Polícia mata somente negros no Recife pelo segundo ano consecutivo

O Observatório de Segurança aponta que no estado de Pernambuco pessoas negras correspondem a quase 90% das mortes causadas pela polícia

Foto: Divulgação
O número de vítimas da violência policial em PE cresceu 200% em menos de 10 anos


A taxa de mortalidade provocada pela violência policial no estado de Pernambuco cresceu 200% em menos de 10 anos, e a população negra corresponde a quase 90% das vítimas fatais - se considerarmos apenas o Grande Recife, há dois anos consecutivos (2021 e 2022) 100% das pessoas que a polícia matou eram negras. 

Os dados que refletem uma realidade pavorosa de violência são do  estudo “Pele Alvo”, elaborado pela Rede de Observatórios de Segurança, projeto do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC)

Divulgado nesta quinta-feira (16), o relatório mostra que no Brasil inteiro, uma pessoa negra é morta pela polícia a cada quatro horas . Em Pernambuco, a média é de uma vítima a cada quatro dias.



Infelizmente essa realidade não é exclusiva do Recife, onde 11 pessoas negras foram mortas pela polícia em 2022. Apenas quatro vítimas não tiveram informações a respeito de sua raça ou cor de pele.

Em 2021, primeiro ano em que foi constatado que somente pessoas negras acabaram mortas por policiais na região, o Recife registrou 14 mortes provocadas pela ação policial, todas de pessoas pardas, e grande parte dos homicídios ocorreu em áreas periféricas.

Violência policial em Pernambuco

As forças policiais mataram 91 pessoas em Pernambuco durante o ano de 2022. Desse total, 78 eram negras - ou seja, 89,66%. Considerando que a proporção de negros na população do estado é de 65,09%, segundo o IBGE, a onipresença dessa população nas estatísticas de mortes provocadas pela polícia se torna ainda mais gritante.


Outros municípios vizinhos - que fazem parte da Região Metropolitana do Recife - também tiveram apenas negros entre as vítimas fatais da violência policial:

Igarassu - 7 mortes;

Olinda - 6 mortes;

Cabo de Santo Agostinho - 5 mortes.

Além das cidades já citadas, os municípios de Ipojuca (onde fica a famosa e paradisíaca praia de Porto de Galinhas) e Caruaru (principal cidade da região Agreste de Pernambuco) também entraram no “ranking” de número de pessoas negras mortas pela polícia, com cinco mortes cada.

Extermínio da juventude negra

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O estudo aponta 2022 como o segundo ano seguido em que somente negros foram mortos pela polícia pernambucana


O levantamento "Pele Alvo" também traçou um perfil das vítimas fatais da violência policial, e constatou que a maioria dos mortos por intervenções da polícia é composta de pessoas jovens. 

Dos 91 mortos pela polícia no estado, 61 pessoas (ou 68,13% do total) tinham de 12 até 29 anos. A pessoa mais velha morta pela polícia pernambucana no ano passado era um idoso negro de 75 anos, enquanto a mais jovem era uma menina negra de apenas 6 anos.

“Embora tenha acontecido uma diminuição de mortes de 2021 para 2022, e os índices de vítimas possam até serem considerados menores quando comparados a Rio de Janeiro e Bahia, para Pernambuco esse número é relativamente alto, principalmente quando olhamos a partir de 2015, quando 37 pessoas foram mortas pela polícia”, diz um trecho do relatório.

E o governo? 

Foto: Divulgação
Política de segurança da governadora Raquel Lyra não cita o enfrentamento à violência policial contra pessoas negras


A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), lançou um sua política de segurança pública, o "Juntos Pela Segurança" com um investimento bilionário no setor.

Apesar de prever ações como a aquisição de novas viaturas, equipamentos de segurança para os policiais e convocação de concursados, por exemplo, nenhuma das frentes de ação da política de segurança pública no estado sequer chega a citar a problemática da violência policial contra a população negra - muito menos traz medidas para tentar mudar essa realidade.