A ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro Ana Cristina Valle foi intimada pela Polícia Federal para prestar depoimento na semana passada. Sem dar qualquer justificativa, porém, ela não compareceu.
O depoimento ocorreria no inquérito aberto para apurar suposta prática de tráfico de influência por parte de Jair Renan Bolsonaro, filho dela com o presidente, conhecido como "Zero Quatro". A PF investiga se ele intermediou contatos de empresários com integrantes do governo federal em troca da captação de doações para a montagem de sua empresa de eventos. Procurada, Ana Cristina informou por meio de sua assessoria de imprensa que não iria se manifestar.
Normalmente, em casos como esse, a PF volta a notificar o investigado que ele preste depoimento. Após a ausência de Ana Cristina Valle, a PF expediu nova intimação para agendar uma outra data para ouvi-la.
O Código de Processo Penal previa a possibilidade de aplicação da condução coercitiva caso um investigado seja intimado e não compareça a um interrogatório, mas esse instrumento foi barrado por um julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) realizado em 2018.
A PF decidiu ouvir a mãe do Zero Quatro depois que ela foi citada em depoimentos de empresários. Parte deles sustenta que Ana Cristina manteve contatos com os potenciais patrocinadores da empresa de Jair Renan. A investigação busca saber se ela também atuou para abrir portas do governo federal para o setor privado.
Doação de R$ 9,5 mil
O GLOBO revelou, em abril, que a PF obteve mensagens indicando que uma arquiteta contratada para fazer o projeto de reforma de uma sala comercial usada por Jair Renan pediu a ele ajuda para intermediar um encontro de empresários do Espírito Santo com o presidente da República. Imagens anexadas ao inquéritos mostram que o tal empresário foi recebido por Bolsonaro.
As mensagens obtidas pela PF expõem como um representante de Jair Renan - um personal trainer ligado ao Zero Quatro - buscou doações de empresários para financiar a montagem da sala comercial que ele usaria. Um dos que contribuiu foi Luís Felipe Belmonte. Empresário com acesso a Bolsonaro, ele admitiu em depoimento à PF ter pagado R$ 9,5 mil pelos serviços da arquiteta na reforma da sala. Belmonte tem ligações políticas. Ele era um dos escalados para botar de pé o partido Aliança pelo Brasil, sigla ao qual Bolsonaro se filiaria, mas que não saiu do papel.
Belmonte disse, no seu depoimento, que nunca pediu benefícios no governo federal nem nenhum favor a Jair Renan.
Sempre que procurado, Jair Renan tem negado as acusações de tráfico de influência. Ele afirmou à PF que seu nome foi usado indevidamente por terceiros.
Além desse inquérito, Ana Cristina Valle ainda é alvo de investigação pelo Ministério Público do Rio no caso das rachadinhas no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro e chegou a ter o sigilo quebrado naquele caso, por suspeita de participação no desvio de salários de assessores do gabinete.
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