Em seu depoimento à CPMI dos atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro de 2023, nesta quinta-feira (17), Walter Delgatti Neto, mais conhecido como “hacker da Vaza Jato”, apontou envolvimento direto do ex-presidente Jair Bolsonaro, da deputada Carla Zambelli, o marqueteiro Duda Lima e membros do Ministério da Defesa numa conspiração para levar à cabo um golpe de estado, atentando contra o sistema eleitoral.
Reunião golpista
Delgatti afirmou à CPMI que se encontrou com Carla Zambelli e Bolsonaro, numa reunião na qual o então presidente da República pediu ao hacker que assumisse a autoria de um grampo ilegal que teria sido feito contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
O encontro teria sido aceito, segundo Delgatti, mediante uma promessa de emprego que Zambelli lhe teria feito. “Apareceu a oportunidade da deputada Carla Zambelli de um encontro com o Bolsonaro. Ele queria que eu autenticasse a lisura das eleições e, por ser o presidente da República, eu fui ao encontro. Eu estava desamparado, sem emprego, e ofereceram um emprego a mim. Por isso que fui até eles”, declarou Delgatti.
Ele afirmou ainda que a deputada Carla Zambelli lhe pediu para invadir sites de órgãos do Poder Judiciário, com o objetivo de criar uma imagem de fragilidade do sistema das urnas eletrônicas, por meio da criação de um código-fonte falso.
O código falso, sugerido por interlocutores do PL, serviria para criar fake news e insuflar a revolta popular por meio de vídeos falsos em que as urnas supostamente mostrariam pessoas tentando votar em Bolsonaro, enquanto o voto seria registrado para Lula.
Tudo isso teria ocorrido após Bolsonaro perguntar a Walter Delgatti se seria possível invadir, de fato, o sistema eleitoral, e receber “não” como resposta. Além de Bolsonaro e Carla Zambelli, o hacker também apontou a presença do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no encontro.
Ministério da Defesa
Delgatti também afirmou que Bolsonaro pediu que ele fosse levado ao Ministério da Defesa para discutir a possibilidade - ou não - de violar as urnas.
“A ideia era falar sobre as urnas, e a conversa foi técnica até que o presidente me disse: ‘A parte técnica eu não entendo. Então, eu irei enviá-lo ao Ministério da Defesa e com os técnicos você explica tudo isso’. A conversa se resumiu a isso. E ele pediu que eu fizesse o que o Duda [Lima] havia dito sobre o 7 de setembro”, disse Walter Delgatti.
Delgatti afirmou que foi ao Ministério da Defesa cinco vezes e conversou com Ciro Nogueira, e com pessoas do setor de Inteligência da Informação do ministério.
“A ideia inicial era que eu inspecionasse o código-fonte, mas eles explicaram que ele só ficava no TSE e apenas servidores do Ministério da Defesa teriam acesso a tudo que expliquei a eles. Consta no relatório que foi entregue ao TSE. Eu posso dizer que aquele relatório, de forma integral, foi exatamente o que eu disse. Eu apenas não digitei, mas eu que fiz ele porque tudo o que consta nele foi indicado por mim.”
Grampo contra Moraes
Delgatti Neto também disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) lhe pediu para assumir a autoria de um grampo que teria sido realizado contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ele relatou que esse pedido teria sido feito por Bolsonaro por telefone.
“Eu falei com o presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo – que era tão esperado à época – que era do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo foi realizado já, teria conversas comprometedoras do ministro e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo”, disse o hacker.
“Ele [Bolsonaro] disse, no telefonema, que esse grampo foi realizado por agentes de outro país. Não sei se é verdade, se realmente aconteceu o grampo, porque não tive acesso a ele. E disse que, em troca, eu teria o prometido indulto. Ele ainda disse assim: ‘Se caso alguém te prender, eu mando prender o juiz’ e deu risada”, disse Delgatti à CPMI.