MPF pede volta de aulas de direitos humanos nos cursos da PRF

Ação requer restituição da Comissão de Direitos Humanos, extinguida 20 dias antes do assassinato de Genivaldo dos Santos, no Sergipe

Dois agentes imobilizaram Genivaldo e depois o colocaram na viatura junto ao gás de pimenta
Foto: Imagens da internet
Dois agentes imobilizaram Genivaldo e depois o colocaram na viatura junto ao gás de pimenta

Um mês após a morte de Genivaldo dos Santos, durante uma abordagem de policiais rodoviários federais no Sergipe , o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma ação para que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) volte a ministrar aulas de direitos humanos, incluindo protocolos de abordagem policial a grupos vulneráveis. no seu curso de formação. A ação também pede prioridade às apurações disciplinares e processos que envolvam violações de direitos humanos e abuso de poder.

No último dia 30 de maio, cinco dias após a morte de Santos, o MPF havia recomendado à PRF a revogação da Portaria DG/PRF nº 456/ 2022, que extinguiu as comissões de Direitos Humanos da instituição, além de recomendar o restabelecimento do ensino de direitos humanos nos cursos de formação e reciclagem dos agentes. Na ocasião, a PRF respondeu que acataria parcialmente o pedido, apenas abordando o tema nos cursos, de forma transversal.

Procuradores citam "operações desastrosas"

Sem o êxito da recomendação, o MPF partiu agora para a ação civil pública (ACP). Na ação, os procuradores Mariane Guimarães e Helio Telho destacaram, além do assassinato de Santos, a operação policial na Vila Cruzeiro, no Rio, que resultou em 23 mortes, e ainda citaram que "outras operações desastrosas podem ser facilmente encontradas numa rápida pesquisa no Google". Para os procuradores “Tais fatos não podem ser atribuídos somente a condutas isoladas de um ou outro agente, mas são fruto de uma doutrina estatal que atribui aos policiais a missão de combatentes, quando são, ou deveriam ser, guardiões e protetores da sociedade e do cidadão”.

A ACP ainda explica que a Comissão Nacional de Direitos Humanos da PRF surgiu em 2008, na comemoração de 60 anos da Declaração Universal de Direitos Humanos, e atuava junto à Corregedoria no enfrentamento de assédio moral e sexual, além de promover ações sobre os direitos dos policiais e combate à depressão e suicídio dentro da instituição. Mas, no dia 3 de maio, pouco antes do assassinato de Santos, "aparentemente atendendo a uma política de estado, surpreendentemente a Portaria DG/PRF nº 456 extinguiu as Comissões de Direitos Humanos da PRF", afirmaram os procuradores.

Na ação, o MPF também requereu a garantia de que todo policial da instituição que praticar abuso de autoridade ou outra violação a direitos fundamentais frequente imediatamente curso de reciclagem sobre protocolos de atendimento e direitos humanos, e que a disciplina Direitos Humanos e Cidadania já seja incluída no curso de formação em andamento, iniciado no último dia 17. Os procuradores citaram a necessidade em abordar temas que envolvam protocolos de abordagem policial a grupos vulneráveis (negros, mulheres, indígenas, quilombolas, portadores de enfermidades físicas e mentais, população LGBTQIA+ etc.), com enfoque na população pobre e negra.

Por fim, a ação requer que a PRF dê prioridade às apurações disciplinares administrativas e aos processos que envolvam violações de direitos humanos e abuso de poder, com apresentação de resultados dessas investigações em relatórios.

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