Toffoli mantém bicheiro Capitão Guimarães em prisão domiciliar no RJ

Ex-militar é suspeito de ser mandante de um assassinato ocorrido em 2020

Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães
Foto: Divulgação
Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães

Um dos principais bicheiros do Rio de Janeiro , Aílton Guimarães Jorge, mais conhecido como Capitão Guimarães , continuará em prisão domiciliar no Rio de Janeiro. Nesta quarta-feira (28), o ministro Dias Toffoli , do Supremo Tribunal Federal (STF) , negou  conceder uma liminar para revogar a prisão preventiva de um dos chefes da contravenção carioca. 

Desta forma, o Capitão Guimarães, de 82 anos, continuará utilizando tornozeleira eletrônica. Recentemente, a defesa do bicheiro havia solicitado a remoção do aparelho através do pedido da revogação da detenção. 

De acordo com Toffoli, ele não poderia acatar o pedido da defesa de Guimarães antes de escutar a 4ª Vara Criminal de São Gonçalo, responsável pela prisão do bicheiro.

"Não há como aferir a plausibilidade do direito alegado antes de ouvir o juízo reclamado", decidiu o ministro.

Prisão

Capitão Guimarães está cumprindo prisão desde dezembro de 2022, quando foi alvo da Operação Sicários, que investiga o assassinato de um pastor em São Gonçalo. De acordo com as apurações, o bicheiro seria o mandante do crime ocorrido em 2020,

Após ficar dois dias atrás das grades na Polícia Federal, o bicheiro conseguiu o direito de ficar em prisão domiciliar por causa de seu estado de saúde. Aos 82 anos, ele trata um câncer e lida com insuficiência cardíaca. 

Quem é Capitão Guimarães?

Aílton Guimarães Jorge é ex-militar e possui um longo histórico de acusações criminais, prisões e manobras judiciais para escapar das prisões. Ele serviu ao Destacamento de Operações de Informações (DOI), no Rio de Janeiro, no período em que esteve no Exército. O DOI foi um dos principais meios de repressão política no período do regime militar.

Capitão Guimarães já demostrava desvios desde a metade dos anos de 1970. Na época, ele chegou a usar o poder amealhado como forma de repressão. Assim, ele extorquia os contrabandistas na Zona Portuária do Rio. 

Ele ingressou na repressão política quando ainda era tenente, nos anos 1960 — era oficial da Inteligência. Neste período, foi convocado com intuito de perseguir sindicalistas, principalmente os ferroviários na Baixada Fluminense. Na época, convocou integrantes das polícias Civil e Militar para auxiliar na perseguição, localização e desbaratamento dos supostos aparelhos subversivos. Eles eram apontados como os responsáveis pelo descarrilhamento recorrente dos trens.

Após ser transferido para o DOI, Guimarães e alguns dos subordinados foram cooptados por uma quadrilha que praticava extorsão contra contrabandistas. Basicamente, eles apreendiam mercadorias irregulares — variava entre uísque, calças jeans, perfumes e outros produtos importados ilegalmente — e depois revendiam para os próprios donos ou para os concorrentes.

Entretanto, uma dupla de PMs acabou flagrando as ações de Guimarães e os seus comparsas. Eles foram denunciados e levados para a cadeia. O caso foi arquivado logo depois, por conta de abusos praticados pelos investigadores.

Após ser livre, Guimarães foi transferido para uma unidade burocrática. Lá, ele foi pressionado para pedir demissão do Exército, que aconteceu em 1981. Na época, o então capitão já havia conseguido angariar a simpatia do bicheiro Ângelo Maria Longas, o Tio Patinhas, pessoa que foi vizinha cela de Guimarães. O Tio Patinhas era considerado um dos maus poderosos bicheiros da época, e deu ao Capitão uma possibilidade de assumir um pequeno bicheiro inadimplente.

Guimarães ascendeu na cúpula do jogo do bicho. Anos depois, se tornou um dos primeiros presidentes da Liga das Escolas de Samba do Grupo Especial (Liesa). Com a experiência que teve no Exército, ajudou a cúpula a organizar a divisão territorial do Rio de Janeiro, além de ensinar como fazer as extrações. Ele tinha uma parcela do jogo em Niterói, mas também expandiu os negócios para o Espírito Santo.

Ele foi presidente da escola de samba Unidos de Vila Isabel. Com isso, ele removeu de lá para o Salgueiro, o bicheiro Miro Garcia e sua família.

Nos últimos 50 anos, diversos processos criminais foram abertos contra Capitão Guimarães. Deles, em duas ele foi sentenciado: em 1993, quando a juíza Denise Frossard o condenou por formação de quadrilha e bando armado; e em 2007, quando a juíza Ana Paula Vieira de Carvalho o por corrupção de agente público na Operação Furacão. Em ambos os casos, ele não cumpriu o total da pena. Guimarães fez manobras jurídicas para que evitasse o trânsito em julgado dos processos, e, consequentemente, as penas não fossem executadas.

Mas, em dezembro de 2022, o bicheiro teve a prisão domiciliar decretada pela 4ª Vara Criminal de São Gonçalo. Ele é suspeito de ser o mandante de um assassinato, que aconteceu em julho de 2020, no município de São Gonçalo, na Região Metropolitana.