Após a prisão em flagrante do médico Giovanni Quintella Bezerra, por estupro de uma paciente durante uma cesariana na tarde de domingo (10) , a mãe de outra paciente sedada pelo anestesista relatou à TV Globo ter estranhado como a filha voltou da mesa de cirurgia. Segundo a mulher, que manteve o anonimato, a filha dela saiu da cirurgia ainda dopada e estava suja.
"Quando minha filha veio da mesa de cirurgia, ainda desacordada, ela veio suja. Percebi sobre o rosto e sobre o pescoço dela algumas casquinhas secas, brancas. Eu não sabia o que era. Achava que era algum medicamento que tinha entornado", contou.
Ela ainda relatou à TV Globo que a filha contou que "todo o tempo o Giovanni ficou perto da cabeça". A paciente disse à mãe que questionou o médico o motivo de estar com sono, em que disse: 'Eu, meio sonolenta, falei pra ele: por que eu tô com tanto sono assim?". Com isto o médico teria dito: "E ele todo o tempo falando: 'Não, fica calma, relaxa, dorme, fica tranquila'".
Um dos comportamentos de Giovanni que despertou a desconfiança no restante da equipe médica, há cerca de dois meses, foi a alta quantidade de sedativos. Em depoimento, publicado pelo portal g1, uma das funcionárias conta que as pacientes eram sedadas ao ponto de "nem sequer conseguir segurar os seus bebês". Segundo ela, no centro cirúrgico, "Giovanni ficava sempre à frente do pescoço e da cabeça da paciente, obstruindo o campo de visão de qualquer pessoa".
De acordo com a funcionária, o comportamento do médico chamou a atenção logo na primeira cesariana:
"Após a saída do acompanhante da paciente da sala de cirurgia, Giovanni usou um capote, fazendo uma cabana que impedia que qualquer outra pessoa pudesse visualizar a paciente do pescoço para cima", narra o termo de declaração conseguido pelo g1.
Para saber se outras mulheres foram vítimas do profissional, a Deam requisitou todos os prontuários de pacientes da unidade nos últimos meses. O objetivo é saber se outras gestantes foram vítimas do profissional.
"Queremos saber o que foi ministrado. É preciso que o hospital forneça esses documentos para sabermos o que ele aplicou nas vítimas, como foram e tal. Queremos ter ideia de outras possíveis vítimas", salientou a delegada titular da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti, Bárbara Lomba.
Equipe participou de flagrante
A investigação começou após funcionárias da unidade de saúde desconfiarem da conduta do médico. A gravação registrou o homem colocando o pênis na boca de uma paciente quando ele participava do parto dela. A gravação foi entregue a investigadores da Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de São João de Meriti.
Enfermeiras e técnicas do Hospital da Mulher de Vilar dos Teles já vinham desconfiando da atitude do médico anestesista há meses. Para provar as suspeitas, elas passaram a gravar o especialista quando ele fazia os partos. E na noite do último domingo não foi diferente. Bezerra foi flagrado estuprando uma grávida durante uma cesariana na unidade. As imagens serviram de prova para a prisão em flagrante do médico.
As funcionárias que denunciaram o médico contaram que, só no domingo (10), Giovanni teria participado de outras duas cirurgias em salas onde a gravação não era possível. Só na terceira operação as imagens foram possíveis. A gravação foi feita por um celular escondido.
Nas imagens do flagrante, a paciente está deitada na maca, inconsciente, prestes a dar à luz. Do lado esquerdo do lençol, a equipe cirúrgica do hospital começa a cesariana. Enquanto isso, do lado direito, a cerca de um metro de distância dos colegas, Giovanni abre o zíper da calça, coloca o pênis para fora e o introduz na boca da grávida.
O crime dura aproximadamente 10 minutos. Enquanto abusa da vítima, o anestesista se movimenta para que ninguém na sala perceba. Quando termina, ele pega um lenço e limpa a vítima para esconder os vestígios. Para fazer a gravação, de última hora, a equipe conseguiu trocar a sala, esconder o telefone num armário de vidro e, então, confirmar o flagrante.
O advogado Hugo Novais, que defende Giovanni, afirmou que "ainda não obteve acesso à íntegra dos depoimentos e elementos de provas que foram produzidos durante a lavratura do auto de prisão em flagrante". Ainda de acordo com a defesa, "após ter acesso a sua integralidade, se manifestará sobre a acusação realizada em desfavor do anestesista".
Por meio de nota, a Fundação Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a Secretaria de Estado de Saúde afirmam repudiar "veementemente a conduta do médico anestesista" e "estão à disposição da polícia, colaborando com a investigação".
Os órgãos ainda informam "que será aberta uma sindicância interna para tomar as medidas administrativas, além de notificação ao Cremerj. A equipe do Hospital da Mulher está prestando todo apoio à vítima e à sua família". O texto ainda destaca que o caso, "além de merecer nosso repúdio, constitui-se em crime, que deve ser punido de acordo com a legislação em vigor".
O presidente do Cremerj, Clovis Bersot Munhoz, afirmou que um processo ético profissional já foi aberto para apurar o caso.
"O Cremerj-RJ recebeu as denúncias e, diante da gravidade das mesmas, abriu imediatamente um procedimento cautelar para suspensão das atividades do profissional e deu início a instauração de processo ético profissional, cuja sansão máxima é a cassação", disse ele.
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