Presidente do Sindicato dos Rodoviários do Recife é preso em greve

Aldo Lins estava mobilizando a categoria para uma assembleia, quando foi abordado e detido com truculência pela PM

Foto: Divulgação/Sindicato dos Rodoviários do Recife e RMR
Aldo Lins não resistiu à prisão, de acordo com gravações feitas durante a ação policial


O presidente do Sindicato dos Rodoviários do Recife e RMR, Aldo Lima, foi algemado e detido pela Polícia Militar de Pernambuco na madrugada desta sexta-feira (28), em frente à porta da garagem da empresa Pedrosa, convocando uma assembleia geral da categoria que está no terceiro dia de uma greve por reajuste salarial, melhores condições de trabalho e segurança.

O sindicato afirma que a ação policial foi truculenta e aponta desrespeito ao direito de mobilização e greve. A abordagem de oficiais do GATI-PM foi gravada até o momento em que os PMs arrastaram Aldo até a viatura.

A Polícia Militar afirma que o sindicalista impedia a saída dos veículos mesmo com ordem judicial para liberação da passagem. “O efetivo pediu que ele saísse e ele não obedeceu, desacatando o policiamento e resistindo. Ele foi conduzido à Central de Plantões para serem adotadas as medidas cabíveis", disse a PM em nota. 

Nas imagens, vemos quando um policial reclama de Aldo se colocar na frente do ônibus. Irritado, ele questiona ao presidente do sindicato “vou ter que lhe tirar, então?”. Aldo tenta continuar conversando, mas é impedido quando o policial o agarra à força e o empurra, na tentativa de dar passagem ao veículo.


Em outra gravação, dá para ouvir com clareza o presidente do sindicato argumentando calmamente com o efetivo policial, enquanto um dos policiais - o comandante da operação - gesticula muito e fala alto para Aldo que está ali para cumprir uma ordem judicial “e você está fazendo a gente de palhaço! Bora pra delegacia agora, bora! Aaah, nada, aqui não é cinema, não”. 

O trabalhador, por sua vez, se limita a argumentar que os funcionários estavam sendo obrigados a circular com os veículos contra a vontade, mesmo em greve, enquanto as empresas os coagem a colocar na rua um percentual de veículos maior que aquele determinado pela Justiça.


Em seguida, diante da decisão do comandante, Aldo volta a ser agarrado mesmo sem oferecer resistência, e acaba arrastado pelos policiais militares, que continuam a ação até chegarem à viatura. O sindicato se pronunciou em defesa de Aldo Lima, alegando que "de forma truculenta e abusiva começou o terceiro dia da greve, repressão e desrespeito é o que tem os empresários para seus trabalhadores em reivindicação legítima por melhores salários".

Pouco antes das 8h, Aldo foi liberado pela Polícia Civil, após assinar Termo de Compromisso por desobediência. Na saída da delegacia, ele se reencontrou com sua mãe, que estava muito emocionada e preocupada com o filho, chorando e defendendo-o. 

“Meu filho, meu deus, meu filho! Meu filho foi preso por lutar pelos trabalhadores, ele não é um marginal, não! Eu não sabia que se ia preso por lutar pelos trabalhadores. Eu não sabia, isso não entra na minha cabeça!”, disse ela, abraçada a Aldo.

A imprensa estava no local e, ao questionada por um repórter se tem orgulho de Aldo, a senhora respondeu positivamente: “Muito! Tenho muito orgulho do meu filho! Ele nunca pegou nada de ninguém, nunca! Sempre trabalhando, desde os 15 anos de idade numa kombi”.  


Enquanto isso,o sindicato patronal das empresas que gerem o transporte no Recife, a Urbana-PE, repudiou o comportamento das lideranças rodoviárias, alegando que a classe “segue descumprindo determinações judiciais nesta sexta-feira (28) (...) promovendo bloqueios, piquetes e tentando impedir trabalhadores que não desejam participar do movimento grevista de exercerem as suas atividades". 

