Em meio à crise climática, recorde de incêndios cerca Pantanal

Região teve mais de 400 mil hectares de terra deteriorados pelo fogo em 15 dias, num período conhecido pelas chuvas

Foto: Mayke Toscano/Secom-MT - 09.09.2020
Em 2020, as queimadas causaram a devastação de 30% do Pantanal

Moradores e animais da região do Pantanal sofrem com a escalada de queimadas e focos de incêndio neste mês de novembro. Nas duas primeiras semanas do mês, a região estabeleceu um  recorde em termos de ocorrências de incêndios, ultrapassando em cinco vezes a média histórica dos últimos 25 anos.

A situação é alarmante por se tratar de uma época tradicionalmente marcada por chuvas, que deveriam amenizar a situação crítica. Mas, de acordo com o Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram registrados 3.024 focos de incêndio, contrastando com a média de 441 focos para essa época do ano, anteriormente mantida desde 1998.

Esses extensos focos de incêndio levaram os governos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a decretar estado de emergência em 14 de novembro. O decreto, assinado pelo governador Eduardo Riedel (PSDB-MS), destaca a atual onda de calor e menciona as temperaturas extremamente elevadas na região, juntamente com a baixa umidade do ar que intensifica a seca.

Segundo o Instituto SOS Pantanal, o fogo ultrapassou áreas que haviam sido controlados em Porto Jofre, se aproximando de pousadas.

As áreas mais prejudicadas estão concentradas no Parque Estadual Encontro das Águas, reconhecido como o maior refúgio global de onças-pintadas, e no Parque Nacional do Pantanal. Apesar dos esforços para conter as chamas, a situação piorou após descargas elétricas atingirem a região.

A falta de chuvas, as altas temperaturas e os ventos fortes estão complicando as operações de combate aos incêndios. As duas principais frentes de fogo já causaram danos em mais de 400 mil hectares de terra no Pantanal.

Repetição de cenas

Em 2020, as queimadas causaram a devastação de 30% da região, resultando na morte de 17 milhões de animais vertebrados. No entanto, o período crítico geralmente encerrava-se em novembro, marcando o início das chuvas anuais. O contraste fica evidente em 2023, quando, em novembro, a região testemunha o auge da destruição em 25 anos.

Desde o dia 1º até a segunda semana do mês, foram registrados 261 incidentes de incêndio. Esse número representa um aumento de 135% em relação a 2020 e uma elevação de 314% em comparação com 2022, durante o mesmo período.

Em maio, o  Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima lançou o Plano de Ação para o Manejo Integrado do Fogo no Pantanal, e anunciou o aumento para 90 brigadistas atuando no Norte do Pantanal, juntamente com a mobilização de quatro aeronaves.

"É uma questão de emergência, não tem como a gente separar responsabilidades porque todos nós sabemos que não existe fogo municipal, fogo estadual e fogo federal", disse a ministra da pasta, Marina Silva (REDE-SP). "O fogo está destruindo o Pantanal", afirmou.