Após a operação da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro (PL) e seus aliados na semana passada, canais vinculados ao apoio digital a Bolsonaro no YouTube deletaram ou tornaram privados mais de 1,5 mil vídeos nos dois dias seguintes. Isso supera o número de remoções dos dias anteriores, quando menos de 200 vídeos eram excluídos diariamente por esses canais. A empresa de análise de dados Novelo Data detectou essa "limpeza" durante seu monitoramento dos perfis de extrema direita na plataforma.
A decisão de remover os vídeos partiu dos próprios canais, não sendo resultado de ações da plataforma ou ordens judiciais. Essa prática entre os influenciadores pró-Bolsonaro é comum em momentos de operações contra investigados por ataques a instituições, assim como após revezes judiciais do ex-presidente e seus aliados recentemente.
Por exemplo, em julho passado, o perfil do deputado Gustavo Gayer (PL-GO) ocultou mais de 200 vídeos, incluindo conteúdos que mencionavam o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), após um julgamento que tornou Bolsonaro inelegível.
Os canais ZangãoBlues, de Toby Cotrim, com 183 mil inscritos, e BolsoNews B.N, sem autor identificado e 323 mil seguidores, foram os mais ativos na remoção. Outro destaque foi a conta Conservador e Patriota, de Alberto Jubanski, com 163 mil inscritos.
Muitos dos vídeos removidos abordavam temas políticos brasileiros, mencionando autoridades como ministros do STF e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou apoiavam os discursos de Jair Bolsonaro.
Por exemplo, dos 524 vídeos excluídos pelo canal de Cotrim, alguns já indicavam ataques a Alexandre de Moraes, relator dos inquéritos sobre os atos golpistas de janeiro de 2023. Um deles instigava os seguidores a exigirem o impeachment de Alexandre de Moraes.
O canal também removeu postagens que apoiavam a paralisação geral pelo "voto auditável impresso" nas eleições de 2022 e vídeos que criticavam o STF. Além disso, havia publicações sugerindo que Lula não assumiria o cargo ou que as Forças Armadas tinham a situação sob controle, feitas em dezembro de 2022, durante os acampamentos pró-Bolsonaro e antes das invasões aos prédios dos três Poderes.
Jubanski, que disputou as eleições de 2022 no Paraná, removeu 387 publicações após a operação. Um vídeo excluído questionava diretamente a investigação sobre tentativa de golpe de Estado, indagando se o capitão seria preso. Também foram identificadas postagens que sugeriam a prisão ou impeachment de Lula.
O canal BolsoNews, criado em 2020, removeu 316 vídeos em dois dias. Parte das postagens mencionava o STF, Moraes e o TSE em seus títulos e descrições, embora sem ataques explícitos. Os responsáveis pelo canal BolsoNews e Jubanski não responderam aos pedidos de contato.