Operação policial procura ex-senador por mandar matar mãe de sua filha

Além de ser apontado como mandante do assassinato, Telmário Mota é acusado de estuprar a própria filha

Foto: Pedro França/Agência Senado
Senador Telmário Mota, procurado pela Polícia Civil


A Polícia Civil de Roraima iniciou, nesta segunda-feira (30), uma operação para prender o ex-senador Telmário Mota. Ele é suspeito de mandar matar Antônia Araújo de Sousa, de 52 anos - que era mãe de filhas dele - no final de setembro. Em 2022, quando tinha 17 anos, uma das filhas do ex-senador o acusou de tê-la estuprado.

Até o momento, foram cumpridos três mandados de prisão e sete de busca e apreensão. A operação conta com o apoio da Polícia Militar, da Secretaria de Segurança Pública de Roraima (Sesp) e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco).

Antônia foi assassinada com um tiro na cabeça quando saía para trabalhar, por volta das 6h30, no bairro Senador Hélio Campos, zona Oeste de Boa Vista, capital de Roraima. De acordo com informações da Rede Amazônica, a Polícia Civil tenta localizar o ex-parlamentar em Brasília.

Além do ex-senador, são alvos da operação :

- Harrison Nei Correa Mota , conhecido como "Ney Mentira", sobrinho de Telmário , apontado como um dos executores do crime. 

- Leandro Luz da Conceição , suspeito de dar o tiro que matou Antônia e pelo latrocínio da empresária Joicilene Camilo dos Reis , de 49 anos, encontrada morta em sua casa no ano de 2019, com as mãos amarradas por um fio elétrico.


Assassinato

De acordo com informações obtidas pela Rede Amazônica sobre a investigação, Telmário decidiu mandar matar Antônia após uma reunião em que ele designou seu sobrinho como responsável pela execução.

No dia do crime, “Ney mentira” comprou a moto que foi utilizada para se aproximar de Antônia e fugir do local em seguida. O veículo, que custou R$ 4 mil, foi comprado com dinheiro vivo, em nome de outra pessoa e tinha irregularidades na documentação.

Após a compra, a moto foi entregue a uma assessora do ex-senador Telmário Mora, para passar por revisão e reparos numa oficina mecânica. Em seguida, fotos obtidas pelos investigadores provam que a mesma assessora entregou o veículo aos autores do assassinato de Antonia.

Estupro 

Em agosto de 2022, quando Telmário ainda era senador, uma das filhas dele com Antonia que tinha 17 anos, denunciou o pai por tê-la forçado a entrar num carro e ingerir bebidas alcoólicas.

Em seguida, ele teria assediado a jovem, tentado arrancar suas roupas e tocado suas partes íntimas no Dia dos Pais, após a moça ter entrado em contato para passar a data comemorativa com ele. 

"Por ele ser meu pai, por eu ter saído várias vezes com ele eu nunca imaginei. Desde pequena a gente mantinha contato, ele era distante, mas eu era a filha mais próxima dele. Ele nunca tinha dado sinal de um comportamento assim comigo, nunca. Nem para mim, nem para as outras filhas dele. Abalou todo o meu mundo" , disse a filha ao portal de notícias G1.

O caso foi registrado na Polícia Civil como estupro de vulnerável e a juíza Graciete Sotto Mayor Ribeiro, da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, chegou a conceder uma medida protetiva em favor da filha. O então senador negou as acusações e afirmou ser vítima de perseguição política.

Histórico de crimes e polêmicas

Além de ser suspeito de estupro e assassinato, Telmário também é acusado de agredir uma jovem de 19 anos com quem se relacionava desde que ela tinha 16; promover rinhas de galo; e de promover eventos com aglomeração durante o período mais crítico da pandemia de Covid-19. 

Em 2015, Maria Aparecida Nery de Melo, que tinha 19 anos e mantinha um relacionamento com Telmário acusou o ex-parlamentar de tê-la agredido.

À polícia, ela disse que apanhou “até desmaiar”, e que durante três anos e meio, período em que se relacionou com o ex-senador, foi agredida e ameaçada outras vezes.

Ele admitiu o relacionamento, mas negou ter agredido a jovem. Contudo, o exame de corpo de delito apontou que a jovem tinha lesões na cabeça, boca, orelha, dorso, braço e joelho.

Um mês depois da denúncia, a vítima tentou retirar a queixa alegando que se feriu enquanto tentava agredir Telmário, mas a Justiça não acatou o pedido e encaminhou o caso à Procuradoria-Geral da República.

Aglomeração durante pandemia

Enquanto era senador, em janeiro de 2021, Telmário promoveu uma festa com aglomeração na Praça do Grêmio, no Centro de Rorainópolis, quando o estado passava pela fase mais crítica da pandemia da Covid-19. 

Na época, o ex-senador chegou a dizer que o evento já estava programado há mais tempo e que todos receberiam máscaras junto às pulseiras para entrar no evento.

Segundo a Polícia Militar, havia algo entre 1.500 e 2 mil pessoas no evento. Três meses após promover a festa, Telmário recebeu a primeira dose da vacina contra a Covid-19.

Rinhas de galo

Em 2016, durante o mandato de Telmário como senador, a Polícia descobriu a realização de uma rinha de galos numa chácara em que o então parlamentar estava participando de uma festa de aniversário.

Ele negou, afirmando que “não estava nesse local onde estava tendo a rinha. Eu estava em uma outra casa", e que teria sido incluído no processo por denunciar que a polícia teria queimado vivos os animais apreendidos, e não por promover uma rinha.

Telmário também já havia respondido a um processo de participar de uma rinha em 2005, antes de ser senador, mas foi absolvido das acusações de maus tratos a animais, apologia ao crime e formação de quadrilha.