Quem é o brasileiro suspeito de ter sido recrutado para atacar judeus

Detido em novembro de 2023, Lucas Passos Lima é suspeito de ser um dos recrutados pelo grupo terrorista libanês Hezbollah para atacar a comunidade judaica no DF

Lucas Passos Lima
Foto: Reprodução
Lucas Passos Lima

Em novembro de 2023, a  Polícia Federal (PF) deflagrou a operação Trapiche, que tem como alvo um grupo que teria o objetivo de promover “atos preparatórios de terrorismo”.

Com o decorrer das investigações, descobriu-se que o  grupo terrorista libanês Hezbollah recrutou brasileiros para ataques contra a comunidade judaica no Distrito Federal. 

Na época, segundo a PF, foram cumpridos "dois mandados de prisão temporária e 11 mandados de busca e apreensão, expedidos pela Subseção Judiciária de Belo Horizonte, nos estados de Minas Gerais, São Paulo e no Distrito Federal".

Um desses mandados foi o do brasiliense Lucas Passos Lima, de 35 anos. Ele foi detido no Aeroporto de Guarulhos quando retornava ao Brasil após viagem ao Líbano. Ele foi preso quando afirmou aos fiscais que foi até o país do Oriente Médio para “propostas para crescimento de negócios”, pois trabalhava com regularização de imóveis e era representante comercial.

As suspeitas sobre Lima cresceram pois, na época, a PF foi alertada pelo FBI sobre a identificação de viagens suspeitas ao Líbano, que envolviam atividades criminosas, tais como "tráfico de drogas e atividades terroristas".

A PF encontrou, na caixa de e-mail de Lima, vídeos feitos da porta de sinagogas e dos arredores, além de uma lista com oito locais representativos da comunidade judaica em Brasília e em Goiás. Com isso, ele se tornou suspeito de ser um dos participantes do planejamento dos ataques que aconteceriam no Distrito Federal.

Além disso, a PF identificou documentos que mostram que ele fez treinamento com armas e buscou um piloto experiente em cruzar fronteiras — provavelmente com o objetivo de fugir depois de um possível ataque.

Ele está detido no Centro de Detenção Provisória II de Guarulhos. A audiência de instrução do processo referente a Lima foi marcada para 21 de março e, de acordo com a última decisão da Justiça, ele "se encontrava no estágio mais avançado do recrutamento".

Vale lembrar que essa não foi a primeira vez que Lima foi preso. Há sete anos, ele foi preso por porte ilegal de arma. Esse fator colaborou para a sua segunda prisão, uma vez que é uma das características dos recrutados pelas organizações terroristas.

"O perfil dos recrutados levantou suspeitas pela ausência de vínculos com o País ou condições financeiras para empreender tais viagens ao exterior (alguns por mais de uma vez ou três vezes em menos de 12 meses) e por possuírem antecedentes criminais. Lucas voltou ao mesmo destino no decorrer do ano de 2023", afirmou a magistrada do caso.

A defesa de Lucas nega que ele tenha envolvimento com terrorismo e que a sua inocência será provada ao longo do processo.

Recrutador está foragido

O suposto recrutador de Lucas para o Hezbollah é o sírio naturalizado brasileiro, Mohamad Khir Abdumajid, dono de duas tabacarias de Belo Horizonte (MG). Foragido, ele consta na lista de procurados da Interpol.

Ainda segundo a PF, a prisão de Lucas e outros suspeitos impediu um atentado terrorista contra a comunidade judaica no Brasil. Lucas e Mohamad respondem pelo crime de terrorismo e organização criminosa.

Hezbollah

Hezbollah , que em árabe significa partido de deus, é um grupo libanês xiita formado em 1982, durante a guerra civil do Líbano. O conflito aconteceu entre 1975 e 1990, por conta de embates político-religiosos entre cristãos maronitas, muçulmanos sunitas e muçulmanos xiitas que vivem no país.

Naquele período, um dos pontos de desacordo era o apoio a Israel e à Palestina. Foi quando o Hezbollah surgiu para confrontar os israelitas que tentavam entrar no sul do Líbano e dar apoio aos palestinos que se refugiavam nessa região, fugidos do governo de Israel.

Atualmente, a organização tem significativo destaque na vida política do Líbano e está organizada em quatro eixos:

  1. Político, com membros no Parlamento, ministros e uma aliança com os partidos cristãos;
  2. Social, por meio de trabalhos realizados em hospitais e escolas xiitas;
  3. Econômico, que inclui a captação de recursos ao redor do mundo e uma rede de televisão, a Al Manar;
  4. Militar, com uma milícia envolvida no conflito da Síria, apoiando o governo Bashar Al Assad contra os rebeldes;