Morto a tiros na noite de sábado, em Foz do Iguaçu (PR), o guarda municipal Marcelo Arruda, dirigente do PT na cidade paranaense , fez questão de convidar para o seu aniversário de 50 anos todos os amigos — inclusive aqueles com quem tinha divergências políticas incontornáveis. A celebração, que tinha como tema o partido ao qual estava filiado há uma década e o ex-presidente Lula, terminou depois que o agente penal bolsonarista Jorge Guaranho entrou disparando no salão onde, até então, a tolerância imperava.
"Meu pai estava muito feliz por estar ao lado das pessoas que amava. Ele nunca quis converter ninguém politicamente e sempre respeitou a opinião das pessoas. Estava disposto a debater com os argumentos que tinha. Sempre foi de ler muito", destacou, ao GLOBO, Leonardo Miranda de Arruda, de 26 anos, filho mais velho do guarda municipal assassinado. "Ideia da festa surgiu há um ano. Tínhamos que fazer uma festona para comemorar os 50 anos dele."
A capacidade de convivência vinha também das duas principais atividades que exercia: na condição de guarda municipal, parte da tarefa era a intermediação de conflitos; na seara política, além das atividades partidárias, enfrentou duas campanhas percorrendo a cidade rua a rua, invariavelmente precisando convencer eleitores pouco simpáticos ao PT — em 2018, o presidente Jair Bolsonaro teve 70% dos votos no segundo turno contra Fernando Haddad.
Arruda, que à época já tinha histórico de atuação em sindicatos, estreou na política “formal” em 2012, quando concorreu a vereador — com 426 votos, ficou distante do objetivo. Há dois anos, candidatou-se a vice-prefeito de Luiz Henrique Dias. Outra vez, a meta não foi atingida: com 2.884 votos, ou 2,2% do total, a chapa petista ficou em sexto lugar.
Biólogo por formação, Arruda tinha a causa ambiental como uma das bandeiras principais. O tema estava presente nos discursos de quando concorreu a vereador, na ilustração de seu perfil nas redes sociais (que levava uma arara em seu ombro) e até na camiseta usada nos vídeos, trocando o tradicional vermelho do PT pelo verde com a estrela que simboliza o partido. Nos vídeos de seu canal no Youtube, a compensação por emissão de carbono e a sustentabilidade dão o tom das publicações.
"Ele não conseguiu se eleger, mas foi uma campanha muito comemorada pelo baixo investimento que teve. Foi uma campanha limpa, com ele ouvindo os moradores de casa em casa", recorda Leonardo.
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