 20h57, um quarto membro envia: "Tô perto da posição. Vai cancelar o jogo?", sugerindo que a operação estava prestes a ser executada.

Cerca de dois minutos depois, um quinto participante — apontado pela PF como uma "liderança do grupo" — confirma o cancelamento da operação.

A mensagem enviada por ele é: "Abortar... Áustria... volta para local de desembarque... estamos aqui ainda...", indicando que a ação foi abortada e os membros deveriam retornar ao ponto inicial.

Outras tentativas

De acordo com a PF, o grupo também foi ao STF e à casa de Moraes em outras ocasiões, a fim de monitorar o ministro para eventualmente matá-lo.

Além disso, a corporação aponta que os militares envolvidos na tentativa usaram técnicas militares de "ações psicológicas" para tornar o ambiente propício para um golpe de Estado, disseminando desinformação.

"Esse modo de atuação foi robustecido pelo emprego de técnicas de ações psicológicas e propaganda estratégica no ambiente politicamente sensível pelo 'Kids Pretos', instigando, auxiliando e direcionando líderes das manifestações antidemocráticas conforme seus interesses", escreveu a PF em relatório.