A irmã de Genivaldo de Jesus Santos, que foi morto em "câmara de gás" no porta-malas de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), em Umbaúba (SE), se perguntou o que teria acontecido se ele fosse um homem branco naquela mesma situação, ao ser abordado de forma brutal por não usar capacete.
"São uns marginais, uns assassinos a sangue frio. O que eles fizeram ali foi só para fazer a crueldade. Eu não sei se foi porque o meu irmão é pobre e negro, entendeu? Depois eu vendo aqueles vídeos eu achei que ali foi um preconceito total. Se fosse um branco não aconteceria aquilo ali", disse Demarise de Jesus Santos em entrevista à Folha de S. Paulo publicada nesta terça-feira.
Em 25 de maio, Genivaldo foi detido, agredido e fechado no porta-malas da viatura da PRF com uma bomba de gás lacrimogêneo. Ele morreu antes de chegar ao hospital. Ele deixou mulher e um filho e oito anos.
Sobrinho diz que avisou aos agentes sobre transtornos mentais de Genivaldo
O sobrinho da vítima, Wallison de Jesus, diz que avisou aos policiais que o tio tinha transtornos mentais. Ainda de acordo com ele, os agentes encontraram uma cartela de um medicamento controlado no bolso do tio, que fazia tratamento para esquizofrenia há cerca de 20 anos. Também segundo a família, Genivaldo era aposentado em virtude dessa condição.
Wallison relata que o tio ficou nervoso e perguntou o que tinha feito para ser abordado. No BO os policiais dizem que ele ficava passando a mão pela cintura e pelos bolsos e não obedecia às suas ordens e que, por isso, precisaram contê-lo.
Polícia Federal investiga
Os agentes da PRF relataram que utilizaram "espargidor de pimenta e gás lacrimogêneo" na abordagem que culminou com a morte. Segundo os policias, as técnicas eram as "únicas disponíveis no momento" e se configuram como "tecnologias de menor potencial ofensivo". As informações constam do Boletim de Ocorrência.
O documento registra ainda que a vítima "possivelmente" estava "em surto psicótico", "dada a distorção de realidade apresentada e à insensibilidade a todos os meios de contenção empregados". E que sofria de "problemas psicológicos e fazia uso de medicamentos controlados".
O caso é investigado pela Polícia Federal de Sergipe, e o Ministério Público Federal acompanha.
Imagens que flagraram a ação mostram Jesus dos Santos sendo algemado no chão e mantido preso no porta-malas da viatura, onde é detonada uma bomba de gás lacrimogênio. Ele chega a gritar e se debater dentro do veículo, com as pernas pendendo para fora.
Policiais envolvidos na ação foram afastados
Na avaliação dos policiais, Santos teria morrido "possivelmente devido a um mal súbito" que foi "desvinculada da ação policial legítima", diz o texto. Segundo o Instituto Médico Legal (IML) de Sergipe, Genivaldo morreu por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda.
Em nota, a PRF informou que está "comprometida com a apuração inequívoca" e que "instaurou processo disciplinar" para apurar a conduta dos agentes, que foram "afastados das atividades de policiamento".
O escritório de Direitos Humanos da ONU para a América do Sul emitiu um comunicado em seu site cobrando das autoridades brasileiras uma investigação "célere e completa", sobre a morte de Genivaldo.
“A morte de Genivaldo, em si chocante, mais uma vez coloca em questão o respeito aos direitos humanos na atuação das polícias no Brasil”, disse o chefe do escritório, Jan Jarab.
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