Mirelis Zerpa, esposa do “Faraó dos Bitcoins”, acionou os advogados e ocupou as redes sociais para mandar um recado aos clientes da GAS Consultoria e Tecnologia: não tem dinheiro para indenizá-los. Embora Mirelis tenha sacado cerca de R$ 1 bilhão em bitcoins no dia seguinte à prisão do marido, Glaidson Acácio dos Santos, em 26 de agosto do ano passado, os advogados da venezuelana garantiram que os recursos já foram usados para honrar os pagamentos a investidores nos dias seguintes.
Mirelis está foragida desde 25 de agosto, com dois mandados de prisão preventiva por lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro nacional. Imagens gravadas em vídeo, dias antes da Operação Kryptos, que prendeu Glaidson e outros integrantes da quadrilha, mostram a venezuelana embarcando no Aeroporto de Cabo Frio. Ela teria ido para Miami, nos Estados Unidos, onde estaria até hoje.
Com o aval dos advogados, Mirelis tem divulgado vídeos nas redes sociais na tentativa de minimizar a sua participação no esquema da GAS, que lesou pelo menos 120 mil clientes — número de pessoas já cadastradas no Escritório Zveiter, que cuida da recuperação judicial da empresa. Ela alega, entre outros argumentos, que nunca foi sócia administradora das empresas que operavam diretamente com bitcoins.
"A mensagem é personificar a Mirelis. Não existia uma fala dela nos autos. Tudo era a respeito de Glaidson. Mas as funções de cada um na empresa eram diferentes. Ela era uma trader, tinha o conhecimento técnico, e participação minoritária por ser mulher de Glaidson, mas nunca atuou na estrutura da empresa. O próprio Glaidson assinou declaração formal atestando isso", disse Ciro Chagas, advogado da venezuelana.
O valor sacado por Mirelis, já foragida, corresponde, segundo o advogado, ao volume de pagamento mensal na GAS: "Ativos foram sacados para manter o pagamento dos clientes. Mirelis tinha esperança de que o caso fosse resolvido rápido. Embora pareça uma quantidade relevante, as operações da empresa eram bem maiores. Ela alega que utilizou e já esgotou o saldo. Parou de mexer nos ativos, mas não sabe dizer que ficou algum saldo".
Em um dos vídeos gravados, Mirelis disse que “a hora de abrir a Caixa de Pandora, o que me deixa muito nervosa, mas nunca é tarde para começar a fazer um diário de sua vida, para desabafar”.
Recurso no STJ
Sob a relatoria do ministro João Otavio de Noronha, está para ser julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um recurso de Mirelis para revogar as duas prisões preventivas. Como o mesmo Noronha abriu caminho, um voto divergente, para a revogação de uma das prisões preventivas de Glaidson, o advogado da venezuelana tem esperança de que o STJ siga o mesmo entendimento para Mirelis.
O julgamento, segundo ele, está previsto para este mês. Porém, ainda que o recurso seja acolhido, não há garantias de que Mirelis retorne ao Brasil. Ciro Chagas disse que a cliente relata que vem sofrendo ameaças contra a sua integridade física, razão pela qual teme o retorno ao país onde ajudou o marido a construir um pequeno império financeiro.
As declarações de Mirelis, reforçadas pelos advogados, foram recebidas como bravata por Artêmio Picanço, chefe de um dos escritórios com o maior volume de clientes lesados pelas empresas do “Faraó dos Bitcoins”. Com base em fontes abertas, o advogado disse que Mirelis começou a movimentar os bitcoins sacados somente no dia 13 de setembro, fazendo mais dois saques nos dias 16 de 17, quando os pagamentos tinham sido suspensos no dia 15.
"Por que o dinheiro ficou parado tantos dias? Por que Mirelis continuou sacando mesmo após a suspensão dos pagamentos? Não há nada que prove o uso do dinheiro para pagar clientes", lamenta Picanço.
O advogado de clientes lesados lembrou ainda que Mirelis é quem assina todos os contratos da GAS como avalista, razão pela qual não pode agora se eximir das suas responsabilidades cíveis e penais.
Investigações da Polícia Federal, em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), revelaram que Mirelis transferiu cerca de R$ 2,3 milhões de suas contas para as da irmã, Noiralis, à revelia da Justiça brasileira. A operação foi efetuada na primeira quinzena de dezembro pela Binance, espécie de bolsa de valores de criptomoedas. Como a Binance registra em fontes abertas as operações de compra e venda de criptomoedas, os investigadores constataram a transferência de dez bitcoins em favor de Noiralis Zerpa.
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