Em depoimento, Anderson Torres diz que minuta é 'descartável'

Ele negou saber quem tinha escrito o decreto e disse não saber onde está seu celular

Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública
Foto: Reprodução
Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e Segurança Pública

O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres negou ter escrito a minuta golpista encontrada em sua casa e que alterava o resultado das eleições. Ele prestou depoimento à Polícia Federal na tarde desta quinta-feira (2).

Aos policiais, ele disse não saber quem redigiu a minuta e chamou o documento de "descartável". Ele ressaltou não haver "viabilidade jurídica" na proposta.

"Que considera a minuta do decreto totalmente descartável; que se tratava de um documento sem viabilidade jurídica; que não foi o declarante que colocou a pasta com o decreto na estante e que acredita que possa ter sido sua funcionária ao arrumar a casa; que não é por ter sido encontrado na estante é que teria importância; que na verdade já era para ter sido descartado", disse Torres.

"Deixa ressaltado que tecnicamente o documento é muito ruim, com erros de português, sem fundamento legal, divorciado da capacidade dos assistentes do Ministério da Justiça em produzir o documento; que não sabe e não tem ideia de quem elaborou esse documento", completou.

O documento foi encontrado na casa do ex-ministro após uma operação determinada por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, Torres já havia declarado que o documento seria descartado.

A minuta determinava estado de defesa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para investigar as interferências da Corte no resultado do pleito de 2022. Militares e ministros participariam das investigações, que seriam comandadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O ex-ministro ainda foi questionado sobre a entrega de seu telefone celular e o motivo de não ter voltado com ele ao Brasil. Ele informou que não sabe onde está o aparelho e que o desligou após receber ligações quando sua prisão foi decretada.

"Indagado a respeito da localização do seu aparelho celular, informou que não o deixou nos Estados Unidos, mas o perdeu; que com a decretação de sua prisão no Brasil, passou a ser procurado por uma infinidade de pessoas, ocasião em que resolveu desligar o celular; que não sabe onde ele se encontra, mas pode fornecer a senha da nuvem; que apenas utiliza o telefone pessoal e todas as conversas estão nesse celular; que, se necessário for, se compromete voluntariamente a fornecer login e senha", declarou o ex-ministro.

Anderson Torres está preso em Brasília suspeito de conivência aos ataques na capital federal. Prédios do Congresso Nacional, Palácio do Planalto e STF foram invadidos por terroristas no último dia 8 de janeiro.

Questionado, Torres afirmou que sabia das manifestações, mas as informações davam conta de que seriam pacíficas. Ele disse ter verificado os protocolos de segurança antes mesmo de sua viagem aos Estados Unidos.

"Que indagado se recebeu informações ou informe de inteligência sobre as manifestações que ocorreriam no dia 8 de janeiro, respondeu que recebeu essas informações no dia 6, pela manhã. Que essas informações não indicavam ações radicais".

"Antes de assinar analisou integralmente o protocolo de ações integradas e verificou que dentro das atribuições da SSP constavam todas as diretrizes necessárias para que os órgãos de segurança pública realizassem seus deveres, com as informações que estavam disponibilizadas até então. Ao perceber que todo o protocolo estava adequado para a manifestação que poderia ocorrer, ao colocar o Governador em contato com o secretário executivo, entendeu que poderia prosseguir com sua viagem familiar anteriormente planejada", completou Torres, em seu depoimento.