A nota ainda diz que “há vários registros de representantes do Sindicato dos Rodoviários esvaziando pneus e depredando ônibus que estavam em operação”. O texto também fala sobre a ação da polícia contra o sindicato, alegando que “em uma dessas investidas, em frente a uma das garagens, o presidente do Sindicato dos Rodoviários, Aldo Lima, foi detido por crime de desobediência e desacato".

Ainda nesta sexta-feira (28), o sindicato dos rodoviários tem uma assembleia marcada para deliberar sobre os rumos da greve, diante da falta de acordo na última reunião para negociação, visto que a Urbana-PE não apresentou uma proposta satisfatória à categoria.

Há, ainda, a expectativa do julgamento do dissídio coletivo dos rodoviários pelo Tribunal Regional do Trabalho da 6ª Região (TRT-6). Apesar de não ter data marcada, espera-se que a corte decida sobre o tema ainda na tarde desta sexta (28). 



Repercussão política

A prisão de Aldo, na posição de presidente de um sindicato em greve, teve grande repercussão no meio político. A ex-deputada que concorreu e ficou em segundo lugar na eleição ao Governo do Estado de Pernambuco em 2022, Marília Arraes, compartilhou imagens do momento em que Aldo foi detido, e criticou a ação da polícia. 


A deputada estadual e ex-vereadora do Recife, Dani Portela (PSOL) também postou um vídeo da prisão do sindicalista. “Absurdo! Aldo Lima, presidente do Sindicato dos Rodoviários, foi levado detido pela PM de Raquel Lyra. Nossa solidariedade à Aldo! Fazer greve não é crime!”, escreveu a parlamentar. 


Ivan Moraes (PSOL), jornalista e vereador do Recife, classificou a atitude da polícia como um retrato de “autoritarismo e violência contra quem trabalha e luta por direitos”.

Por meio dos stories do Instagram , ele afirmou que acordou com a triste notícia de que Aldo “foi detido pela Polícia Militar da governadora Raquel Lyra. A mesma Raquel Lyra cuja família detém empresas de ônibus no nosso estado”. 

Ele continua, falando sobre “a mesma Raquel Lyra que não tem feito nenhum esforço para acabar com essa greve. A mesma Raquel Lyra que não tem dialogado, não tem usado sua influência diante da Urbana, o sindicato patronal, para que os patrões sentem na mesa e ofereçam uma proposta digna aos trabalhadores e trabalhadoras. O que essa rapaziada tá oferecendo é pífio, é ridículo. (...) O que a gente precisa é do esforço de toda a população e do Governo, para que essa greve termine”.

Por sua vez, a governadora Raquel Lyra (PSDB) fez uma postagem em suas redes sociais, afirmando que o governo “respeita o direito à greve e a luta dos trabalhadores”. Até então, este é o único pronunciamento da gestora e o Sindicato dos Rodoviários afirma que está tentando entrar em contato com Raquel Lyra. 


Greves em Pernambuco

Além dos rodoviários, outras categorias de trabalhadores também têm enfrentado dificuldades e judicialização de seus movimentos trabalhistas.

Um desses sindicatos é o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Pernambuco (Sintepe), que desistiu da greve que havia anunciado depois que uma decisão judicial movida pelo Governo do Estado.

A decisão impôs multa de e R$ 50 mil a R$ 1 milhão e possibilidade de desconto nos salários dos Trabalhadores em Educação que aderirem à greve, antes mesmo que o serviço fosse paralisado.

"Essa ofensiva contra os trabalhadores e as trabalhadoras em educação revela o caráter autoritário e sem diálogo do Governo do Estado na relação com a categoria e compromete o direito à educação e à valorização profissional", disse Ivete Caetano, presidenta do Sintepe.  

Os metroviários também estão em campanha salarial e vêm promovendo paralisações dos serviços. Após uma paralisação de 48 horas que coincide com a greve dos rodoviários, o metrô do Recife voltou a operar.

Além do reajuste, os metroviários lutam por benefícios, melhoria estrutural no metrô e pela não privatização do sistema de transporte por trens urbanos.

A categoria tem uma nova assembleia marcada para às 18 horas do dia 1º de agosto, na qual pode ser deflagrada greve geral, mas vem enfrentando judicialização do movimento até nas paralisações.