Governo debate sobre participação de Bolsonaro na cúpula das Américas

Itamaraty prepara viagem aos EUA. Brasil está envolvido na elaboração de documentos importantes que serão discutidos no encontro

Itamaraty prepara viagem aos EUA, enquanto governo debate sobre participação de Bolsonaro na cúpula das Américas
Foto: Isac Nóbrega/PR
Itamaraty prepara viagem aos EUA, enquanto governo debate sobre participação de Bolsonaro na cúpula das Américas

O presidente Jair Bolsonaro ainda não decidiu, mas o Itamaraty trabalha com o cenário de uma participação do chefe de Estado na próxima cúpula das Américas, que será realizada em Los Angeles, no início de junho. O martelo será batido pelo Palácio do Planalto, mas enquanto aguardam uma definição política, a ala diplomática do governo trabalha na preparação da viagem que, se ocorrer, poderia incluir a primeira reunião bilateral entre Bolsonaro e o presidente americano, Joe Biden.

Na avaliação de fontes diplomáticas, um encontro de alto nível entre autoridades dos dois países seria positivo para ambos. Daria, aos EUA, peso e relevância a uma cúpula que corre sério risco de ser esvaziada por países como México e Argentina, cujos presidentes poderiam não comparecer em gesto de repúdio à decisão do governo americano de não convidar os governos de Cuba, Venezuela e Nicarágua. 

Já para o Brasil, avaliaram as fontes, seria uma boa oportunidade de virar a página dos desencontros com a administração Biden, iniciados a partir do momento em que Bolsonaro demorou em parabenizar a eleição do chefe de Estado americano e, mais ainda, aderiu às teorias de fraude eleitoral levantadas pelo ex-presidente Donald Trump.

O eventual esvaziamento da cúpula preocupa a ala diplomática. Se os presidentes de países importantes da região como Argentina e México de fato não forem, isso poderia pesar na decisão final do Brasil.

Por outro lado, comentaram outras fontes do governo, está claro que para a ala política um encontro com Biden não é visto como um acontecimento que possa beneficiar Bolsonaro, já em plena campanha eleitoral. Pelo contrário. Para alguns setores do governo, o presidente brasileiro ficaria muito exposto nos EUA, e poderia acabar sendo alvo de questionamentos sobre seus recentes ataques ao processo eleitoral e ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A primeira Cúpula das Américas foi realizada em 1994, e o encontro de Los Angeles será sua nona edição. A última ocorreu em abril de 2018, em Lima, no Peru, e o então presidente Donald Trump cancelou sua participação na última hora.

Esta nova reunião despertou expectativas sobre a recomposição das relações entre os EUA e a América Latina, mas a falta de propostas concretas do governo americano para a região e, agora, a possibilidade de que vários presidentes acabem não indo, reduziu ao mínimo as expectativas de que possa haver um relançamento da cooperação e integração regional.

Abaixo dos presidentes do Brasil e dos EUA, as relações bilaterais adotaram uma agenda positiva, apesar das tensões provocadas após a eleição de Biden. Na recente visita da subsecretária de Estado americana, Victoria Nuland, a Brasília, as conversas, informaram fontes brasileiras, fluíram com cordialidade e espírito de trabalho em conjunto. Abriu-se o caminho para a recomposição do vínculo e um encontro entre os presidentes, avaliaram as fontes, seria muito positivo nesse sentido.

Mas nem todos os setores do governo Bolsonaro estão de acordo, e a decisão final ainda é uma incógnita, até mesmo para o Itamaraty. 

Em recente entrevista à BBC News, Nuland afirmou que seu país confia no sistema eleitoral brasileiro, classificado por ela como “um dos mais fortes da América Latina”.  A alta funcionária americana também assegurou que a população brasileira deve “ter confiança” nas eleições do país que, segundo ela, precisam ser “livres e justas”. 

Semana passada, Bolsonaro chegou a afirmar que contrataria uma empresa privada para fazer uma auditoria das eleições. Suas declarações causaram preocupação na comunidade internacional, embora fontes diplomáticas estrangeiras assegurem que confiam nas instituições brasileiras e acreditam que, finalmente, o processo eleitoral acontecerá sem sobressaltos. 

Enquanto o presidente brasileiro não define se viaja ou não a Los Angeles - ou se o Brasil será representado pelo chanceler Carlos França e o vice-presidente Hamilton Mourão -, o governo, através do Itamaraty, participa da discussão de cinco documentos centrais com os demais participantes, além de outros acordos em paralelos, entre outros assuntos, sobre imigração, tema sensível e prioritário para o governo americano.

Entre no  canal do Último Segundo no Telegram e veja as principais notícias do dia no Brasil e no Mundo.