As últimas semanas foram marcadas por fortes chuvas em diversas regiões brasileiras . Municípios do litoral norte de São Paulo sofreram com deslizamentos de terra e alagamentos na tragédia que soma ao menos 65 mortos . Com isso, muitas pessoas acabaram entrando em contato com água contaminada e com a lama trazidas pela chuva. Mas quais são os riscos para a saúde de caminhar em água de alagamento?
Nesse cenário, algumas doenças infecciosas podem ser transmitidas somente pelo contato com a pele, como é o caso da leptospirose , que tem contágio por meio da exposição à urina de ratos. A doença pode ter quadros mais leves, com sintomas como febre, dores no corpo e dores de cabeça, mas também pode atingir um estágio mais grave, que pode levar o paciente a uma internação na UTI, de acordo com Dr. Ivan França, Infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Em sua forma mais grave, a leptospirose pode causar insuficiência hepática, renal e inflamação no fígado, a hepatite.
Além dessa doença, outras também estão relacionadas ao contato com água contaminada, como a febre tifoide e a hepatite A.
Durante os blocos de rua , que foram registrados até o último fim de semana, muitos foliões também tiveram contato eventual com água de chuva . O médico, explica, no entanto, que não há motivo para preocupação. "Somente tomar chuva durante o bloco, o máximo que se pode pegar é um resfriado ou mesmo propiciar micoses de pele, caso a pessoa tenha ficado com a roupa molhada por muito tempo. O perigo é se teve contato com essa água de esgoto que fica acumulada, de enxurrada", afirma França.
A recomendação, nesses casos, é tentar ficar o menor tempo possível pisando na água contaminada, na lama e evitar manusear objetos que tenham sido diretamente atingidos por ela.
O que fazer depois de já ter entrado em contato com água contaminada?
Caso o indivíduo tenha tido contato prolongado com água de alagamento , é recomendável buscar atendimento médico.
"Em alguns casos existem profilaxias [medidas para prevenir ou atenuar uma transmissão] a serem feitas para essas doenças [leptospirose, febre tifoide, hepatite A]", aponta o infectologista. "No caso da hepatite A também tem a vacina, que todos devem tomar".
Segundo o Plano Nacional de Imunização (PNI) , o imunizante é recomendado para ser tomado como dose única, aos 15 meses de vida, podendo ser aplicado até a criança completar, no máximo, cinco anos. Na rede privada, a vacina é administrada em duas doses, uma aos 12 e outra aos 18 meses, seguindo orientações das sociedades de pediatria e de imunizações.
O médico alerta que também é importante ficar atento a sintomas como febre, diarreia, dor de cabeça, náuseas e vômitos. "Na leptospirose, por exemplo, a pessoa pode ter os olhos amarelados, o que a gente chama de icterícia, pode ter a urina escura ou a diminuição da quantidade de urina", explica.
"Qualquer sintoma desse, o paciente deve procurar um médico, um posto de saúde ou um pronto-socorro, poque pode ser o sinal de alguma doença grave."
Cuidados com a casa após alagamento
Conforme o biomédico Roberto Martins Figueiredo, especialista em saúde pública, os resíduos contidos nessa água proveniente de alagamento também podem contaminar todos os locais e superfícies que foram atingidos, como pisos, paredes, móveis e outros objetos.
Dessa forma, antes de manusear esses itens, o ideal é proteger as mãos e pés com luvas de borracha ou sacos de plástico duplos.
- Alimentos podem ser reaproveitados?
De acordo com Figueiredo, medicamentos e alimentos que tenham entrado em contato com a água de alagamento devem ser descartados, mesmo que estivessem embalados com plásticos ou lacrados, já que, mesmo assim, podem estar contaminados.
A regra vale para alimentos que vão desde frutas, legumes e carnes até enlatados. Os que estão lacrados de maneira que impede a entrada e saída de ar e não foram contaminados por dejetos podem ser consumidos desde que as latas não estejam inchadas e não tenha ocorrido vazamento. Antes de serem abertas, as embalagens devem ser devidamente desinfetadas.
Quando as pessoas forem se alimentar, além de lavar muito bem as mãos, o biomédico afirma que o ideal é procurar ingerir e utilizar no preparo das refeições apenas água potável, que não tenha tido qualquer contato com o alagamento. Ainda assim, para garantir que a água esteja segura para consumo, é recomendável colocá-la para ferver por ao menos um minuto, ou adicionar duas gotas de hipoclorito de sódio com concentração de 2,5%, a água sanitária, para cada litro de água.
A solução, própria para diluir na água, beber e cozinhar, pode ser encontrada em farmácias ou supermercados, mas, em situações de enchentes, geralmente órgãos de Defesa Civil
e Vigilância Sanitária distribuem gratuitamente o produto à população afetada.
Na falta de alguma dessas opções, o biomédico explica que a água sanitária pode ser utilizada, mas se atentando a adquirir apenas aquelas que tenham registro e não contenham outras misturas, como essências ou corantes.
Utensílios domésticos, como pratos, talheres e panelas também devem ser devidamente higienizados. O especialista explica que o ideal é lavá-los normalmente com água e sabão e, depois, mergulhar os objetos por pelo menos uma hora em uma solução de 200 ml de hipoclorito de sódio a 2,5% e 800 ml de água.
- E no caso de móveis e paredes?
Segundo o Dr. Ivan França, tudo o que puder ser lavado com água, sábado e hipoclorito de sódio deve ser feito, para garantir que estará limpo. Isso também vale para móveis, pisos, paredes e roupas.
"Itens como estofamentos, móveis que tem estofado, colchões e cobertores não adianta colocar no sol, porque esses agentes infecciosos podem continuar ali. Então, infelizmente, qualquer móvel que tenha este acolchoado e não puder ser lavado, não é possível salvar", explica o infectologista, ressaltando que deve haver um cuidado especial com eletrodomésticos, como geladeira e fogão.
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