O esquema de troca de bagagens no Aeroporto Internacional de Guarulhos envolvia a simulação de check-in e conversas entre os integrantes da quadrilha por meio de códigos. Na ação, os criminosos trocam as malas de passageiros por outras repletas de drogas para tráfico de entorpecentes.
Na última semana, a Polícia Federal deflagrou a segunda fase da Operação Efeito Colateral, para capturar integrantes do grupo criminoso responsável pelo esquema de tráfico internacional de drogas que levou à prisão das brasileiras Jeanne Paollini e Kátyna Baía na Alemanha, caso que teve grande repercussão em março deste ano.
Os detalhes de como o esquema funcionava foram revelados pelo programa Fantástico , da TV Globo, nesse domingo (23). Em uma das primeiras etapas da ação, os criminosos supostamente faziam um check-in. Imagens divulgadas mostram uma funcionária da companhia aérea Gol simulando o procedimento com um homem, que leva a mala que ela carregava. No entanto, nenhum comprovante é emitido.
Depois, o esquema continuava na área interna do aeroporto. A funcionária era orientada a mentir caso alguém a questionasse sobre o despacho da bagagem, dizendo que o dono da mala só pediu informação sobre o check-in e ela não o conhecia.
Além disso, toda a ação envolvia o uso de códigos por parte dos integrantes. Áudio adquirido pela PF nas investigações mostram a atendente Carolina Pennachiotti, de 35 anos, reclamando do trabalhando, dizendo que está com fome e esperando mandarem "a bola" — que significaria despachar a mala com cocaína.
Como o esquema funcionava
Imagens de 23 de outubro do ano passado, obtidas pelo Fantástico , mostram um carro chegando ao aeroporto e, depois, o motorista indo embora. Um homem desce do veículo com uma mala repleta de cocaína.
Uma funcionária da Gol, Tamiris Zacharias, de 31 anos, é vista com um telefone na mão próxima à área de check-in. O homem que estava com a bagagem e também tinha o celular nas mãos, se encontra com a mulher e eles chegam juntos ao balcão de atendimento.
Ela recebe a mala, como em um procedimento normal, mas não emite nenhum comprovante. A cocaína vai para a esteira e a funcionária sai do guichê acompanhada do homem, que depois vai embora sozinho. Ele ainda não foi identificado.
Segundo o Fantástico , na mala, havia 43 quilos de cocaína e nenhum criminoso apareceu para buscar a droga em Lisboa, Portugal.
Na próxima etapa, já na área restrita do aeroporto, o funcionário Deivid Souza Lima coloca uma mala na frente da ação para que as câmeras não captem o que ele está fazendo. Nisso, outro funcionário, identificado como Pedro Venâncio, pega a etiqueta de uma bagagem e coloca no bolso. A mala com drogas aparece cerca de 15 minutos depois.
Nesse momento, Pedro coloca a etiqueta furtada na mala com a cocaína, que é despachada e vai até Paris, na França. No local, os criminosos tentam pegar a droga, mas foram presos.
Três acusados de chefiar a quadrilha no aeroporto foram identificados pela PF. Um deles é Fernando Reis, também chamado de Brutus. Ele teria orientado Tamiris sobre o que dizer caso a perguntassem sobre o check-in.
A mulher foi demitida e confessou ter participado do esquema em depoimento à polícia.
A Gol disse que, desde que soube das investigações, em abril deste ano, se colocou à disposição das autoridades e afirmou repudiar as ações.