A Polícia Civil de Atalaia do Norte vai ouvir na manhã desta sexta-feira a mulher de Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, principal suspeito pelo desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Agentes da Polícia Federal irão acompanhar o depoimento.
De acordo com o delegado Alex Perez, a mulher faz parte de uma lista de oito pessoas consideradas suspeitas até o momento de envolvimento com o caso, ainda que na condição de testemunha.
"O Amarildo disse em seu depoimento que passou o dia todo com a mulher na data do desaparecimento de Bruno e Dom. Vamos averiguar se há aí alguma contradição", disse Perez ao GLOBO.
O nome da mulher não foi informado. Ela foi trazida pelos policiais civis para dormir na cidade na tarde de ontem.
Prisão temporária
A juíza Jacinta Silva dos Santos determinou nesta quinta-feira a prisão temporária por cinco dias de Pelado. Na mesma data, os procuradores dos municípios de Atalaia do Norte e Benjamim Constant, Ronaldo Caldas e Davi Barbosa de Oliveira, abandonaram a defesa de Amarildo.
A Prefeitura de Atalaia do Norte, no Amazonas, afirmou nesta quinta-feira que não tem relação com Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, considerado pela polícia o principal suspeito do desaparecimento da dupla, no Vale do Javari. Em nota, a Prefeitura afirma que Caldas "foi procurado pela família" para defender Pelado, pois ele "também atua como advogado particular". O comunicado também diz que "o serviço não tem qualquer relação com a gestão municipal".
Pelado também era defendido pelo procurador de Benjamim Constant, cidade vizinha a Atalaia do Norte. Trata-se do advogado Davi Barbosa de Oliveira. A contratação dos dois profissionais chamou a atenção dos investigadores.
Uma testemunha considerada chave afirmou que viu Amarildo da Costa de Oliveira, o Pelado, carregar uma espingarda e fazer um cinto de munições e cartuchos pouco depois que o indigenista Bruno Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips deixaram a comunidade São Rafael com destino à Atalaia do Norte, na manhã do último domingo. O GLOBO teve acesso ao relato.
De acordo com a narrativa da testemunha, Pelado, a quem se referiu como “homem muito perigoso”, já vinha prometendo “acertar contas” com Bruno e afirmou que iria “trocar tiros” com ele tão logo o indigenista aparecesse no local.
Logo depois que Bruno e Phillips deixaram a comunidade, um colega de Pelado foi visto em seu barco com o motor ligado em ponto morto, à espera dele, e outra pessoa deitada no barco, perto de onde Bruno e Phillips supostamente desapareceram. A testemunha contou ainda que, logo mais abaixo do rio Itaquaí, Pelado foi novamente visto no barco, desta vez com mais quatro pessoas passando em alta velocidade. Depois disso, não foi visto mais. Ela disse ainda que não “resta dúvidas” de que ele e os demais foram atrás da embarcação para fazer “algo de ruim” contra o barco do indigenista e do jornalista.
O relato da testemunha, que deve ser colocado em um programa de proteção, coincide com a revelação do GLOBO de que policiais militares que prenderam Pelado, nesta terça-feira, confirmaram que a lancha do suspeito foi vista perseguindo o barco do indigenista e do jornalista logo depois que eles deixaram a comunidade São Rafael. Pelado foi preso e trazido para a cidade na própria lancha.
Sangue em lancha
As polícias Civil e Federal concluíram nesta quinta-feira a perícia na lancha de Pelado, e encontraram "muitas amostras" de sangue, mas não há ainda informação sequer se seriam vestígios humanos ou de animais.
Testemunhas relataram aos investigadores que Pelado usou sua lancha para perseguir Phillips e Pereira no leito do Rio Itaquaí. Os dois desaparecidos viajavam com uma embarcação nova, com motor de 40 HP e 70 litros de gasolina, o suficiente para a viagem, e 07 tambores vazios de combustível. Mas a lancha de Pelado é mais veloz.
O suspeito foi preso nesta quarta-feira. Ele foi detido e trazido para a cidade de Atalaia do Norte na sua própria lancha.
Em nota, a PF afirmou ter confirmado com um perito que foram encontradas amostras de sangue na lancha que pertence a Pelado. "A Polícia Federal confirmou que a amostra foi localizada após inspeção na lancha, com uso de luminol. Além disso, amostras de digitais foram colhidas para serem confrontadas com as digitais dos dois desaparecidos", diz o texto.
Material genético foi solicitado pela Polícia Federal aos familiares dos desaparecidos para o prosseguimento da investigação.
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