Banco Vermelho: ação no Recife alerta para o combate ao feminicídio

Capital pernambucana foi a primeira cidade do Brasil a abraçar o movimento internacional

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Banco Vermelho na Praça do Marco Zero, no Recife


Quem passar pelas ruas do Recife (PE) vai notar que a cidade está um pouco diferente: os bancos pintados de vermelho espalhados em diversos pontos da capital pernambucana, como na Praça do Marco Zero, na Praça Tiradentes, na Rua da Moeda, na Rua da Aurora, o Morro da Conceição, na comunidade Entra a Pulso, no Parque 13 de Maio, na Praça Chora Menino, na Praça Jardim São Paulo, no Sítio Trindade, na Praça Oswaldo Cruz e no Parque do Caiara.

Os assentos trazem mensagens de reflexão sobre o combate ao feminicídio. A iniciativa surgiu na Itália, em 2016, e já se espalhou por diversos países, incluindo Espanha, Áustria, Austrália e Argentina. Agora, que chegou ao Brasil, a Prefeitura por meio da Secretaria da Mulher do Recife lançou a campanha “Minha cidade é meu lugar de fala: 21 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher", que segue até o dia 10 de dezembro.

Recife foi a primeira cidade do país a abraçar a iniciativa do Banco Vermelho. O movimento internacional chegou ao Brasil por meio de duas pernambucanas: a publicitária e ativista Andrea Rodrigues, e a gestora em Marketing Paula Limongi. Em entrevista ao Portal iG , Paula contou que transformar o luto em luta foi o que as motivou a trazer o projeto para a capital de Pernambuco, onde perderam pessoas queridas para o crime hediondo.

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Paula Limongi e Andrea Rodrigues, representantes do Banco Vermelho no Recife


Após ter sido testemunha no julgamento de feminicídio da melhor amiga, a pernambucana Patrícia Wanderley (2018), Andrea Rodrigues viajou para a Espanha e conheceu o projeto Banco Vermelho. “Ela ficou impactada e resolveu ir atrás pra fazer com que a amiga dela fosse sempre lembrada. Ela foi até o Instituto da Itália que concedeu a chancela pra que ela trabalhasse a marca no Brasil e em países de língua portuguesa”, contou Limongi, que também disse ter pessoas próximas que foram vítimas de feminicídio.

“Estudei com os filhos de Maristela Just , que foi um caso emblemático, ela foi assassinada em 1989 e o marido ficou foragido por 20 anos. E no ano passado, eu perdi Renata Alves, que estudou comigo da alfabetização até o terceiro ano, que foi vítima de feminicídio também. Renata foi assassinada com um tiro na testa no apartamento dela”, relembrou Paula, uma das realizadoras do Banco Vermelho no Recife.

Violência doméstica

Nas últimas semanas, o assunto “violência contra mulher” tomou conta dos noticiários do Brasil. Isso porque, além dos crimes envolvendo mulheres anônimas, a violência doméstica também fez parte da vida de algumas celebridades, como a apresentadora  Ana Hickmann e a cantora Naiara Azevedo . Ambas denunciaram os ex-maridos por agressões. Diante de tantos casos como esses no Brasil e no mundo, a conscientização se torna o primeiro passo para tentar combater a triste realidade das vítimas de feminicídio.

Os números alarmantes não mentem: a cada hora, 26 mulheres são vítimas de violência no Brasil. Em 2022, foram registrados 1.437 casos de feminicídio no país, segundo os dados obtidos pelo Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública.


“Ação que pode salvar uma vida”

De acordo com Paula Limongi, o feedback da população do Recife em relação à campanha tem sido emocionante. “A gente tem tido um acolhimento grande de pessoas, homens, mulheres, crianças. Com o banco gigante no Marco Zero conseguimos chamar muita atenção”, afirmou ao Portal iG .

Segundo ela, os que perderam parentes para o feminicídio estão indo lá fazer protesto por justiça às mulheres que se foram de forma tão violenta. “A gente tem recebido milhões de denúncias e pedidos de socorro e pedidos do Brasil inteiro para levar a campanha do Banco Vermelho para sua cidade. Outra coisa importante é que a gente lançou o projeto sábado (25) e o Instagram já conta com mais de mil seguidores. Então a gente acredita que tinha essa demanda reprimida, né? Da sociedade, a gente precisa falar, a gente precisa gritar”, declarou.

Por fim, Limongi alerta para a importância de divulgar as ações de conscientização e prevenção no combate à violência contra as mulheres. “Não adianta a gente depois cobrar por justiça quando aquela mulher virou uma estatística. A sociedade pode participar através da divulgação e também do pedido do Banco Vermelho na sua cidade, no seu trabalho, na sua universidade, né? É uma ação de baixo custo e alto impacto que pode salvar uma vida”.