O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira que exagerou quando afirmou que "colocaria a cara no fogo" pelo ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, mas que bota "a mão no fogo" pelo ex-dirigente do MEC e por outros ministros. Bolsonaro também afirmou que continua "acreditando" em Ribeiro que, segundo ele, "nem devia ter sido preso".
“Eu falei lá atrás que botava a cara no fogo por ele. Eu exagerei. Mas eu boto a mão no fogo pelo Milton. Assim como boto por todos os meus ministros, porque o que eu conheço deles, a vivência, etc, dificilmente alguém vai cometer um ato de corrupção”, afirmou Bolsonaro em durante a live semanal.
O ex-ministro foi preso nesta quarta-feira por suspeitas de envolvimento em corrupção e tráfico de influência durante sua gestão à frente do Ministério da Educação.
Também foram presos e alvo de mandados de busca e apreensão os pastores lobistas Arilton Moura e Gilmar Santos, por suspeitas de crimes na liberação de recursos do MEC para prefeituras, além de Luciano Musse, ex-gerente de projetos da Secretaria Executiva da pasta, e o ex-assessor da Secretaria de Planejamento Urbano da prefeitura de Goiânia Helder Bartolomeu.
Nesta quinta-feira, o desembargador federal Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), aceitou um habeas corpus apresentado pela defesa do ex-ministro e mandou libertá-lo. A decisão é liminar e vale até o julgamento do caso pela Terceira Turma do TRF-1. Ney Bello não determinou a aplicação de nenhuma medida alternativa à prisão, como o uso de tornozeleira eletrônica.
Ao longo da sua declaração, Bolsonaro saiu em defesa do ex-ministro. Afirmou, por exemplo, que o juiz responsável pela determinação da prisão de Milton, Renato Coelho Borelli, da 15ª Vara Federal do Distrito Federal, foi responsável por "várias ações contra o governo".
Bolsonaro também relembrou o início do caso, quando o jornal "Folha de S.Paulo" publicou um áudio no qual Ribeiro afirma que prioriza a liberação de verbas prefeituras cujos pedidos foram negociados por dois pastores. No áudio, o ministro afirmou que atendeu a uma solicitação do presidente Jair Bolsonaro.
“Porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar. [...] Por que ele? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do Gilmar”, disse o ministro na conversa.
Nesta quinta-feira, Bolsonaro afirmou que Milton falou publicamente que atendia a todos os prefeitos, mas "preferencialmente" os "indicados" pelos pastores "para dar uma moral". Bolsonaro afirmou que não é "nada demais".
“Milton, que ele falou publicamente, falou para várias pessoas, olha, nós atendemos a todos os prefeitos, independente de partido, atendemos a todos, agora, preferencialmente, os indicados pelo pastor tal, para dar uma moral pra ele, nada demais.”
O chefe do Executivo também disse que não havia "materialidade" para a prisão do ex-ministro, e que o episódio teria servido para "fazer uma maldade com a família" de Ribeiro e "desgastar o governo". Disse também que Milton Ribeiro é "responsáveis pelos seus atos", mas que não poderia "desconfiar" por um motivo "leviano".
Logo após a notícia da prisão do ex-dirigente do MEC, Bolsonaro defendeu em entrevista à Rádio Itatiaia que ele “responda pelos atos dele”.
“Não tinha materialidade nenhuma para a prisão do Milton, mas serviu para desgastar o governo, para fazer uma maldade com a família do Milton. Se tiver algo de errado na vida do Milton, ele é responsável pelos seus atos, mas eu não posso desconfiar, levantar uma suspeição contra ele de forma leviana, tem que ter algum motivo.”
O presidente também afirmou que Milton "nem devia ter sido preso" e que fizeram uma "maldade" ao determinarem a prisão preventiva. Para ele, o objetivo seria manter Ribeiro preso até a campanha. O presidente não deu detalhes. Por fim, reforçou que continua "acreditando" no seu ex-ministro.
“Então prenderam o Milton, prenderam os demais pastores. Bem, hoje o desembargador do TRF de Brasília concedeu a liminar e o Milton aí vai responder em liberdade. Nem devia ter sido preso. E olha a maldade: tem a prisão preventiva e a temporária. Deu logo a preventiva, para ficar preso ali até a campanha, quando acabar as eleições daí ia ser posto em liberdade. Essa seria ideia se nós não tivéssemos pessoas isentas, que eu entendo ser a grande maioria no poder judiciário”, disse Bolsonaro.
“Continuo acreditando no Milton, se aparecer alguma coisa, responda pelos seus atos. E assim é em nosso governo. Você pode ver, não foi corrupção da forma que tá acostumada a ver em governos anteriores.”
A estratégia do governo para lidar com a crise provocada pela prisão de Milton Ribeiro, como mostrou a colunista do GLOBO Bela Megale é dizer que a investigação mostra que seria intolerante com a corrupção e que o presidente não interfere na corporação.
O episódio, no entanto, foi considerado um "desastre" por alguns interlocutores do Palácio do Planalto envolvidos na campanha à reeleição do presidente, como o GLOBO mostrou nesta quarta-feira. A estratégia adotada por integrantes do governo foi a de tentar blindar Bolsonaro, com o discurso de que, além de ter demitido o então ministro quando o caso foi revelado, ele não agiu para proteger o aliado das investigações.
Em declaração à colunista Bela Megale, do GLOBO, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, admitiu que a prisão representa um revés na corrida do titular do Planalto por um novo mandato, mas voltou a recorrer à comparação com o governo petista para tentar descolar o pai das denúncias envolvendo o ex-chefe da pasta da Educação.
Entenda as suspeitas no MEC
A atuação dos pastores na pasta foi revelada em março, pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, que mostrou como os religiosos prometiam a prefeitos facilitar a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em troca de propina.
Prefeitos abordados pela dupla admitiram ao GLOBO que os pastores cobravam propina até mesmo por meio da compra de Bíblias. Em um áudio revelado pelo jornal “Folha de S. Paulo”, na época em que o caso foi divulgado, Ribeiro afirma que a prioridade dada a Santos e Moura foi um pedido do próprio presidente. Em depoimento dado à PF no dia 31 de março, o ex-ministro confirmou que Bolsonaro pediu que ele recebesse Santos.
Como revelou o GLOBO em abril, os pastores tinham amplo acesso à cúpula do governo. Moura esteve 35 vezes no Palácio do Planalto desde o início do governo Bolsonaro, enquanto Santos foi à sede do Executivo dez vezes no mesmo período.
O prédio do MEC foi um dos locais de buscas em Brasília. O atual ministro da pasta, Victor Godoy, ocupava o posto de secretário executivo de Ribeiro, ou seja, o número dois do MEC. Em entrevista ontem, defendeu punição “a todos aqueles que tenham praticado irregularidades”.
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