Os últimos eventos climáticos extremos no Brasil não se limitam ao Rio Grande do Sul: outros estados do país, como o Espírito Santo e Alagoas, também foram afetados por grandes tempestades recentemente.
No RS, mais de 580 mil pessoas estão desabrigadas e 163 foram mortas na maior tragédia climática da história do estado. A situação no Espírito Santo e no Alagoas não atingiu tamanha proporção, mas também causou alagamentos, enchentes, destruição e, no caso do ES, 19 mortes .
Além das chuvas, esses estados têm um outro problema em comum: a falta de um Plano de Mudanças Climáticas em suas capitais para prevenir e, mais importante, agir em momentos de crises relacionadas ao clima, o que se repete em mais da metade das unidades federativas do país.
É o que aponta o levantamento feito pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), divulgado em 13 de maio e realizado com base em pesquisas em portais das pefeituras e de outras instituições governamentais.
De acordo com o relatório, das 27 capitais brasileiras, 15 não têm um Plano de Mudanças Climáticas. São elas:
- Aracaju (SE)
- Belém (PA)
- Boa Vista (RR)
- Campo Grande (MS)
- Cuiabá (MT)
- Goiânia (GO)
- Macapá (AP)
- Maceió (AL)
- Manaus (AM)
- Natal (RN)
- Palmas (TO)
- Porto Alegre (RS)
- Porto Velho (RO)
- São Luiz (MA)
- Vitória (ES)
Já as capitais que têm o Plano são:
- Belo Horizonte (MG)
- Brasília (DF)
- Curitiba (PR)
- Florianópolis (SC)
- Fortaleza (CE)
- João Pessoa (PB)
- Recife (PE)
- Rio Branco (AC)
- Rio de Janeiro (RJ)
- Salvador (BA)
- São Paulo (SP)
- Terezina (PI)
O estudo ressalta que os Planos de Belém, Manaus, Vitória e Porto Alegre estão em processo de elaboração.
O que é o Plano de Mudanças Climáticas?
De acordo com o levantamento do IJSN, o Plano de Mudanças Climáticas é uma ferramenta "de planejamento e gestão fundamental ao nível local" em contextos de eventos climáticos extremos, como o que acontece no Rio Grande do Sul.
"No entanto, observa-se um grande despreparo dos municípios brasileiros", destaca o levantamento, que apresenta todos os Planos de Mudanças Climáticas das Capitais.
Baseado nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de número 13 da Organização das Nações Unidas (ONU), o Plano de Mudanças Climáticas também pode ser considerado um "desafio global" lançado pela organização a todos os países, com o objetivo de implementar medidas que previnam e tragam soluções rápidas para momentos de crises climáticas.
Tragédia no Rio Grande do Sul alerta para crise ambiental no país
A tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul tem alertado para as consequências das mudanças climáticas em todo o país, que tem 1.942 municípios sob risco de desastre ambiental, segundo um estudo coordenado pela Secretaria Especial de Articulação e Monitoramento, ligada à Casa Civil da Presidência da República.
Essas cidades concentram mais de 8,9 milhões de brasileiros, número quatro vezes maior do que o de afetados pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Mudanças climáticas preocupam os brasileiros, diz pesquisa
O programa de observação da Terra da União Europeia confirmou que 2023 foi o ano mais quente já registrado pela humanidade. A temperatura média do planeta foi de 14,98 °C, 0,17 °C acima do recorde anterior, de 2016.
Com isso, o aquecimento no planeta está cada vez mais próximo de ultrapassar o limite estabelecido pela ciência como seguro no Acordo de Paris: 1,5 ºC a mais do que o período pré-industrial, entre 1850 e 1900, época em que a civilização começou a usar os combustíveis fósseis para a produção industrial. A alta atingida em 2023 foi de 1,48ºC.
Se a tendência continuar, é provável que aconteçam ainda mais desastres climáticos nas próximas décadas, causados pelo aumento constante do nível do mar, pelas alterações bruscas de temperaturas e pelo crescente número de eventos extremos, como furacões e secas.
Não é correto dizer que a população brasileira está alheia a esse cenário preocupante: a pesquisa "Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil 2023", realizada pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), indica que 95,4% dos participantes reconhecem as mudanças climáticas. Desses, mais da metade entende o fenômeno global como uma grande ameaça para a população.
"O negacionismo climático, que foi fortíssimo nos Estados Unidos e no norte da Europa, nunca foi no Brasil. Ele é liderado por forças poderosas no Brasil, mas a porcentagem de pessoas que dizem que as mudanças climáticas não existem é uma das menores do mundo", disse Yurij Castelfranchi, coordenador do Observatório interdisciplinar InCiTe, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no evento de lançamento do estudo.
Quer ficar por dentro das principais notícias do dia? Clique aqui e faça parte do nosso canal no WhatsApp